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Mesmo sem ter um computador em sua mesa de trabalho, Warren Buffett se rendeu às redes sociais. No dia 2 de maio, ele criou uma conta no Twitter na qual escreveu: “Warren is in the house” – ou algo como “Warren está na área”. Em menos de cinco horas, o megainvestidor já havia ganhado mais de 150 mil seguidores. Alguns sites afirmaram que os tuites de Buffett seriam capazes de mexer com as cotações das ações em tempo real. O bilionário pouco postou desde então, o que, de certa forma, desapontou os seguidores que esperavam ver revelados os segredos de seu notável sucesso no mundo dos investimentos.
Mas se Buffett não fala, outros falam. No Brasil, muitos participantes do mercado acionário – economistas, analistas, gestores e até presidentes de empresa de capital aberto – já compartilham suas análises, opiniões e conhecimentos com milhares de seguidores. Com posts irônicos como “É o Mantega que estima o público da Parada Gay? 3,5 milhões???”, o economista que se esconde atrás do pseudônimo Drunkeynesian vem ganhando cada vez mais seguidores em seu blog e página no Twitter, que já figuram em listas de redes sociais que os investidores não podem deixar de seguir.
O blogueiro dificilmente teria a mesma projeção sem a existência das redes sociais. “Gosto muito da possibilidade de lançar uma hipótese sobre mercados e poder debatê-la com gente de visões diferentes da minha. Isso ajuda muito a testar a robustez de teses de investimento e encontrar possíveis falhas e visões alternativas. É como se eu contasse em tempo integral com um comitê de investimentos virtual, às vezes com gente altamente qualificada a quem eu jamais teria acesso se não fossem as redes sociais”, diz Drunkeynesian, que não revela sua real identidade e afirma apenas que trabalha “no lado negro da força: o mercado financeiro”.
Não perca a oportunidade!
Para o economista Ricardo Amorim, o aumento de perfis ligados a investimentos e economia em redes sociais deve-se a dois fatores: “Com a forte queda das taxas de juros em todo o mundo, todos estão sendo forçados a aprender a investir melhor para conseguir rentabilizar o investimento. Em paralelo, as redes sociais têm crescido muito. É natural que haja um forte crescimento da discussão de temas ligados a investimento nas redes sociais”, diz Amorim.
O economista tem quase 45 mil seguidores no Twitter e segue 741 perfis. Para ele, as redes sociais são um meio para se manter informado. “Também uso para disseminar ideias, análises e informações que considero importantes ou interessantes. Além disso, o Twitter me proporciona um canal direto de comunicação de mão dupla com pessoas em todo o mundo.”
No entanto, a nova onda de redes sociais como fonte de informação exige cuidado. Afinal, nem sempre se sabe quem está por trás das postagens, e confiar em quem não tem embasamento e expertise suficiente pode causar um grande dano ao patrimônio. O investidor Tiago Piedade – que atingiu a independência financeira antes dos 30 anos aplicando em renda variável – é um adepto das redes sociais. No entanto, tudo que ele lê nos perfis que segue passa por uma criteriosa análise. “Não se pode confiar em qualquer perfil ou qualquer página. Costumo dizer que as páginas do Facebook não tomam a decisão por mim, mas me alertam para possíveis oportunidades no mercado. Os portais e analistas gabaritados postam informações de qualidade, pois é a própria credibilidade que está em jogo. É preciso escolher bem as páginas a seguir”, afirma. Para Ricardo Amorim, é preciso tomar cuidado principalmente com boataria e tentativas de manipulação de mercado.
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Não há dúvidas de que as informações contidas em redes sociais podem ajudar o investidor a ganhar dinheiro, mas é preciso ter discernimento para entender que nem sempre o que é bom para um é bom para outro. “O investidor que se informa nas redes sociais precisa reconhecer que seus objetivos e limitações podem ser muito distintos dos das pessoas que ele segue nas redes sociais. O que funciona para o Warren Buffett ou o Bill Gross não necessariamente funciona para o investidor médio”, diz Drunkeynesian. “Também acredito que não se deva acreditar em ‘dicas’ ou ‘oportunidades imperdíveis’ sem conhecer direito do que se trata. O investimento mais adequado é sempre aquele que você conhece a ponto de conseguir explicar para uma criança de oito anos: se você só consegue explicar a poupança, melhor ficar na poupança e não correr riscos; se você sabe bem de derivativos exóticos, pode se arriscar bem mais.”
Vale ressaltar que, seja qual for o meio utilizado para se informar, é fundamental analisar os pedaços separados de informação em um contexto mais amplo. Uma única notícia negativa envolvendo uma empresa não deve ser encarada como um sinal de que ninguém deve investir em suas ações, e vice-versa. Cabe ao investidor ir juntando esses fragmentos um a um, às vezes até excluindo informações que só atrapalham, para tirar uma conclusão geral se vale a pena investir ou não em algum papel. “A única fórmula mágica é o acúmulo progressivo de experiência e humildade”, finaliza o blogueiro.
| Eike fala |
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Conhecido por gostar de aparecer na mídia, o presidente do grupo EBX não poupa palavras em seu Twitter. Eike é um dos poucos empresários brasileiros que falam abertamente nas redes sociais sobre os planos para suas empresas de capital aberto, elogia o trabalho de seus funcionários, exige retratações da mídia brasileira e retuíta manchetes que trazem boas novas sobre suas companhias. Mas será que tal proximidade com presidentes e CEOs de empresas de capital aberto é benéfica? “Acho válido, sim, desde que as regras de disseminação de informação a que esses presidentes estão sujeitos nas demais mídias sejam também respeitadas nas redes sociais”, diz Amorim.
Drunkeynesian discorda. Para ele, as redes sociais ainda não são plataformas difundidas a ponto de poderem ser usadas para anunciar informações que devem ser tornadas públicas de forma mais ampla. “Um presidente de empresa que usa redes sociais para falar de seu trabalho arrisca ou a criar uma assimetria de informações ou a ver alguma declaração mal interpretada.” Piedade afirma que não gosta de seguir esses perfis. “Não tenho o hábito de seguir os presidentes e CEOs de empresas de capital aberto. Prefiro uma análise neutra. É natural que o CEO de uma empresa faça comentários a favor da empresa. Ele está apenas defendendo os interesses da companhia, o que é compreensível.” |
| Impacto no Dow Jones |
| Recentemente, a conta do Twitter da agência de notícias Associated Press foi invadida. Os invasores postaram uma mensagem falsa que relatava explosões na Casa Branca e dizia que o presidente dos EUA, Barack Obama, havia sido ferido. Imediatamente o índice Dow Jones caiu mais de 150 pontos – um forte indicador da presença dos investidores nas mídias sociais. Assim que a Casa Branca confirmou que a mensagem era falsa e que o presidente estava bem, o índice se recuperou. O grupo Exército Eletrônico Sírio assumiu a responsabilidade da invasão em sua própria conta no Twitter, usando a hashtag #ByeByeObama. “Quando esse tuite falso da AP foi divulgado, a Bovespa chegou a cair 1%. Infelizmente, esse é um lado negativo da influência das redes sociais a que estamos sujeitos, e nada garante que não haverá casos ainda mais graves do que esse”, diz Amorim. “Já cansei de ver o mercado de juros futuros brasileiro se mexendo com base em informações de fontes duvidosas em blogs ou similares. Se é possível lucrar com esses movimentos, é outra questão”, diz Drunkeynesian. |
| O que diz a CVM |
| A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está de olho nas redes sociais ligadas ao mercado acionário. A instituição acompanha as informações divulgadas pelas companhias abertas nas redes sociais, nos mesmos termos do seu modelo de supervisão baseada em risco. “Uma vez que a autarquia identifique sua não aderência às normas aplicáveis, adota as medidas cabíveis, considerando principalmente a relevância da irregularidade eventualmente detectada.” Segundo a entidade, cabe aos executivos divulgar informações “verdadeiras, completas, consistentes e que não induzam o investidor a erro.” |
Essa matéria foi publicada na edição 45 da revista InfoMoney, referente ao bimestre julho/agosto de 2013. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.