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Números frustrantes e uma expectativa de desempenho negativo confirmada como reação aos resultados do primeiro trimestre de 2025 (1T25). O Banco do Brasil (BBAS3) reportou lucro líquido recorrente de R$ 7,4 bilhões, desempenho substancialmente abaixo do esperado, ficando 20% aquém do consenso de mercado e uma queda expressiva de 23,0% na base trimestral e de 20,7% na comparação anual. O ROE (retorno sobre patrimônio líquido) recuou para 15,8% (-4,5 pontos percentuais trimestralmente e -5,4 pontos anualmente), o menor patamar desde o 3º trimestre de 2021.
Com isso, na sessão desta sexta-feira (16), as ações BBAS3 registraram baixa durante toda a sessão, fechando com queda de 12,69%, a R$ 25,67.
Na visão da XP Investimentos, o resultado negativo foi expressivo no 1T25, impulsionado por uma combinação desafiadora de deterioração da carteira de crédito – particularmente no setor agrícola – e pressões significativas sobre a margem financeira, ambas agravadas pela implementação da nova regra contábil (Resolução 4.966).
Análise de Ações com Warren Buffett
Conforme aponta a Genial Investimentos, o desempenho inferior às expectativas foi influenciado por três fatores principais:
Agronegócio: inadimplência persistente no segmento, que atingiu 3,04% (+0,6 ponto percentual – pp – trimestre a trimestre; +1,9 pp ano a ano), pressionada principalmente por alguns produtores de soja e milho;
Nova Regulação (Res. 4.966): exigiu um aumento substancial das provisões para perdas esperadas, inclusive para créditos adimplentes, o que ampliou e antecipou os efeitos do ciclo de crédito;
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Margem Financeira: a receita de juros (NII) foi negativamente impactada pelo descasamento entre ativos prefixados e passivos pós-fixados, agravado pelo cenário de Selic elevada. Adicionalmente, a mudança contábil trazida pela Resolução 4.966 reduziu cerca de R$ 1 bilhão do NII, ao determinar que receitas de operações em estágio 3 sejam reconhecidas somente pelo regime de caixa, e não mais por competência.
O JPMorgan apontou, em relatório antes da abertura do mercado, que o lucro líquido foi muito fraco e projetava uma reação muito negativa das ações, pois acreditava que o consenso provavelmente precisará se ajustar materialmente.
Para os analistas, há pouco para comemorar: (i) grande perda no NII; (ii) o saldo de liquidez caiu; (iii) o BB provisionou apenas 78% de sua nova NPL formation (a variação do saldo de créditos em atraso), apesar das mudanças nas baixas contábeis; (iv) a inadimplência antecipada (acima de 30 dias) aumentou para a maioria dos segmentos, como empresas em alta de 150 pontos-base em relação ao trimestre anterior, pessoas físicas +90 pontos-base em relação ao trimestre anterior e até mesmo o agronegócio piorando +40 pontos-base em relação ao trimestre anterior.
O JPMorgan aponta que a implementação da Lei nº 4.966 explica alguns dos fatores que influenciam o crescimento, especialmente o NII, que impactou o BB mais do que seus pares devido à natureza dos empréstimos para o agronegócio (ou seja, grandes renegociações e piora do crédito desencadearam mais empréstimos em estágio 3, ou seja, empréstimos sem provisão para crédito, o que é particularmente negativo para empréstimos).
Como resultado, isso gerou um impacto negativo de mais de R$ 1 bilhão para o BB, que mais do que compensou os R$ 200 milhões de impacto positivo da provisão.
“Embora os fatores que influenciam a contabilidade não ajudem, não temos certeza se isso é apenas um contratempo (“as coisas melhorarão no próximo trimestre?”, questiona o banco) ou se levará mais tempo, já que parte das tendências desanimadoras depende do ciclo de crédito do agronegócio e de outros produtos, que continua a se deteriorar”, avalia o JPMorgan.
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Para Evandro Medeiros, analista da Suno Research, o BB teve um trimestre desafiador, com deterioração na qualidade da carteira de crédito, especialmente no agro. A inadimplência rural segue em alta e pressiona os resultados, exigindo maior cautela por parte da gestão.
“Ainda assim, vale lembrar que há anos o agro cresce acima da média nacional e, apesar do momento adverso, a forte presença do banco no agro e no Centro-Oeste continua sendo um diferencial estratégico no longo prazo”, aponta Medeiros.
Para o analista, a inadimplência total também cresceu e já se aproxima dos níveis do Bradesco (BBDC4), banco que vem enfrentando dificuldades nesse âmbito por conta de equívocos na concessão de crédito nos últimos anos. O índice de cobertura, que mensura o quanto das provisões já constituídas faz frente à inadimplência, caiu para 172%, um patamar inadequado dado o contexto de pressão nas perdas.
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Mesmo com crescimento na receita de juros, avalia o analista, o crescimento do custo de captação acabou comprimindo a margem financeira, reduzindo a rentabilidade do crédito para o banco. Ainda assim, pondera, o BB segue beneficiado por uma estrutura de funding privilegiada: 72,5% do CDI no período, impulsionado pela forte participação da poupança, cerca de 25% do total, que remunera, em média, 60% da Selic.
Nas receitas de serviços, a gestão de ativos se destacou, reforçando a plataforma do banco. Por outro lado, tarifas seguem pressionadas, e seguros e previdência avançam abaixo da inflação. A alavancagem mensurada pelo índice de capital principal reduziu modestamente, mas ainda se encontra em patamares confortáveis.
Para o Goldman Sachs, a expectativa também era de uma reação negativa do mercado, dados os resultados mais fracos do que o esperado. Além disso, acredita que as principais questões para o futuro são como reconstruir a margem líquida antes que as taxas de juros caiam no Brasil, a extensão da deterioração da qualidade dos ativos no segmento rural e se o ROE pode se recuperar para perto de 20%.
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“Acreditamos que o Banco do Brasil apresentou tendências desafiadoras no 1T25, piores do que nossas expectativas abaixo do consenso. O principal fator para esses resultados foi uma margem financeira líquida mais fraca, enquanto as tendências da qualidade dos ativos permaneceram sob pressão”, aponta o Bradesco BBI.
Olhando para o futuro, o BBI acredita que o ano começou de forma mais desafiadora do que esperávamos anteriormente, com taxas de inadimplência mais altas (pressionando as provisões) e crescimento fraco da receita (novas mudanças contábeis). Como resultado, vê riscos de queda em suas estimativas em 2025.
Guidance revisado – e visão para as ações também
Diante do desempenho aquém do esperado e da baixa visibilidade relacionada ao atual ciclo agrícola, a Genial Investimentos também ressalta que o Banco do Brasil anunciou a revisão de parte relevante do seu guidance, abrangendo as projeções de margem financeira (NII), custo de crédito e, consequentemente, do lucro líquido ajustado.
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Diferentemente das atualizações anteriores, o banco não apresentou novos parâmetros numéricos, optando por deixar essas variáveis em aberto até uma reavaliação prevista para o 2T25, que dependerá da estabilização da inadimplência no agronegócio, potencialmente beneficiada pela colheita do período.
Diante de um cenário mais desafiador e incerto, a Genial vê possibilidade de deterioração adicional dos resultados ao longo de 2025 — especialmente com a expectativa de agravamento do ciclo de inadimplência em algumas carteiras no segundo semestre, pressões persistentes sobre a qualidade dos ativos no agronegócio e maior dificuldade de crescimento de receita. Nesse contexto, revisou a sua recomendação de compra para manutenção, além de reduzir o preço-alvo de R$ 40,30 para R$ 31,40, o que implica um upside de 6,8%.
O BBI também rebaixou as ações do BB após os resultados, passando de outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para neutro, com um preço-alvo de R$ 31, implicando em um potencial de valorização de 5% em relação aos níveis atuais.
“Nosso rebaixamento é reflexo das novas mudanças contábeis e da revisão do guidance do banco para 2025, enquanto as preocupações com a qualidade dos ativos aumentaram, com a deterioração de todos os segmentos”, avalia.
Assim, o BBI reduziu suas estimativas de lucro líquido do BB em 19% para 2025 e 2026, para R$ 32,6 bilhões e R$ 36,1 bilhões (16% abaixo do consenso da Bloomberg para 2025 e 13% abaixo para 2026), respectivamente, refletindo principalmente o crescimento mais fraco da margem financeira líquida e o aumento das despesas com provisões.
“De acordo com nossas novas estimativas, espera agora um ROE de 17% para 2025, o que, considerando o custo de capital próprio do banco de 17%, parece precificado de forma justa”, aponta.
A XP, por sua vez, manteve recomendação de compra devido ao valuation atraente e aos dividendos atraentes.



