Bitcoin apaga perdas com FTX e sobe 7 vezes mais do que ações e commodities: o que esperar agora?

Bitcoin vem de alta semanal de 22%, contra pouco mais de 3% nos índices MSCI World e Bloomberg Commodity

Paulo Barros

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Após amargarem forte queda em 2022, as criptomoedas iniciaram um movimento acentuado de retomada na semana passada, puxado pela recuperação do Bitcoin (BTC), benchmark do setor. A moeda digital rompeu os US$ 17 mil há sete dias e, desde então, registra rali que já alcança ganhos na casa dos 22%, cotado perto de US$ 21 mil. O Ethereum (ETH) seguiu caminho parecido e acumula alta de 20% no período, operando US$ 1.540 na tarde desta segunda-feira (16).

O movimento veio na esteira de um ambiente externo mais favorável, com investidores mais otimistas quanto à proximidade do fim do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos após o dado de inflação referente a dezembro mostrar recuo.

“Todos os ativos de risco, como ações e criptomoedas, são muito sensíveis à taxa de juros americana que, por sua vez, é muito sensível à inflação. Como o índice de preços dos EUA recuou em dezembro, dentro das expectativas do mercado, houve uma retomada de apetite por risco pelos investidores, o que explica a alta das criptomoedas na última semana”, explica Rodrigo Batista, CEO da corretora de criptomoedas Digitra.

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No entanto, o tamanho da alta em commodities e ações (algumas que, como o BTC, também vêm de perdas de mais de 60% em 2022) foi muito mais tímido. O índice MSCI World, que mede o desempenho dos papeis de 1.500 empresas globalmente, subiu 3,24% em uma semana, e o Bloomberg Commodity Index avançou 3,21% no período – o Bitcoin, portanto, valorizou quase sete vezes mais.

A distância é ainda maior para o ouro, que valorizou 2,92% nessa janela, e para o índice S&P 500, que registrou ganhos de 2,67%. Nesse caso, o upside do Bitcoin passa de oito vezes.

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Desempenho percentual do Bitcoin frente a ouro, dólar e índices de ações e commodities (CoinDesk). Dados de: Bloomberg, CoinMarketCap

A amplitude dessa diferença tem a ver com o caráter conhecidamente volátil dos criptoativos, mas também está ligado a outros elementos. Em um marasmo há semanas, preso na região dos US$ 16.400 e US$ 17.000, o Bitcoin se beneficiou da volta do apetite do investidor em um momento em que, segundo especialistas, as vendas de BTC “secaram”, restando praticamente apenas os traders que operavam alavancados à espera de uma queda mais profunda.

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No final das contas, esses traders acabaram contribuindo para um movimento de alta mais contundente. Segundo dados da plataforma Coinalyze, corretoras liquidaram US$ 500 milhões de traders que foram obrigados a fechar posições forçadamente quando o mercado subiu.

“Os stops dos vendidos foram significativos, e o vendido é a gasolina da alta. Quanto mais vendido estiver o mercado, mais fácil vai reverter”, comenta Alexandre Vasarhelyi, gestor de portfólio e sócio da BLP Crypto. Para ele, o retorno da volatilidade é positivo. “2022 foi calmo demais, de mais baixa volatilidade que eu vi nos últimos cinco anos”.

A alta do Bitcoin na última semana está longe de ser inédita, mas algo do tipo não acontecia faz tempo, desde desde fevereiro de 2021. Naquele mês, o BTC disparou mais de 25% quando veio à tona que a Tesla havia adquirido a criptomoeda como parte de sua estratégia de tesouraria.

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Dessa vez, o movimento é resultado do alívio do estresse instalado pela inesperada falência da corretora FTX, em novembro: o Bitcoin recuou 21,99% na pior semana da crise, e recuperou 22% neste começo de 2023. As perdas apagadas ficam evidente no gráfico semanal da criptomoeda.

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Gráfico semanal do Bitcoin (Reprodução/TradingView)

“O que estamos vendo é uma retomada dos preços pré-crise da FTX, mostrando que o mercado digeriu e tende a estar menos preocupado com crises internas do setor, que não mudam os fundamentos das moedas”, explica José Artur Ribeiro, CEO da Coinext.

Mas não foi só o Bitcoin que subiu, criptomoedas menores também acompanharam o rali e algumas das chamadas altcoins simplesmente explodiram de valor: nos últimos sete dias, Aave (AAVE) subiu 31%, Avalanche (AVAX) e Sandbox (SAND) saltaram perto de 40%, e a Solana (SOL) valorizou quase 60% após já ter dobrado de valor dias antes.

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A Decentraland (MANA), que levantou voo na sexta-feira (13) após o anúncio de novidades no projeto de metaverso, acumula alta semanal de 83%. Já a Aptos (APT), que ficou famosa por ser apoiada por fundos do Vale do Silício, mas decepcionou na estreia, mais do que dobrou de preço desde segunda-feira passada, ganhando 106%.

“A gente já viu o Bitcoin subir sozinho muitas vezes, mas dessa vez não [foi isso que aconteceu]. Do nosso fundo, o BTC é só o 12º que mais subiu”, conta Vasarhelyi. “É mais saudável do que se fosse somente o Bitcoin”.

O que vem pela frente – vale a pena comprar?

Analistas gráficos de criptos apontam que a alta de curto prazo pode ter se esgotado, com o Bitcoin perdendo fôlego perto de um preço considerado uma resistência, ou seja, de forte interesse pela venda. Perto de US$ 21 mil, traders começaram a abrir posições vendidas (short) para surfar uma possível realização de lucros.

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No entanto, investidores que miram um prazo mais esticado começam a ver bons sinais ao se debruçarem sobre o comportamento de players de grande porte no mercado de derivativos.

Dados da plataforma Amberdata mostram que a quantidade de contratos de opções de compra (calls) de Bitcoin superou os de venda (puts) pela primeira vez desde o começo de 2021, indicando um maior apetite por proteção contra uma alta desenfreada da moeda digital. As datas de vencimentos dos contratos sugerem que esses investidores esperam por uma alta de preços pelos próximos seis meses.

O movimento também reforça a tese de que o fundo de mercado possa, enfim, ter chegado, caso não haja uma nova crise como a da FTX pela frente. “Para mim isso [o fundo] está dado”, afirma o gestor da BLP, ressaltando que uma subida mesmo diante de dúvidas sobre a sustentabilidade da gigante do setor Digital Currency Group, dona da gestora Grayscale, deve ser encarada como positiva.

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Rodrigo Batista, da Digitra, lembra que é praticamente impossível cravar momentos de virada de humor dos mercados e, que, por isso, o melhor a fazer é construir uma exposição a criptomoedas aos poucos, utilizando a famosa técnica do preço médio.

Mas, o momento parece mais favorável para voltar a reservar um espaço para o Bitcoin na carteira de investimento. De um lado, especialistas esperam por um movimento prolongado de alta já em preparação para o próximo evento de corte na emissão do ativo, conhecido como halving, previsto para março do ano que vem.

“Baseado no histórico, o mercado começa a precificá-lo antes. Considerado isso, a expectativa é que ainda este ano teremos subidas mais consistentes, ainda que com certa volatilidade. Também pelo histórico, outras moedas acabam acompanhando, em menor ou maior nível, as variações do Bitcoin”, conta Ribeiro, da Coinext.

De outro, investidores também acompanham de perto um evento técnico muito levado em conta para calls em Wall Street e que acaba de acontecer no Bitcoin pela primeira vez desde abril. “O investidor de médio prazo [olha] para o clássico, o rompimento da média móvel de 200 dias, para começar a comprar. Acabou de romper”, diz Vasarhelyi.

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Paulo Barros

Editor de Investimentos