Banco Mercantil (BMEB3) tem retorno sobre patrimônio de “bancão” com carteira conservadora, focada em cliente “50+”

Banco está com margens pressionadas por juros altos, mas segue remunerando acionistas e não descarta operações para elevar liquidez

Mitchel Diniz

Gustavo Araújo, CEO do Banco Mercantil, em cerimônia pelos 80 anos do banco

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Com a rápida escalada da taxa de juros da economia, que foi de 2% a 13,75% em menos de dois anos, os bancos precisaram pagar mais caro para captar recursos e foram desafiados a repassar esse aumento de custos ao credito concedido para os clientes.

No caso do Banco Mercantil (BMEB3), essa tarefa foi ainda mais complicada. Da carteira de R$ 12,2 bilhões alcançada no primeiro trimestre de 2023, 80% corresponde a empréstimos consignados (R$ 6,9 bilhões) e antecipação de FGTS via saque-aniversário (R$ 2 bilhões). São modalidades de menor risco, lastreada em títulos soberanos e há um teto para os juros cobrados ao tomador.

Com essa limitação, o custo de funding do Mercantil, que cresceu em R$1 bilhão entre 2021 e 2022, acabou pesando mais forte sobre as margens do banco. “Quando a Selic cair, como temos ativos pré-fixados, a gente deve entrar em um ciclo bastante favorável”, afirma Gustavo Araújo, CEO do banco mineiro.

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O perfil conservador da carteira, por outro lado, contribuiu com uma queda nos índices de inadimplência da instituição financeira, ao contrário do que ocorreu com os bancos incumbentes. No primeiro trimestre, os empréstimos com atrasos acima de 90 dias equivaliam a 2,8% da carteira – muito abaixo da média do Sistema Financeiro Nacional (SFN), de 4.6%.

E ainda que a rentabilidade sobre os empréstimos tenha sido limitada, isso não impediu que o Mercantil alcançasse um retorno sobre patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 21% no primeiro trimestre deste ano.

Araújo explica que o banco conseguiu manter números saudáveis, dentro de um contexto pouco favorável, ao reforçar frentes de eficiência e digitalização.

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O Mercantil possui, hoje, cerca de 7 milhões de clientes e seu principal foco agora é atender a demanda de pessoas com idade a partir dos 50 anos. Um correntista que não é nativo em meios digitais, está mais ativo economicamente, mas ainda prefere aplicar em produtos atrelados ao Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) – por ter vivido na pele o passado de hiperinflação no Brasil.

“Os bancos digitais ainda tem dificuldades com os ’50+’ e acho que nem estão olhando para isso. Os ‘grandões’ tem que fazer frente ao agro, empresas, governo. Com uma proposta de valor clara, é natural que a gente proporcione algo pelo menos um pouco melhor que a experiência que essas pessoas vão encontrar nos grandes bancos onde já estão”, diz o CEO do Mercantil.

Mesmo sendo um banco de porte médio, o Mercantil está entre os cinco maiores pagadores de benefícios do INSS do país, pelas folhas de pagamento que arrematou em leilões nacionais que ocorrem a cada cinco anos. O desafio é manter esse beneficiário como correntista e, mais ainda, fazer com que o Mercantil seja o principal banco dele.

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Ao colocar o público “50+” no centro de sua nova estratégia de negócios, o banco deixou para trás seu antigo nome, Mercantil do Brasil, da época em que era mais conhecido por conceder empréstimos a empresas, e completou 80 anos sendo apenas Banco Mercantil. Também saiu do prédio na Praça Sete, no centro de Belo Horizonte, onde habitou por mais de cinco décadas, para um edifício moderno no movimentado bairro da Savassi.

Possível fim do JCP e aumento de liquidez

O Mercantil também tem o histórico de pagador de proventos e o seu principal instrumento de remuneração aos acionistas são os juros sobre capital próprio (JCP). Em março deste ano, o banco distribuiu R$ 23,4 milhões em JCP. Em 2022, foram duas rodadas de pagamento, além de uma distribuição de dividendos.

O governo federal, contudo, estuda dar andamento à proposta de extinção do JCP e tributação de dividendos em uma reforma do Imposto de Renda, com o objetivo de aumentar a arrecadação.

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payout do Mercantil, fatia dos lucros que é distribuída como provento aos acionistas, é de 25%, mínimo exigido pela Lei das S/A.

“Se o JCP for extinto, o mínimo legal vai ser de dividendos. Se o dividendo for tributado, paga-se o imposto. A gente vai cumprir o que nos couber, como sempre fizemos”, diz o CEO do banco. Araújo diz que o banco ainda tem bastante espaço para crescer por muitos anos e qualquer mudança teria efeito reduzido na alocação de recursos.

Os proventos pagos pelo Mercantil já chamou atenção de Luiz Barsi Filho, considerado o maior investidor pessoa física da Bolsa e conhecido como “rei dos dividendos”. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, em abril do ano passado, Barsi disse que comprou ações do banco pela remuneração ao acionista superior a do Itaú (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4). Porém, reclamou da dificuldade em adquirir o papel, por conta de sua falta de liquidez.

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Questionado pelo InfoMoney sobre a possibilidade de uma nova oferta de ações, Gustavo Araújo disse que o Mercantil está confiante em sua atual tese de crescimento, pelos bons resultados que estão sendo colhidos.

“O mercado abriu, tem melhorado os humores”, observa o CEO, citando a recente onda de ofertas subsequentes (follow-on). Mas Araújo avalia que os bancos continuam com múltiplos pressionados, pela inadimplência do setor, que ainda não foi estabilizada, e perspectiva de menor crescimento da economia.

“É ver a oportunidade. Ou fazer emissões de debêntures estruturadas para ter funding e continuar crescendo ou… se o mercado assim permitir, por que não? Acho que é a consequência de um trabalho alicerçado”, conclui o executivo.

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A reportagem do InfoMoney viajou a convite do Banco Mercantil

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados