BofA vê real barato e recomenda compra da moeda com “financiamento” em iene; entenda

Posição mais dura do BC, valorização do petróleo sustentam recomendação

Vitor Azevedo

Brazilian Real 100 BRL banknote. Brazil money note currency. 3D illustration abstract concept of business, economy, finance, crisis and banking.

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O time de analistas do Bank of America recomendou, em relatório divulgado nessa quarta-feira (24), a compra da compra do real, moeda brasileira, utilizando o iene japonês para financiamento. Segundo a equipe, liderada por Ezequiel Aguirre, a divisa brasileira atualmente está barata e deve se beneficiar dos diferenciais de juros e do crescimento econômico do Brasil.

Em primeiro lugar, a equipe de análise cita o fato de o Banco Central brasileiro ter “mudado recentemente o seu tom para uma postura mais hawkish”. Na sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) retirou a indicação de que realizará cortes futuros, sinalizando que a próxima reunião pode ser a última com baixa da Selic.

“O presidente do BC Roberto Campos Neto destacou o cenário global mais desafiador em meio a discussões sobre taxas mais altas por mais tempo nos EUA, enquanto enfatizava que a orientação de corte de taxa de 50 pontos-base está sujeita a reavaliação se as circunstâncias mudarem”, contextualiza o BofA. “As taxas reais de referência do Brasil já são as mais altas da América Latina e continuarão sendo até o final deste ano, segundo nossas previsões”.

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Fora isso, o banco diz acreditar também que o crescimento econômico brasileiro “continuará surpreendendo positivamente”, apesar das recentes atualizações das previsões de consenso. “A baixa inflação e um mercado de trabalho apertado estão levando a ganhos salariais reais, o que impulsionará o consumo” debate. 

Já os riscos políticos, na visão deles, diminuíram. Eles citam, como exemplo disso, a chegada a um acordo entre a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o conselho da Petrobras para o pagamento extraordinário de 50% dos dividendos.

O BofA enxerga também que os recentes problemas levaram a uma desvalorização do real, que agora tornou-se uma moeda relativamente barata. Eles mencionam que os fundos locais, que eram comprados líquidos em real na ordem de US$ 16 bilhões no final de janeiro, reduziram essas posições pela metade, para US$ 8 bilhões.  Já os fundos estrangeiros permanecem bastante líquidos em dólar.

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Por fim, a instituição financeira expõe que o real pode se beneficiar de preços do petróleo mais altos – tendência que eles mencionam existir historicamente. Por ser um produtor da commodity, o Brasil, nessa situação, registra uma melhora da sua balança comercial. O BofA menciona ver o barril em US$ 90 no seu cenário base, tendendo para cima a depender de como a guerra no Oriente Médio se estender.

Fora isso, um petróleo mais alto tende a também enfraquecer o iene pelo lado do fluxo. Uma alta da commodity tende levar o Federal Reserve a manter suas taxas de juros mais elevadas, levando capital para os Estados Unidos, sendo que o país, usualmente, é um competidor direto do Japão entre as opções de investidores.

Por fim, há também o fato de a política monetária do Japão, atualmente, ser considerada muito expansionista.  

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Os dois riscos mais importantes para a operação são uma posição intervenção maior de Lula e a potencial intervenção do Japão nos mercados cambiais. “No Brasil, quaisquer novas quedas na popularidade do presidente Lula poderá levá-lo a considerar intervir em empresas estatais para aumentar os gastos, empréstimos e subsídios”, piorando os saldos orçamentais”, enquanto a política monetária no Japão é um risco para a operação em relação ao iene.

“No Japão, os principais riscos são que o banco central possa fazer uma alta adicional dos juros até junho e o Ministério das Finanças possa intervir diretamente nos mercados cambiais, o que limitaria a depreciação do iene”, avalia.