BofA mantém visão otimista em ações do Brasil e aponta desconexão entre “histórias macro e micro”

Banco destaca PIB foi forte, mas empresas lutando para subir lucros, enquanto há ruídos políticos; JPMorgan vê pontos de cautela recentes entre investidores

Mitchel Diniz

(Getty Images)
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A equipe de estrategistas do Bank of America (BofA) diz que a performance negativa do mercado brasileiro, com uma queda de 5% do Ibovespa em agosto, foi exagerada. O banco manteve sua avaliação overweight, acima da média, para ativos do Brasil, dentro do seu portfólio de América Latina, ainda que reconheça o impacto negativo do risco fiscal e incertezas políticas.

“A necessidade de receitas para alcançar metas fiscais deve continuar pressionando as corporações no Brasil”, diz o relatório do BofA, que menciona a proposta sobre fim dos juros sobre o capital próprio (JCP) e a possível eliminação de incentivos fiscais.

No entanto, o banco destaca o desempenho da atividade econômica no segundo trimestre de 2023, impulsionada por uma recuperação nos investimentos.

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O BofA diz ainda que os benefícios do ciclo de alívio monetário ainda estão por vir. “O mercado não está mais precificando uma aceleração no ritmo de corte de juros. Na verdade, as tendências positivas de crescimento econômico reforçam uma falta de espaço para essa aceleração”, afirmam os estrategistas do banco.

Neste sentido, o banco aponta que há uma desconexão entre o macro e o micro. “Outra camada de preocupação é a desconexão entre as histórias macro e micro. A atividade foi forte no 2T (com o PIB subindo 0,9% na base trimestral, acima do esperado), impulsionada por uma recuperação nos investimentos, enquanto o setor empresarial luta para apresentar crescimento dos lucros”, avalia.

A equipe avalia que há espaço para que as empresas da Bolsa negociem a múltiplos maiores e que as ações devem atrair mais investidores quando a Selic chegar a 10%.

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Em relação ao seu portfólio, o BofA afirma gostar de manter exposição em nomes e setores sensíveis a juros. O banco removeu Totvs (TOTS3) e substituiu por Locaweb (LWSA3), esperando melhores tendências operacionais para a companhia nos próximos trimestres.

Também adicionou exposição ao setor de energia, esperando que o preço do petróleo fique em US$ 90 em 2024, aposta acima do consenso do mercado. O BofA elevou a exposição da Petrobras (PETR3;PETR4) de underweight para marketweight; o banco possui recomendação de compra para o papel.

No setor de mineração, o BofA se manteve neutro em Vale (VALE3), a espera de estímulos mais efetivos à economia chinesa.

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Visão de investidores sobre o mercado brasileiro

Já após conversa com investidores institucionais no Rio de Janeiro na semana passada, o JPMorgan destacou que eles continuam vendo oportunidade para o mercado brasileiro, mas recentes desdobramentos (inclusive na política) têm pesado negativamente sobre o sentimento.

De acordo com a estrategista de ações do banco para Brasil e América Latina, Emy Shayo Cherman, o mercado vinha trabalhando há meses com a ideia de que a meta fiscal não seria alcançada e reconhece que os ruídos sobre o tema aumentaram.

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“Os investidores continuam a ver tendência de alta para os mercados, baseada em juros mais baixos e no valuation [das empresas], mas questões políticas pesaram sobre o sentimento”, escreveu. Um dos gatilhos para os temores foi o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2024, encaminhado pelo governo ao Congresso na última quinta-feira.

Mas a estrategista do JPMorgan enumera outras razões para a piora do sentimento, como a proposta de extinguir  a distribuição de proventos via juros sobre capital próprio (JCP) e a Medida Provisória 1.185 que altera a tributação federal dos incentivos fiscais.

“Ambas as medidas são danosas para as empresas. Também solidifica a estratégia do governo em fazer um ajuste fiscal com base em receitas mais elevadas, o que os investidores veem como algo pontual”, observa Emy Shayo.

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A estrategista também chama atenção para o volume reduzido de negociações no mercado e ausência de dinheiro novo. “Os estrangeiros se retiraram em agosto e é improvável que façam realocações antes que haja maior visibilidade sobre o rendimento do Tesouro”, afirma.

Em relação aos investidores locais, o JPMorgan observa que os resgates terminaram, mas é pouco provável que haja dinheiro novo até que os juros da economia caiam ao patamar de um dígito. “Alguns argumentam que o mercado já precificou o alívio monetário”, diz a estrategista do banco. “Também há questões sobre o quanto o Brasil pode cortar, considerando o nível dos juros nos Estados Unidos”.

O JPMorgan, aliás, atribui o recuo dos mercados em agosto quase que inteiramente ao cenário global, salientando que há bastante preocupação. A avaliação do banco e de alguns de seus clientes é de que os mercados vão ter dificuldades para se movimentar enquanto os juros nos EUA não baixarem.

Também há questionamentos sobre o chamado “pouso suave” ao qual o Federal Reserve vem se referindo, já que os efeitos do aperto monetário levam tempo para serem sentidos.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados