Ata do Copom, inflação nos EUA e reta final da temporada de balanços: o que acompanhar na semana

Tudo o que o investidor precisa saber antes de operar na semana

Lara Rizério

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Após uma semana bastante turbulenta para os mercados, os próximos dias também serão agitados. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), Relatório de Inflação e indicadores de emprego e indústria serão os destaques da agenda doméstica.

O Banco Central divulgará a ata na terça-feira (28) e o Relatório Trimestral de Inflação na quinta (30).

Na última reunião, o Copom decidiu manter a taxa Selic inalterada em 13,75%, conforme esperado, citando, em seu comunicado, o aumento dos riscos para a inflação e para a atividade, este último decorrente do estresse financeiro/bancário. O teor do comunicado, esfriando expectativas de alívio monetário em breve, levou a novos ruídos entre o BC e o governo, com renovadas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros à atuação da autoridade monetária, levando a um novo movimento de aversão ao risco do mercado.

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Desta forma, a ata da última reunião será observada de perto pelos investidores. O Goldman Sachs espera que a ata reforce a mensagem de “esperar por muito tempo” (antes de começar o ciclo de alívio monetário) do comunicado pós-reunião.

“Esperamos também que o Copom enfatize que a alta volatilidade nos mercados financeiros globais e as expectativas de inflação de longo prazo não ancoradas exigem mais cautela na calibração da política monetária e a desancoragem das expectativas de inflação de longo prazo aumenta o custo de levar a inflação de volta à meta”, aponta o economista do Goldman, Alberto Ramos.

Na ata, a avaliação é de que estarão no radar uma discussão mais ampla sobre a implicação do risco fiscal persistente e da incerteza em torno da estrutura fiscal, além do cenário externo.

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Posteriormente, o Relatório de Inflação (RTI) do primeiro trimestre de 2023 (1T23) será divulgado na quinta. O BC revelará previsões atualizadas para o crescimento real do PIB e previsões condicionadas para a inflação até o final de 2024, assim como a discussão dos riscos internos e externos para crescimento e inflação.

“Esperamos que a previsão de crescimento real do PIB para 2023 permaneça em torno de 1% do RTI anterior. Além disso, esperamos que o RTI do 1T23 apresente trajetórias de inflação projetadas em linha com as do comunicado pós-reunião do Copom de 22 de março (significativamente acima da meta para o final de 2023, e também para o final de 2024). Além do cenário básico, o RTI pode apresentar cenários alternativos sensíveis para a trajetória projetada da inflação, incluindo um cenário com trajetória Selic constante”, aponta o Goldman.

Na política, o Itaú aponta que há dois temas importantes para ficar de olho durante a semana. Recentemente, algunmas agências noticiaram alguns nomes que o presidente Lula teria escolhido para chefiar as diretorias de Política Monetária e Fiscalização do Banco Central. No entanto, eles não foram nomeados formalmente, o que significa que nada está definido no momento.

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Da mesma forma, permanecem incertezas em torno da proposta de um novo arcabouço fiscal, já que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está atualmente trabalhando em ajustes no texto não anunciado.

O mercado acompanhará de perto os desdobramentos de ambos os assuntos, mas o governo havia sugerido que as nomeações oficiais e a apresentação pública do quadro fiscal aguardariam o retorno do presidente de sua visita oficial à China. Cabe destacar, contudo, que no último sábado Lula cancelou sua visita ao país asiático no último sábado, após passar por avaliação clínica em que foi constatada pneumonia bacteriana e viral por influenza A.  Ainda não há uma nova data para a viagem. Assim, o arcabouço fiscal pode ser antecipado.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na sexta-feira que o governo já concluiu todos os trabalhos técnicos sobre o novo arcabouço fiscal e que apresentará resposta às dúvidas apontadas pelo presidente Lula.

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“A área técnica fechou o arcabouço fiscal. Está tudo em ordem. Agora, vamos voltar para o presidente, com as perguntas que ele fez, e só marcar a data. A palavra final é sempre do presidente, até ser anunciado, a palavra final é sempre dele. Ele pode fazer novas perguntas, mas as que foram feitas na reunião de sexta passada já estão elucidadas, foi bem tranquilo a reunião técnica, a gente vai fazer uma devolutiva para ele e a gente espera aí nos próximos dias voltar a ele pra saber se há outras dúvidas que ele possa considerar. Mas até aqui está tudo bem”, disse o ministro, após participar da reunião de conselho de governo no Palácio da Alvorada.

A inflação do IGP-M de março será divulgada na quinta-feira. O Itaú aponta esperar alta mensal de 0,10%, levando a taxa anualizada a 0,2%, ante 1,9% em fevereiro. Os preços no atacado agrícola podem acelerar, enquanto os preços no atacado industrial podem apresentar alguma deflação refletindo a queda no preço do diesel.

Atenção ainda para a geração de empregos formais em fevereiro com o Caged na quarta e divulgação da produção industrial de janeiro na quinta.

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Em relação ao Caged, o Itaú aponta que o mercado de trabalho continuou enfraquecido em fevereiro, estimando a criação de 180 mil empregos formais.

Com relação à produção industrial, os economistas esperam que ela recue 0,8% com ajuste sazonal (-0,4% na base anual) com a mineração/extrativista expandindo 1,3% na base mensal (+4,5% no ano), enquanto o segmento de manufatura deve cair 1,7% frente dezembro (-1,3% no ano), impulsionado por uma forte contração na produção de veículos (-11,4% na base mensal, segundo dados da Anfavea) especialmente no ramo de caminhões e ônibus (-68%).

Para a taxa de desemprego, a ser divulgada na sexta, os economistas estimam que tenha atingido 8,8%, de 8,6% com ajuste sazonal. Fora isso, as pesquisas de confiança da FGV de março serão publicadas ao longo da semana.

Nas contas externas, o Banco Central divulgará a nota do setor externo na segunda-feira (a partir das 8h30). “Esperamos déficit de US$ 4,4 bilhões em transações correntes em fevereiro, próximo ao déficit de US$ 4,0 bilhões registrado no mesmo mês do ano passado. Esperamos que a balança comercial tenha superávit de US$ 2,0 bilhões, enquanto as contas de serviços e aluguéis devem apresentar uma impressão negativa de US$ 2,5 bilhões e US$ 4,2 bilhões, respectivamente, pressionadas principalmente por custos de transporte, lucros e dividendos”, aponta o Itaú.

Também serão divulgados os dados do resultado primário do governo central de fevereiro na quinta-feira, para o qual esperam déficit de R$ 35,4 bilhões. O resultado primário consolidado também será divulgado, e estimamos um déficit de R$ 27,2 bilhões.

Fora isso, as estatísticas monetárias e de crédito de fevereiro serão divulgadas pelo Banco Central na quarta-feira e os mercados estarão atentos a essa divulgação, dada a recente deterioração das condições financeiras.

Reta final da temporada de balanços

O noticiário corporativo também é movimentado, com a última semana da temporada de balanços do quarto trimestre de 2022 (4T22), ainda que algumas companhias, como Oi (OIBR3) e Americanas (AMER3), tenham adiado a divulgação de seus números para além da data regular.

Ânima (ANIM3) e Rede D’Or (RDOR3) divulgarão seus números após o fechamento dos mercados. Qualicorp (QUAL3) e Light (LIGT3) revelam seus números na terça, Equatorial (EQTL3) na quarta e Marisa (AMAR3) na sexta.

Empresa Ticker Data Hora
Bradespar BRAP4 27/03/23 Antes da abertura
Dexxos Par DEXP3 27/03/23 Antes da abertura
Dotz DOTZ3 27/03/23 Depois do fechamento
Ânima Educação ANIM3 27/03/23 Depois do fechamento
Boa Safra SOJA3 27/03/23 Depois do fechamento
ClearSale CLSA3 27/03/23 Depois do fechamento
Espaçolaser ESPA3 27/03/23 Depois do fechamento
Rede D’Or São Luiz RDOR3 27/03/23 Depois do fechamento
Saraiva SLED3 27/03/23 Depois do fechamento
Tupy TUPY3 27/03/23 Depois do fechamento
Alphaville Urbanismo AVLL3 28/03/23 Depois do fechamento
Ambipar AMBP3 28/03/23 Depois do fechamento
Boa Vista BOAS3 28/03/23 Depois do fechamento
Cruzeiro do Sul CSED3 28/03/23 Depois do fechamento
Dasa DASA3 28/03/23 Depois do fechamento
Even EVEN3 28/03/23 Depois do fechamento
Fertilizantes Heringer FHER4 28/03/23 Depois do fechamento
Gafisa GFSA3 28/03/23 Depois do fechamento
Helbor HBOR3 28/03/23 Depois do fechamento
IMC MEAL3 28/03/23 Depois do fechamento
Kora Saúde KRSA3 28/03/23 Depois do fechamento
Light LIGT3 28/03/23 Depois do fechamento
Melnick MELK3 28/03/23 Depois do fechamento
Mobly MBLY3 28/03/23 Depois do fechamento
Multi (ex-Multilaser) MLAS3 28/03/23 Depois do fechamento
Oncoclínicas ONCO3 28/03/23 Depois do fechamento
OSX OSXB3 28/03/23 Depois do fechamento
Qualicorp QUAL3 28/03/23 Depois do fechamento
Renova Energia RNEW4 28/03/23 Depois do fechamento
Springs Global SGPS3 28/03/23 Depois do fechamento
Viver VIVR3 28/03/23 Depois do fechamento
Agrogalaxy AGXY3 29/03/23 Depois do fechamento
Alper Seguros APER3 29/03/23 Depois do fechamento
Bahema BAHI3 29/03/23 Depois do fechamento
Celesc CLSC4 29/03/23 Depois do fechamento
Desktop DESK3 29/03/23 Depois do fechamento
Equatorial Energia EQTL3 29/03/23 Depois do fechamento
GetNinjas NINJ3 29/03/23 Depois do fechamento
Lupatech LUPA3 29/03/23 Depois do fechamento
Nexpe (ex-BR Brokers) NEXP3 29/03/23 Depois do fechamento
Orizon ORVR3 29/03/23 Depois do fechamento
Sequoia SEQL3 29/03/23 Depois do fechamento
Veste (ex-Restoque) VSTE3 29/03/23 Depois do fechamento
CR2 CRDE3 31/03/23 Depois do fechamento
Dommo Energia DMMO3 31/03/23 Depois do fechamento
Marisa Lojas AMAR3 31/03/23 Depois do fechamento
Westwing WEST3 31/03/23 Depois do fechamento

Cenário externo

Nos EUA, a semana também será importante. Na agenda econômica será divulgado na sexta-feira o deflator do consumo de fevereiro (PCE, em inglês) – indicador de inflação favorito do Fed – e o PIB anualizado de março na quinta-feira.

Na Europa, serão publicados os números de desemprego de fevereiro e a prévia da inflação ao consumidor de março. Por fim, os dados a sondagem empresarial PMI da China será divulgada na quinta-feira.

Os investidores também estarão de olho no noticiário sobre bancos. Conforme destaca a XP, nos EUA, o Federal Reserve tenta se equilibrar entre as preocupações com a saúde financeira dos bancos regionais de médio porte e o controle da inflação, que continua mostrando sinais de força, com um mercado de trabalho que continua aquecido e leituras que continuam mostrando pressão sobre preços.  A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse a congressistas que medidas futuras para proteger os depósitos bancários podem ser necessárias, gerou suspeitas de que o problema dos bancos regionais pode ser maior do que parece, mas também ofereceu conforto de que ações preventivas já foram preparadas.

Na Europa, na última semana, o banco Credit Suisse foi vendido para o UBS, numa tentativa de tentar conter a crise de confiança que poderia se espalhar para EUA e Europa. Além disso, as ações do Deutsche Bank chegaram a cair mais de 10% na sexta e fecharam com baixa de 8,5% depois de uma subida CDS (credit default swap, indicativo de percepção de risco de crédito de emissores por parte do mercado), com investidores voltando a se preocupar com a estabilidade do sistema bancário europeu.

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou que a entidade deve seguir observando os fatores de mercado para a sua próxima decisão sobre os juros, diante da turbulência do sistema financeiro global, apesar de seguir reforçando que o BC seguirá com sua meta da inflação de 2% ao ano.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.