BB (BBAS3), Itaú (ITUB4), Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC4): o que esperar dos resultados dos “bancões” no 1º tri?

Deterioração da qualidade dos ativos deve dominar discussões, com o mercado de olho na inadimplência; analistas destacam que BB deve ser destaque positivo

Lara Rizério

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O setor de bancos é um dos primeiros a divulgar os números do primeiro trimestre de 2022 (1T22), com o Santander Brasil (SANB11) estreando a temporada do setor ao revelar seus números no próximo dia 26, antes da abertura dos mercados.

De acordo com o Bradesco BBI, a deterioração da qualidade dos ativos deve dominar as discussões e deve ter precedência sobre a forte evolução da receita líquida com juros (NII) no trimestre. Para os analistas, os primeiros sinais de quão severo pode ser o cenário para os bancos brasileiros devem começar a se materializar no período.

“De fato, acreditamos que as provisões gerais devem aumentar em resposta a um potencial aumento nas taxas de inadimplência. Por outro lado, estimamos que as margens dos bancos com clientes possam apresentar resultados mais fortes, suportados por um melhor mix, enquanto as receitas de tarifas devem estar pressionadas pela sazonalidade relacionada ao 1T22 e quarto trimestre de 2021 (4T21)”, avaliam.

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Eles também esperam que os ganhos comerciais dos bancos ainda compensem parcialmente o crescimento da receita devido ao aumento da taxa Selic, enquanto as despesas operacionais podem ser outro ponto de atenção não apenas no 1T22, mas também para todo o ano.

Tendo em vista que estão mais negativos para os bancos brasileiros em geral no 1T22, os analistas avaliam que o Banco do Brasil (BBAS3) deve apresentar o melhor conjunto de resultados entre os bancos brasileiros de grande capitalização. Já entre os menores, Banco Pan (BPAN4) continua apresentando deterioração na qualidade dos ativos, enquanto as margens financeiras podem permanecer sólidas. Já o ABC (ABCB4) pode apresentar outro sólido conjunto de resultados, enquanto o Banrisul (BRSR6) permanecerá pouco inspirador no 1T22.

O Itaú BBA também comparte da visão de crescimento acima do esperado da inadimplência no segmento de varejo, além de observarem um crescimento mais lento da carteira de crédito. “Em termos líquidos, o desempenho do trimestre não deve afetar as projeções para os lucros no ano como um todo, mas a sua composição sim”, avaliam os analistas, que acreditam que isso pode gerar incertezas, principalmente para o Bradesco, com maior NII e despesas de provisão.

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O ritmo de consumo do índice de cobertura (que representa a proporção que a provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos inadimplentes) pode acelerar e os bancos podem ter que aumentar as suas provisões posteriormente, avalia o BBA, que destaca recomendação em Banco do Brasil, com carteiras de crédito de maior qualidade – e com maior resiliência.

Leia mais: Confira o calendário de resultados do 1º trimestre de 2022 da bolsa brasileira

Para o Goldman Sachs, os bancos devem manter as mesmas tendências operacionais sólidas do 4T21 (crescimento de empréstimos, melhor mix) compensadas por uma alta gradual da inadimplência e provavelmente menores índices de cobertura. Em suma, espera que o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês) se mantenha em relação ao 4T21.

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O Goldman também aponta esperar que o Banco do Brasil apresente a mais forte melhora anual nos resultados entre os bancos brasileiros, apesar de apresentar um resultado trimestral estável. “Observamos que nosso lucro líquido esperado para o Banco do Brasil no 1T22 é 11% superior ao consenso da Bloomberg”, avalia.

O UBS BB ressalta que a qualidade dos ativos será o grande catalisador para a temporada, destacando que deve haver  uma deterioração no 1T22, enquanto acredita que o índice de inadimplência pode voltar ao nível pré-Covid até o final de 2022.

Os analistas também apontam que algumas questões podem ser respondidas, como o guidance (projeção) divergente para 2022 entre Bradesco e Itaú, que foi significativo. “Por exemplo, assumimos que a margem de cliente do Bradesco poderia expandir acima do ponto médio de seu guidance. Além disso, teremos uma noção da magnitude do impacto positivo dos ganhos de capital de giro para o Itaú Unibanco”, avaliam. Já em relação ao Santander Brasil, “acreditamos que as margens de seus clientes podem apresentar bons desempenho, mas a serem compensadas por margens de mercado, que podem contrair materialmente após vários anos de números sólidos”, avaliam.

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Já para os bancos digitais, destacam que podem continuar expandindo suas bases de clientes (embora esperem alguma desaceleração sequencial). O custo de capital do Nubank (NUBR33) e do Inter (BIDI11), por sua vez, pode aumentar consideravelmente no 1T22. Por outro lado, prevemos uma maior expansão de sua Receita Média Mensal por Cliente Ativo (ou ARPAC, na sigla em inglês).

Confira abaixo as projeções para os maiores bancos listados na B3:

Santander Brasil (SANB11) – divulgação em 26 de abril, antes da abertura 

Para o Goldman Sachs, os lucros do Santander Brasil devem seguir relativamente estáveis em relação ao trimestre anterior, em R$ 3,9 bilhões, uma vez que as provisões devem aumentar devido a sinais modestos de deterioração da qualidade dos ativos. O crescimento da margem financeira deverá ser inferior ao crescimento dos empréstimos, uma vez que as taxas de juro mais elevadas deverão ter um impacto negativo nos custos de financiamento. Enquanto isso, esperam que as taxas caiam no trimestre devido à sazonalidade, mas com um crescimento modesto de 5% no comparativo anual.

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As despesas operacionais também devem cair na comparação trimestral devido à sazonalidade, aponta o Goldman, mas devem subir anualmente devido a maiores despesas com pessoal. Por fim, esperam que a alíquota efetiva de imposto aumente para 34,1% de 30,7% no 4T21.

O Bradesco BBI também espera um lucro de R$ 3,9 bilhões do Santander, projetando ainda que o resultado com NII deve contrair 3,8% na variação trimestral (+1,4% na variação anual), devido à desaceleração da atividade geral no trimestre, enquanto a carteira de crédito do Santander provavelmente seguirá amplamente estável, à medida que o banco se torna mais cauteloso em relação à originação, e os ganhos de tesouraria devem cair 57,1% na variação trimestral (-64,8% na variação anual). Contudo, também veem potenciais riscos que poderiam levar à pressão sobre os ganhos comerciais para se deteriorar ainda mais.

No entanto, a margem do banco com clientes em +3,7% na variação trimestral (+13,9% na variação anual) deve compensar parcialmente o desempenho de tesouraria mais fraco. Enquanto isso, esperam que, tanto despesas de provisão quanto NPLs (taxa de inadimplência) devem ficar estáveis na variação trimestral, com potencial de alta para taxa de inadimplência.

Os analistas não esperam que o índice de cobertura seja consumido no trimestre, atingindo 230% (versus 217% no 4T21). Ainda assim, acreditam que as receitas de tarifas devam encolher 11,1%, devido à menor transacionalidade do 4T21. Por fim, espera-se que as despesas operacionais contraiam 10,5% na variação trimestral (+0,4% na variação anual), uma vez que o 4T21 pode ter maior impacto dos reajustes salariais.

Para o Safra, o Santander Brasil deve apresentar resultados medianos no 1T22, em função da forte queda do NII com o mercado e da normalização do custo da linha de crédito. Como resultado, o lucro líquido pode ficar estável em relação ao ano anterior, em R$ 3,931 bilhões, representando um retorno sobre o patrimônio médio (ROAE) de quase 20%.

Bradesco (BBDC4) – divulgação em 5 de maio, depois do fechamento

O Itaú BBA projeta um lucro de R$ 6,7 bilhões no trimestre para o Bradesco, com um ROE de 17,8%. Projetando ganhos um pouco maiores, de R$ 6,8 bilhões, com ROAE de 18,3%, o Safra acredita que o banco pode entregar um resultado positivo, esperando um bom desempenho na receita líquida de juros com clientes, com alta de 14,8% na base anual, que também deve crescer acima do volume de crédito da carteira.

Para o Goldman, os bons volumes e a margem líquida de juros (NIM) devem sustentar o ROE do banco. Os analistas esperam estabilidade do lucro, com alta de cerca de 1% frente o quarto trimestre e de 2% na base anual, quando a instituição lucrou R$ 6,6 bilhões. Enquanto isso, espera que o custo do risco permaneça sob controle em 2,7% dos empréstimos, embora deva observar uma deterioração da inadimplência, em linha com as tendências do setor.

As taxas de serviços e as despesas devem ser sazonalmente mais fracas, mas estimam que o crescimento das despesas atinja 10% na base anual, limitando o crescimento dos lucros. No entanto, espera ROE relativamente estável em 17,9%, ante 18,0% no 4T21.

O UBS BB acredita que os resultados do 1T22 serão importantes para o Bradesco, pois podem indicar se o guidance de margem do banco para margens foi conservador. “Esperamos que as margens do cliente se expandam sequencialmente, combinado com maiores provisões e menores taxas e despesas operacionais”, avaliam os analistas.

Itaú Unibanco (ITUB4) – divulgação em 9 de maio, depois do fechamento

O Bradesco BBI avalia que a margem sólida com clientes deve apoiar um lucro um pouco maior para o Itaú, de R$ 7,3 bilhões no 1T22 (alta de 1,8% na variação trimestral e de 13,9% na variação anual) com ROE de 19,8% (versus 20,2% no 4T21 e 18,5% no 1T21). A projeção é de crescimento do resultado com intermediação financeira de 3,4% na variação trimestral e de 17,7% na variação anual, impulsionado por uma sólida margem com clientes em 7,6% na variação trimestral (alta de 32,5% na variação anual) no melhor mix, mais do que compensando o resultado mais fraco de tesouraria (queda de 61,5% na variação trimestral e de 79,7% na variação anual).

“É importante ressaltar que as provisões do banco devem subir 21,7%, enquanto os NPLs devem crescer 0,2 ponto percentual, para 2,7%. Por outro lado, esperamos que as receitas com tarifas se contraiam modestamente em 1,0% na variação trimestral (alta de 6,1% na variação anual), uma vez que o quarto trimestre geralmente se beneficia de maior transacionalidade, enquanto o seguro deve ser um pouco mais fraco na variação trimestral. Além disso, esperamos que as despesas operacionais contraiam 2,2%, apoiadas por ambos os programas de eficiência”, apontam.

Já a projeção do Goldman é de uma alta de 3% do lucro na base trimestral e de 18% na anual, beneficiado por volumes de crédito e NIM, enquanto provisões para perdas e despesas podem ofuscar os números. A projeção é de uma alta nas provisões em 10% na base trimestral e de 65% na anual, com um aumento do custo de risco em 20 pontos-base na comparação trimestral, para 3,3%.

O Safra, assim como o BBI, espera um lucro de R$ 7,3 bilhões, esperando um bom desempenho na NII com clientes (alta de 14,8% na base anual) que também deve crescer acima do volume de crédito da carteira.

Banco do Brasil (BBAS3) – 11 de maio, depois do fechamento

Para o Safra, o Banco do Brasil (BB) deve seguir fechando a distância de rentabilidade com os bancos privados, principalmente pelo sólido desempenho da NII e pela boa contribuição da Previ (plano de previdência). A projeção é de que o lucro líquido avance para R$ 6,2 bilhões (aumento de 27% na base anual), com ROAE de 17,0%.

O Goldman espera que o lucro líquido recorrente permaneça sólido em R$ 5,8 bilhões (queda de 2% na comparação com 4T21, mas alta de 19% na base anual). A projeção é de um crescimento de crédito de 2% na comparação trimestral e 14% na comparação anual, liderado principalmente por linhas de spread mais altas, como empréstimos pessoais e cartões de crédito. Dessa forma, espera que a instituição apresente spreads ligeiramente melhores devido à reprecificação e ao limite de despesas com depósitos de poupança.

Já as provisões para perdas com empréstimos devem ser de R$ 3,4 bilhões no 1T22, implicando despesas anualizadas mais próximas do limite inferior do guidance para o ano inteiro, de R$ 13 a R$ 16 bilhões. Enquanto isso, projeta resultado da Previ (plano de previdência) positivo em R$ 500 milhões no 1T22. “Em suma, nossa projeção de lucro implica em um ROE de 16% no 1T22, que é a mesma rentabilidade que esperamos para o ano de 2022”, ressalta o Goldman.

O Bradesco BBI espera que o Banco do Brasil deva reportar lucro líquido de R$ 6,0 bilhões, praticamente estável no trimestre, e +21,5% na variação anual. O resultado com intermediação financeira mais forte deve ser principalmente suportado pelos ganhos comerciais acelerando para alta de 4,6% na variação trimestral (avanço de 57,7% na variação anual), enquanto a margem financeira com clientes deve permanecer tímida em custos de financiamento mais elevados.

Além disso, as provisões devem a inadimplência deve crescer 0,13 ponto percentual, impulsionada por pessoas físicas, e o índice de cobertura acima do sistema  provavelmente será consumido, atingindo 314% de 325% no 4T21. Ainda assim, as receitas com tarifas do banco devem contrair 4,0% na variação trimestral (9,2% na variação anual) em uma base de comparação difícil, enquanto as despesas operacionais devem compensar parcialmente as tarifas mais fracas na variação trimestral, dados a renovação do quadro de funcionários e os efeitos da inflação, levando a um ROE maior de 16,7% (de 16,6% no 4T21 e 15,1% no 1T21).

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.