As três boas oportunidades para o Pão de Açúcar destravar valor na Bolsa – e os muitos desafios no radar

Potencial mudança de controlador, possível spin-off da Éxito e estudo para venda da Cnova movimentam noticiário da varejista, mas ainda inspiram cautela

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Apesar do francês Casino ter negado que haja um processo de venda do GPA, dono da marca Pão de Açúcar (PCAR3), após notícia do jornal O Estado de S. Paulo de que o grupo francês já teria contratado o banco de investimentos BR Partners (BRBI11) para estruturar uma operação de venda de seu controle, as notícias de segunda-feira (21) impulsionaram um novo catalisador para as ações do Pão de Açúcar.

Na véspera, os ativos já haviam subido 7,88% com a notícia de Lauro Jardim, colunista do jornal O Globo, de que o  empresário Michael Klein teria seguido os passos de Abílio Diniz e começado a montar uma posição acionária no GPA. Klein, que é o acionista de referência da Via (VVAR3) desde 2019, teria interesse em comprar o GPA caso o francês Casino decidisse vender sua posição, ressaltou o colunista.

De qualquer forma, a reportagem do Estadão reiterou que não havia negociação efetiva em curso, pois o objetivo do Casino, conforme as fontes ouvidas pela publicação, seria se desfazer primeiro da CNova, seu braço de comércio eletrônico, e do Grupo Éxito, com presença na Argentina, na Colômbia e no Uruguai.

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Em relatório, Danniela Eiger, Thiago Suedt e Gustavo Senday, analistas da XP, destacaram que o papel subiu quase 8% na véspera após a divulgação da notícia uma vez que ela desencadeia uma série de eventos que potencialmente destravariam valor para os acionistas de PCAR3. Os analistas também destacaram que o avanço no processo de venda do GPA pelo Casino – o que foi negado posteriormente pelo grupo francês depois da divulgação do estudo – poderia sinalizar um avanço na operação de desinvestimento de Cnova e até do Grupo Éxito, uma vez que o Grupo passaria para uma próxima etapa de desinvestimentos.

Além disso, caso haja uma mudança de controle da companhia – o que ocorreria caso o grupo Casino vendesse sua participação -, todos os acionistas minoritários teriam direito a vender suas ações pelo mesmo preço atribuído às ações detidas pelo controlador, ou o chamado “tag along”,  uma das exigências do Novo Mercado.

Conforme destaca a Levante Ideias de Investimentos, em vista dessa possibilidade de tag along, é comum o mercado se movimentar para que as ações da companhia alvo de uma operação de fusão/aquisição se apreciem no curto prazo, de modo a ancorar um preço maior em caso de uma transação efetivada.

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A participação do Casino no GPA é de 41,2%, tendo um valor próximo de R$ 4,4 bilhões de sua fatia. A saída se refere somente ao grupo dono da bandeira Pão de Açúcar, e não ao atacarejo Assaí (ASAI3), que é um negócio mais rentável e no qual o Casino quer manter, segundo afirmou o Estadão. Esse ativo tem valor de mercado bem maior do que o do GPA: R$ 22,8 bilhões. Atualmente, o GPA vale R$ 10,8 bilhões em valor de mercado.

Cabe apontar que, em 2018, o grupo francês já havia contratado uma assessoria financeira para vender a fatia detida no GPA para a redução de seu endividamento, porém o processo não foi para a frente.

Na avaliação da Levante, para os acionistas do GPA, o movimento de venda do controle pelo francês Casino seria positivo, uma vez que a companhia figura como um investimento puro do grupo francês, sem grandes apoios e parcerias estratégicas na frente operacional e pouca sinergia entre ambas as empresas, com o atual controlador agregando pouco para o desenvolvimento do GPA no Brasil.

A Ativa Investimentos também considera a movimentação como positiva,  uma vez que teria o fim de possíveis conflitos de interesse entre a diretoria que toca hoje GPA e seu acionista majoritário. A Guide Investimentos aponta ainda que, desde que o grupo francês assumiu o comando do GPA, a companhia tem demonstrado dificuldades de crescimento e manutenção da sua rentabilidade.

Com relação a possíveis compradores, a Levante ressalta que a possibilidade de a família Klein, por meio da Via, incorporar o GPA, abre um conjunto de possibilidades de integração operacional, sobretudo na evolução do omnichannel voltado para o varejo alimentar, ainda sem grandes participações no sortimento da Via. Porém, já é um segmento que vem sendo explorado por seus concorrentes como o Mercado Livre (MELI34), Amazon (AMZO34) e Magazine Luiza (MGLU3).

A Guide Investimentos ressalta que, caso a operação ocorra, Klein poderá reencontrar resistência do rival e o ex-sócio Abilio Diniz. Há cerca de um mês, Diniz começou movimento semelhante ao adquirir ações da varejista e tentar retomar o controle da empresa fundada por sua família e da qual se retirou em 2013 após anos de conflito público com o Casino e seu controlador Jean-Charles Naouri.

Desafios no radar

As notícias podem movimentar as ações do Pão de Açúcar. Contudo, há desafios para que elas se concretizem, destacam os analistas da XP.

Danniela, Suedt e Senday avaliam que, apesar de acreditarem que notícias sobre os possíveis desinvestimentos podem trazer volatilidade para o papel, como a vista na véspera, mantêm recomendação neutra para o ativo PCAR3, com preço-alvo de R$ 39 (ou uma queda de 3,4% frente o fechamento de segunda) por verem uma baixa probabilidade de concretização dessas operações no curto prazo.

Isso principalmente dado que o desinvestimento na Cnova, que os analistas veem como mais desafiador, é colocado como  primeiro na lista e GPA Brasil, a que veem como a mais provável, é colocado como o último. Além disso, acreditam que o fato do grupo Casino estar aberto a vender todas suas operações do GPA sinaliza desafios na operação.

Com relação à venda de Cnova, os analistas veem desafios para concretização da operação no curto prazo dado que a companhia tem enfrentado um cenário competitivo mais duro, liderado pela Amazon, o que vem prejudicando sua perspectiva de crescimento, com receita estável em 2020. Além disso, o fato relevante com mais informações sobre seu aumento de capital indica um foco em levantar 300 milhões de euros na oferta primária com uma venda secundária, que envolveria a participação de 34% do GPA, ainda colocada como possível e dependente das condições de mercado.

Sobre o potencial “spin-off” (ou cisão) da Éxito, a XP lembra que, em 27 de novembro de 2019, o GPA pagou R$ 9,5 bilhões para incorporar a operação através de uma oferta pública de aquisição de ações. Desde então, o peso colombiano apreciou quase 25%, enquanto os resultados da companhia têm apresentado melhora. Caso o spin-off ocorra, seria um movimento inverso do realizado há menos de dois anos pela companhia e que iria de encontro com o discurso da companhia sobre as sinergias entre as operações da América Latina e Brasil, na avaliação dos analistas.

Por outro lado, para Luís Sales, analista da Guide Investimentos, a operação de cisão da Éxito poderia destravar valor para os acionistas do GPA, cujo valor de mercado atual representa uma subavaliação do valor atribuído à unidade colombiana.

Por fim, com relação à potencial venda do GPA, ou a operação Brasil, Danniela, Suedt e Senday acreditam que há interessados na operação, com a maior probabilidade sendo a da aquisição de um investidor financeiro  ou de um investidor estratégico no setor de varejo alimentar.

Os analistas da XP destacaram preferência ao segmento do atacarejo, com Assaí como preferência, devido à combinação de uma melhor tendência de resultados de curto prazo com a retomada de bares, restaurantes e transformadores com a volta à normalidade, além de sólida perspectiva de crescimento, com projeção de crescimento médio anual de vendas do Assaí em 24% até 2023. O preço-alvo para ASAI3 é de R$ 120, ou um valor cerca de 39% acima do registrado no fechamento de segunda).

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.