Temores que levaram à derrocada das ações do Banco Inter (BIDI11) se justificam? Analistas avaliam que não

Analistas do BBA reforçaram conforto ​​com estimativas para qualidade de crédito e custo de risco; BBI espera prévias operacionais fortes

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Maior queda do Ibovespa no mês de setembro, as ações do Banco Inter (BIDI4;BIDI11) tiveram baixa de mais de 30% no período, acumulando queda de cerca de 23% apenas no acumulado dos quatro pregões da semana até quinta-feira (30).

Boa parte dessa queda ocorreu desde terça (de cerca de 20% para o papel BIDI11) devido a informações que circularam no mercado apontando que a empresa estaria preparando uma provisão maior para perdas no balanço no terceiro trimestre, gerando muitas especulações.

Além dessa notícia sobre provisões, o Brazil Journal informou que um fundo da Itaú Asset está por trás da baixa recente no Inter. O banco foi objeto ainda de uma notícia de que planejava uma fusão com a Stone.

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O Banco Inter informou na noite da véspera que antecipou a data da divulgação de sua prévia operacional referente ao trimestre para 4 de outubro, antes da abertura do mercado.

Em meio a tantas dúvidas, o Itaú BBA destacou que tem recebido muitas perguntas sobre as tendências de crédito do Inter e, por conta disso, apresentou um estudo em que aponta que o tema é “mais ficção do que fato fluxo de notícias”.

“Os índices de cobertura do banco são bons e sua qualidade de crédito está se comportando como esperado. Acreditamos que essa narrativa se alimentou de um cenário de já baixo apetite por ações de crescimento [em meio às altas de juros] e um desempenho recente de crédito decepcionante de uma fintech no Brasil”, avaliam os analistas, liderados por Pedro Leduc, em relatório.

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“Recomendamos que os investidores mantenham-se calmos e usem a narrativa como ponto de entrada para uma história vencedora de banco digital no Brasil”, avaliam. Um terceiro trimestre sólido é esperado e deve reafirmar o caminho positivo, avaliam.

“Continuamos confiantes nas tendências de crédito do Inter e em nossas estimativas que, como com todos os bancos que cobrimos, incluem índices de inadimplência mais altos e despesas de provisão para 2022”, apontam. Assim, os analistas mantêm recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para BIDI11, com preço-alvo de R$ 83, ou um potencial de alta de 78% em relação ao fechamento da véspera.

Ao fazer uma “radiografia dos níveis de provisão do Inter”, a equipe de análise aponta que, à primeira vista, a taxa de cobertura geral de cerca de 90% (estoque de provisão ante a carteira inadimplente) pode parecer baixo em relação ao setor, que está acima de 200%.

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Mas, olhando de forma mais detalhada, o valor baixo é em grande parte devido a uma taxa de cobertura de cerca de 45% para a carteira de imóveis do banco (33% do total).

“Este é um nível adequado dado que está totalmente garantido por um ativo imobiliário, atualmente operando com um empréstimo de 47% do valor e, portanto, um índice de recuperação próximo a 100%. A taxa de cobertura de 70% para o crédito consignado pode estar no limite inferior, mas a recuperação está perto de 50%”, apontam os analistas.

As taxas de cobertura para as linhas não seguras são superiores a 1000% para empresas e 120% para cartões de crédito. O Inter não assume nenhum risco de crédito de pequenas e médias empresas originado por Stone e é improvável que o faça tão cedo, avaliam.

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Os analistas também apontam que, após o Inter ter sofrido um impacto significativo nas provisões do cartão de crédito, tem sido extremamente cuidadoso ao estender limites no segmento, razão pela qual apenas 15% (1,8 milhão) de seus 12 milhões de clientes têm um cartão de crédito Inter. O banco anunciou em setembro que ofereceria cartões para outro 1,1
milhão de clientes com base em métricas comportamentais, por isso é muito cedo para ter um problema com eles.

Também não há nenhuma demanda “reprimida” de provisões. Não houve mudança para baixo  no índice de provisão histórica do banco por linha de crédito, o que poderia ser um sinal de “subprovisionamento”. A taxa de cobertura geral está atualmente em cerca de 90%, versus 60% em 2019, quando o mix do portfólio mudou para linhas sem garantia.

Baseado nos critérios de provisionamento do Banco Central, o Inter está na verdade aproximadamente 20% superprovisionado, ressaltam os analistas. “A proporção de 3% da provisão ante a carteira de empréstimos do banco é aproximadamente alinhado com a média da indústria. Não vemos razão para provisões extras”, avaliam.

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Além disso, é provável que os índices de inadimplência e as provisões aumentem para todos os bancos no final do ano e em 2022, e o Inter provavelmente não será a exceção, avaliam. “Nosso modelo atual implica um índice de inadimplência para a Inter de 3,6% em dezembro de 2022 (versus 2,8% em dezembro de 2020). Nós também aumentamos nossas premissas de índice de cobertura conforme o mix do portfólio continua a mudar. Nossa estimativa geral de despesas de provisão são de R$ 1,2 bilhão, aumento de 108% na base anual versus crescimento de portfólio de 75% na mesma base, implicando em um aumento de cobertura”, ressaltam.

O custo do risco já está sendo projetado em 4,4% para 2022, contra 3,8% para 2021 e e uma média de 2,7% para grandes bancos. Eles observam, no entanto, que as despesas de provisão mais altas serão mais do que compensados pela maior receita líquida de juros (NII, na sigla em inglês).

Assim, avaliam que o Inter tem demonstrado liquidez significativa e índice de Basileia  indicador utilizado para análise do nível de endividamento das instituições bancárias) de 60%. Desta forma, concluem: “Estamos confortáveis ​​com nossas estimativas atuais para qualidade de crédito e custo de risco, bem como com a solidez geral do banco”.

Desta forma, o grande catalisador para as ações deverá ser a prévia operacional do terceiro trimestre. O Bradesco BBI também apontou uma visão positiva para a companhia, apesar da pressão de vendas dos papéis, avaliando que o banco deve divulgar fortes números operacionais na próxima semana.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.