As grandes surpresas de Ultrapar e Mercado Livre, visões distintas sobre o BB e mais 8 balanços de destaque nesta quinta

EcoRodovias, d1000, Alpargatas, Cia. Hering também soltaram balanços, que repercutem no mercado

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A temporada de resultados contou com surpresas entre a noite da última quarta-feira (4) e a manhã desta quinta-feira (5), tendo como grande destaque positivo a Ultrapar (UGPA3), com ganhos superiores a 10% da ação durante esta sessão.

Mas outros papéis repercutem os balanços, com destaque para os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) do Mercado Livre (MELI34), com alta de 8,74%, a R$ 67,42, às 15h55 (horário de Brasília). Enquanto a avaliação para esses resultados é majoritariamente positiva, outros balanços, como de Banco do Brasil (BBAS3), dividem o mercado. Confira a análise desses e de outros resultados:

Banco do Brasil (BBAS3)

O último dos grandes bancos a divulgar o seu resultado, o Banco do Brasil registrou lucro líquido ajustado de R$ 3,482 bilhões no terceiro trimestre deste ano, queda de 23,3% na comparação com o mesmo intervalo de 2019. O resultado foi impactado pelo aumento de suas provisões para devedores duvidosos (PCLD), que teve crescimento de 40,5% devido, principalmente, “à constituição de provisões prudenciais de forma preventiva”.

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“Diante das incertezas econômicas provocadas pela pandemia, o banco constituiu, de forma conservadora, antecipação prudencial de provisões de crédito, em um valor de R$ 2 bilhões neste trimestre, ainda que o índice de inadimplência (operações vencidas há mais de 90 dias) em setembro tenha caído em relação ao trimestre anterior e se situado em 2,43%. No acumulado em 9 meses, as antecipações prudenciais de provisões totalizaram R$ 6,0 bilhões”, disse o banco em relatório.

Em relação ao segundo trimestre, o lucro avançou 5,2%. Neste caso, o número foi influenciado, principalmente, pela redução de 6,8% da PCLD ampliada, pelo desempenho positivo das receitas com prestação de serviços que cresceram 4,5%, pelo controle de custos, com redução de 0,2% nas despesas administrativas, bem como a redução das despesas com risco legal.

A carteira de crédito ampliada cresceu 6,4% nos últimos 12 meses e alcançou R$ 730,9 bilhões, com destaque para desempenhos dos segmentos Pessoa Física, MPME e Rural, que cresceram 6,2%, 17,9% e 5,3% respectivamente, em meio a estratégia do BB de alteração do mix da carteira.

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O BB chama a atenção para o desempenho positivo em crédito consignado, que evoluiu 15,2% em 12 meses. Já a carteira de crédito ampliada PJ cresceu 7,9% na comparação anual e totalizou R$ 274,6 bilhões. Destaque para o crescimento de 17,9% da carteira MPME em 12 meses. A carteira rural aumentou 5,3%, totalizando R$ 173 bilhões. Houve elevação nas linhas de custeio agropecuário (16%) e investimento agropecuário (28,9%).

“[O resultado foi de] neutro a ligeiramente negativo. Enquanto o índice de cobertura aumentou, o grande aumento nos empréstimos reperfilados para R$ 109 bilhões (ante R$ 72 bilhões no segundo trimestre) é pior do que o desempenho dos seus pares”, aponta o Credit Suisse.

Já o Bradesco BBI destaca que, na temporada de resultados do terceiro trimestre de 2020, esperava que os maiores bancos privados de grande capitalização se saíssem melhor do que o Banco do Brasil,
razão pela qual manteve recomendação neutra para o papel, enquanto reiterou recomendação outperform para bancos do setor privado.

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“Embora o lucro líquido do Banco do Brasil tenha ficado bem em linha com a nossa expectativa, apenas maior devido a menor taxa efetiva de imposto, notamos que o mercado pode ficar desapontado com as tendências de NII [receita líquida de juros] observadas no trimestre. Aqueles mais construtivos sobre o case de investimento esperam que o melhor mix de carteira de crédito favoreça as margens do Banco do Brasil. Durante a crise, isso não está acontecendo e o desempenho do banco estatal tem sido semelhante ao registrado por bancos do setor privado (NII com clientes se comportando apenas marginalmente melhor do que os bancos do setor privado)” avaliam os analistas.

Eles prosseguem apontando que, uma vez que acreditam que o Banco do Brasil deva ver seus resultados se recuperando apenas de forma mais gradual em relação aos seus pares, preferem manter a recomendação neutra, apesar dos múltiplos descontados em que as ações estão atualmente sendo negociados.

Já Marcel Campos, analista da XP, avalia que o resultado do Banco do Brasil foi em linha com as expectativas impulsionado por: i) maiores receitas de serviços à medida que a retomada da atividade econômica aumentou os volumes; ii) custos controlados, uma vez que o banco reduziu os custos na base anual e manteve-os estáveis ​​no trimestre, mesmo com o segundo trimestre tendo sido um trimestre de baixa atividade econômica; e iii) custo de crédito abaixo do esperado, dado que o banco atingiu um nível de recuperação de crédito surpreendente no trimestre, uma vez que o BB cessou parte da carteira de crédito, majoritariamente em perdas, em julho.

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O analista destaca que o resultado foi impactado pela menor NII, mas apontam que isso decorre do resultado da curva de reavaliação do Banco Patagônia, que reduziu consideravelmente o resultado da tesouraria. A NII foi 7% abaixo do esperado por Campos e 5% menor na base trimestral, a R$ 14 bilhões, sendo que os resultados de tesouraria caíram 32% na base anual e 20% na trimestral, para R$ 2,7 bilhões.

“A partir de uma simulação simplificada da NII do banco sem a tesouraria, ela teria aumentado 19% na base anual e 1% na base trimestral, mesmo com os Outros Ativos Rentáveis/Captação tendo crescido mais do que a carteira de crédito, o que é prejudicial para a simulação. O Patagônia parece ter sido o principal motivo, uma vez que a redução na curva de reavaliação decorrente dos títulos de dívida soberana do Banco Patagônia foram responsáveis ​​por 71% da queda. A redução no trimestre deve-se principalmente a: i) R$ 308 milhões na curva de reavaliação; e ii) R$ 465 milhões na variação negativa da marcação a mercado”, aponta a XP.

Campos destaca o balanço como sólido, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 43 para o banco estatal por considerá-lo barato, operacionalmente defendido e digitalmente competitivo.

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Em teleconferência, André Brandão, presidente do BB, destacou que pretende expandir a carteira de financiamentos do banco para linhas de crédito mais arriscadas, como empréstimos pessoais, para aumentar a rentabilidade.

“O banco pode ser um pouco mais agressivo para buscar linhas de crédito com retorno mais alto e o nosso balanço patrimonial permite isso”, disse. O Banco do Brasil encerrou setembro com o capital principal em 13,1%, aumento de 2,5 pontos percentuais em relação ao trimestre anterior.

Ele ainda apontou que vai buscar fechar a lacuna com os rivais do banco em termos de rentabilidade. O retorno sobre o patrimônio líquido do banco foi de 12% no terceiro trimestre, mas prevê um aumento no próximo ano.

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A estratégia do novo presidente incluirá também a oferta de produtos e serviços para não-correntistas e o aumento da venda cruzada para empresas, principalmente do segmento de agronegócios.

O plano de negócios recém-lançado de Brandão ocorre no momento em que o banco ainda está reservando dinheiro para potenciais perdas com empréstimos decorrentes da pandemia do coronavírus. Mas ele acredita que o país está já saindo da crise da COVID-19.

Para aumentar as receitas de tarifas, o banco deve continuará buscando novas parceria, como fez recentemente com o UBS na unidade de banco de investimento.

Ultrapar (UGPA3)

O resultado mais “unânime” visto pelo mercado foi o da Ultrapar, avaliado pela maior parte dos analistas como bastante forte. A Ultrapar teve no terceiro trimestre de 2020 lucro líquido atribuível aos acionistas da companhia de R$ 265,4 milhões, 10,9% menor na comparação anual. Já em termos consolidados, o lucro foi de R$ 277 milhões, ante R$ 307 milhões um ano antes.

O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) ajustado de R$ 1,094 bilhão, alta de 6% na base de comparação anual. O Ebitda ficou acima da estimativa do consenso de mercado de R$ 915,0 milhões (alta de 19,6%) da XP e do consenso de mercado de R$ 914,5 milhões.

“Tal resultado refletiu uma combinação dos seguintes fatores: (1) fortes resultados da Ipiranga com margens em termos de Ebitda por metro cúbico de R$ 112 por metro cúbico ante nossa estimativa de R$ 88 por metro cúbico e (2) resultados acima do esperado na Oxiteno e (3) resultados em linha com o esperado nas demais subsidiárias. Destacamos que parte do resultado positivo na Ipiranga foi atribuído a uma reversão de provisão, cujo valor não foi divulgado”, apontam os analistas da XP.

Já indo para a linha de lucro, o maior resultado no âmbito operacional foi parcialmente compensado por: (1) despesas financeiras líquidas mais altas que nossas estimativas e (2) uma despesa de R$ (66) milhões na Ipiranga relacionada ao programa Renovabio.

Em setembro, a dívida líquida estava em R$ 10,79 bilhões, queda frente a R$ 11,09 bilhões três meses antes. A alavancagem financeira, que é medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado, ficou em 3,1 vezes, frente a 3,2 vezes em junho.

“Destacamos como positiva a recuperação das margens da distribuidora de combustíveis Ipiranga em termos de Ebitda por metro cúbico durante o trimestre, que acreditamos refletir uma combinação de (i) maior alavancagem operacional com a recuperação gradual dos volumes de venda de combustíveis, (ii) ganhos de estoque como resultado dos ajustes de preços promovidos pela Petrobras nas refinarias e (iii) maiores eficiências e controle de custos. Dito isto, a própria empresa afirma que os resultados da Ipiranga no trimestre também foram positivamente influenciados por uma reversão de provisão de um valor não divulgado”, apontam os analistas Gabriel Francisco e Maira Maldonado. A XP tem recomendação neutra para a ação, com preço-alvo de R$ 20.

Já o Credit Suisse elevou a recomendação para as ações UGPA3 por conta do valuation para outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 23, além de destacar a melhora operacional com a surpresa positiva no trimestre.

Os analistas do banco estão com uma visão mais otimista para o setor de distribuição em função de acreditar que existe uma desconexão entre um impacto mais limitado visto até agora no setor versus a forte correção dos papéis.

“O terceiro trimestre nos mostrou que a Ultrapar superou nossas estimativas e do consenso com um Ebitda 8% acima da expectativa e um lucro líquido 2% acima do esperado. A surpresa veio principalmente da Ipiranga com um Ebitda 10% acima. A recorrência desse resultado não está 100% clara, mas vale lembrar que estamos em um ambiente de volumes baixos e ainda assim os resultados vieram bons. Os outros negócios ficaram dentro das expectativas”, apontam os analistas do banco.

Para Luiz Carvalho e Gabriel Barra, analistas do UBS BB, a companhia vive um momentum de ganhos no curto prazo, que pode prosseguir em 2021.

“Observamos mudanças positivas ocorrendo, desde o controlador ao nível da administração, e no conselho. Dentre as mudanças estão a inclusão do Pátria no novo acordo de acionistas, a mudança de CFO e novidades sobre o potencial desinvestimento na Extrafarma”, destacaram os analistas.

Mercado Livre (MELI34)

Maior portal de comércio eletrônico da América Latina, o Mercado Livre reportou um volume de vendas (GMV) de US$ 5,9 bilhõe sentre julho e setembro, 62,1% superior em dólar e 117,1% em moeda constante. O total de usuários únicos ativos subiu 92,2%, a 76 milhões.

A companhia fechou o trimestre com lucro líquido de US$ 15 milhões de dólares, resultando em lucro líquido por ação de US$ 0,28 , segundo o balanço. Analistas, em média, esperavam lucro de US$ 10,5 milhões para o Mercado Livre no período, ou US$ 0,17 por ação, de acordo com dados da Refinitiv.

O  volume de pagamentos em seu braço financeiro, o Mercado Pago, subiu 91,7% em dólar e 161,2% em moeda constante, a US$ 14,5 bilhões.

A receita líquida da companhia com sede na Argentina evoluiu 85% em dólar e 148,5% em moeda constante, atingindo o recorde de US$ 1,1 bilhão. A operação no Brasil, que representa 55% do total, alcançou US$ 610,7 milhões, alta de 56,6% em dólar e de 112,2% em reais.

Os números mostram como negócio por canais eletrônicos ganharam tração no Brasil e na América Latina mesmo após governos relaxarem medidas de isolamento social tomadas a partir de março para conter a pandemia, o que deixou milhares de estabelecimentos físicos fechados por meses.

“As boas experiências de comprar online estão agradando os consumidores”, disse à Reuters o presidente de área de comércio do Mercado Livre para a América Latina, Stelleo Tolda.

Em entrevista à agência, Tolda destacou esperar manter o ritmo operacional neste quarto trimestre, dados as datas comerciais incluindo Black Friday e o Natal. Uma percepção melhor do ritmo do comércio eletrônico no Brasil deve vir no começo de 2021, disse, quando também devem acabar programas de auxílio emergencial. A empresa faz planos de abrir novos grandes centros de logística no país no ano que vem, enquanto também trabalha para ampliar a base de vendedores em seu marketplace, incluindo segmentos de moda, supermercado e produção de conteúdo.

“O Mercado Livre entregou um forte conjunto de resultados, bem acima dos esperados por nós e pelo
consenso de mercado”, apontam os analistas do Itaú BBA. Eles apontam que a logística foi outro destaque positivo, com uma rede consolidada e apontando que, apesar da greve dos Correios, o Mercado Livre despachou o dobro de itens registrados em igual período de 2019 e registrou melhora de 20 pontos percentuais nas entregas abaixo de 48 horas.

“O e-commerce do Mercado Livre registrou uma forte aceleração durante o trimestre, apesar da flexibilização das redes sociais medidas de isolamento em vários lugares”, destacam os analistas, que possuem recomendação marketperform para o papel, com preço-alvo de US$ 1.000 para o papel negociado na Nasdaq.

Vale destacar que, entre as empresas brasileiras, a B2W (BTOW3) divulgou os seus números na última semana, apresentando uma alta de 56,2% no GMV comparado ao terceiro trimestre de 2019, totalizando R$ 7,26 bilhões. As próximas companhias revelarão seus números na semana que vem: Magazine Luiza (MGLU3) divulgará seus números no próximo dia 9, enquanto Via Varejo (VVAR3) revelará os resultados dia 11.

Outros destaques de resultados

EcoRodovias (ECOR3)

A EcoRodovias registrou lucro líquido de R$ 71,6 milhões entre julho e setembro, revertendo o prejuízo visto no mesmo período de 2019. No critério recorrente, a companhia teve lucro de R$ 89,2 milhões, crescimento de 53,2% na comparação anual. Segundo a companhia, o indicador foi impulsionado pelo aumento no Ebitda pró-forma em função da redução dos custos caixa, redução da depreciação e amortização e também da provisão para manutenção.

O Ebitda da EcoRodovias entre julho e setembro ficou em R$ 488,8 milhões, revertendo o número negativo de um ano antes. No critério pró-forma, o indicador somou R$ 527,7 milhões, crescimento de 2,4%. Quando se leva em conta os gastos não comparáveis, o Ebitda pró-forma ficou em R$ 532,8 milhões, queda de 2,2%. A margem Ebitda pró-forma foi de 68,4%, crescimento de 2,1 pontos porcentuais.

A receita líquida pró-forma caiu 0,8% no terceiro trimestre, na comparação anual, para R$ 771,2 milhões. Os custos operacionais e despesas administrativas totalizaram R$ 701,5 milhões, aumento de 4,6% ante 2019, devido, principalmente, ao aumento do custo de construção em função das obras iniciais na Ecovias do Cerrado, obras de duplicação na Eco050 e implantação das faixas adicionais na Eco135. Os custos caixa ajustados totalizaram R$ 203,8 milhões, 2,4% acima do ano passado.

A dívida líquida da empresa chegou a R$ 6,848 bilhões, avanço de 1,8% em um ano. O caixa disponível da companhia fechou setembro em R$ 2,289 bilhões, crescimento de 44,8% em relação ao valor registrado um ano antes. O nível de alavancagem da companhia, medida pela relação dívida líquida/Ebitda Pró-forma, ficou estável em 3,3 vezes. O total de caixa e equivalentes é 1,5 vez a dívida bruta de curto prazo.

O Credit Suisse afirmou que os resultados da Ecorodovias estão em linhas com suas estimativas. O lucro Ebitda teve alta de 3%, superior em 1% frente suas estimativas. A renda líquida ajustada teve alta de 56%, superior em 6% frente as expectativas do banco. Os resultados indicam forte retomada após os lockdowns, afirma o banco. O Credit Suisse manteve a recomendação da ação em outperform, com preço-alvo de R$ 17, frente os R$ 10,58 atuais.

O Bradesco BBI afirmou que o Ebitda da Ecorodovias está em linha com suas previsões, e 11% acima da expectativa do mercado. A receita está em linha com a expectativa do Bradesco BBI e 10% abaixo da expectativa do mercado. A receita líquida de R$ 72 milhões fica abaixo da expectativa de R$ 149 milhões do Bradesco BBI, que atribui a diferença ao aumento das despesas financeiras líquidas. O banco manteve recomendação das ações em outperform, com preço-alvo de R$ 20.

Cia. Hering (HGTX3)

A Cia Hering registrou lucro líquido de R$ 155,5 milhões, mais do que o dobro de um ano antes, mas o desempenho foi puxado pela contabilização de créditos tributários.

A companhia afirmou no balanço que apurou créditos presumidos de ICMS de R$ 178,3 milhões no período. Enquanto isso, a receita líquida desabou 33,6%, para R$ 257,8 milhões. O Ebitda caiu quase 79%, para R$ 16,7 milhões.

Apesar dos sinais de retomada da economia, a Cia Hering apurou uma queda de 17 pontos percentuais nas vendas mesmas lojas no trimestre ante mesmo período de 2019.

“É importante ressaltar que as vendas avançaram em sincronia com a retomada gradual das lojas”, afirmou a Cia Hering no balanço. A empresa afirmou que viu em setembro, “movimentos importantes de reposição em todos os canais”, o que sinaliza “perspectiva bastante positiva para o quarto trimestre”.

Para o Credit Suisse, a Cia. Hering deu bons sinais nos seus resultados, apesar da ampla queda esperada nas vendas devido às restrições da Covid para lojas físicas. “Se, por um lado, a receita ficou ligeiramente abaixo de nossas expectativas (queda de 34% na base anual versus expectativa do Credit de 29%), por outro lado, a rentabilidade foi uma surpresa agradável, em nossa opinião, com recuperação mais rápida do que o esperado na margem bruta”, apontam os analistas.

Eles ainda destacam que, entre as empresas que cobrem de varejo, a Cia Hering tem um dos maiores
potenciais para desbloquear valor e retomar o ritmo de crescimento. A empresa tem um modelo de negócios com bons retornos e geração de fluxo de caixa livre positiva mesmo em tempos mais desafiadores, avaliam os analistas.

“Não significa que seja uma tarefa simples – nos últimos 8 anos, a empresa não entregou nenhum crescimento de receita. Além disso, as incertezas em torno do case de investimento aumentam à medida que as perspectivas de consumo para 2021 no varejo discricionário ainda são turvas. Assim, preferimos esperar um cenário menos incerto e uma melhoria consistente dos resultados e, portanto, nós seguimos com a recomendação neutra em HGTX3”, apontam os analistas, que possuem preço-alvo de R$ 24.

Alpargatas (ALPA4)

O lucro atribuído a controladores da Alpargatas, dona de Havaianas, Osklen e Dupé, recuou 91,9% no terceiro trimestre frente o mesmo período do ano anterior, para R$ 5,4 milhões. Excluindo gastos não recorrentes, o lucro foi de R$ 122,4 milhões, alta de 17,7% na mesma comparação.

O Ebitda atingiu R$ 141,1 milhões, alta de 5,8% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Com a venda de operação da Mizuno para a Vulcabras Azaleia, a empresa fez um caixa contábil de R$ 42 milhões. A companhia informou gasto não recorrente de R$ 39,5 milhões ligado a ações durante a pandemia, incluindo doações e adaptações. Reportou também gastos de R$ 17,3 milhões com reestruturação.

Quando se desconsideram itens não recorrentes, o Ebitda subiu 20,1%, para 158,3 milhões. As vendas da empresa somaram R$ 943,5 milhões, alta de 17,8% frente o mesmo período de 2019. As vendas no Brasil subiram 13,9%, para R$ 727,4 milhões. No mercado internacional, a alta foi de 33,3%, para R$ 216 milhões.

A receita líquida foi impulsionada pela Havaianas, que teve alta de 24% no terceiro trimestre frente o mesmo período do ano anterior. Em volume, as vendas tiveram alta de 13%. O preço médio subiu 5%.

Apesar dos resultados fortes, o Bradesco BBI avalia que a alta recente das ações deixa pouco espaço para aumento de valor em 2021. Além disso, a Alpargatas corre risco de sofrer com uma “ressaca” no mercado brasileiro com o fim do estímulo oferecido pelo governo. O banco reduziu a recomendação de outperform para neutra, com preço-alvo de R$ 43 para as ações ALPA4.

A Levante também ressalta que o resultado da Alpargatas foi bom, com o ativo “mais valioso” da companhia – a Havaianas – apresentando um resultado animador e acima do esperado. Contudo, destaca que a ação pode ter uma reação positiva no curto prazo.

“A companhia apresentou bons números e vem demonstrando certa resiliência no seu modelo de negócio, cada vez mais diversificado em termos geográficos (vendas internacionais já representam de 20% a 25% da receita), canais de venda (farmácias, conveniências, mercados, shoppings), expansão do varejo eletrônico além de novos produtos, indo além dos chinelos. O fortalecimento da marca/grife ‘Havaianas’ nos últimos anos também é algo notório. A empresa certamente colhe os frutos neste momento de crise para o varejo”, apontam.

No segmento internacional, o destaque negativo foi o desempenho na APAC (países da Ásia e do pacífico), com queda na receita de 33,4% em dólares e na América Latina, com queda de 51,1%. Tais desempenhos foram parcialmente compensados pelo bom desempenho das receitas na EMEIA (Europa, Oriente Médio, África, Índia), que em euros cresceram 19,7%e na NA&C (América do Norte e Caribe), que em dólares cresceram 27,1%.

“Os catalisadores das ações da Alpargatas são a retomada das vendas em algumas regiões internacionais, sensivelmente afetadas pela Covid/turismo bem como o desempenho da Havaianas no quarto trimestre, período sazonalmente mais relevante para o exercício anual”, aponta a Levante.

d1000 (DMVF3)

A d1000 teve lucro de R$ 1,5 milhão no terceiro trimestre, revertendo assim o prejuízo de R$ 5,9 milhões de 2019.

Já a receita bruta teve queda de 13,5%, a R$ 263 milhões, queda de 13,5%, com o menor fluxo de clientes em shoppings pesando negativamente. A empresa, contudo, destacou: “vale destacar que o terceiro trimestre foi de retomada, com um incremento de 12% da venda média por loja quando comparado com o segundo trimestre”.

O Ebitda foi de R$ 23,6 milhões, 10% superior em relação aos R$ 21,4 milhões do mesmo período de 2019, com margem Ebitda de 9%, alta de 1,9 ponto percentual.

O Ebitda ajustado foi de R$ 4,4 milhões, abaixo da estimativa de R$ 6,4 milhões da XP. “No entanto, acreditamos que isso deve ser revertido daqui para frente, à medida que as vendas se recuperem e a companhia se beneficie de alavancagem operacional, enquanto a margem bruta atingiu um nível sólido. Portanto, mantemos nossa recomendação de compra com um preço-alvo de R$ 20,50 por ação para o final de 2021”, apontam os analistas da XP.

BR Properties (BRPR3)

A BR Properties teve queda de 36% de seu lucro no terceiro trimestre na base de comparação anual, para R$ 16,3 milhões. No mesmo intervalo de 2019, o indicador tinha sido impactado de forma positiva pelo efeito não caixa do imposto diferido na venda de imóveis.

O lucro líquido ajustado (FFO), por sua vez, teve alta de 138%, para R$ 48,7 milhões de julho a setembro. A margem FFO chegou ao patamar recorde de 62%.

A receita líquida teve baixa de 18% no terceiro trimestre na comparação com 2019, totalizando R$ 78,6 milhões. Ao desconsiderar os ativos que não fazem mais parte do portfólio da BR Properties, a receita das mesmas propriedades aumentou 5%.

Os analistas do Itaú BBA destacam que, na frente operacional, inadimplências e ocupações foram notavelmente resilientes em meio às perspectivas desafiadoras e com a sinalização de uma redução no diferimento de aluguel.

“Mantemos nossa classificação marketperform para a ação da BR Properties, com um valor justo de R$ 10 por ação. A BR Properties continua apresentando resultados estáveis, apesar do Covid-19, reforçando a resiliência de seu portfólio e do segmento de escritórios no Brasil. No entanto, mantemos nossa postura mais conservadora uma vez que aguardamos mais notícias sobre a atividade de arrendamento mercantil do empreendimento Parque da Cidade”, avaliam os analistas do BBA.

São Carlos (SCAR3)

A São Carlos, que tem atuação em investimentos e locações de imóveis comerciais, registrou lucro líquido de R$ 50,4 milhões no terceiro trimestre de 2020, quase dez vezes superior ao dado de R$ 5,4 milhões registrado em igual período de 2019.

A receita bruta de locação foi de R$ 63,5 milhões, 2,6% abaixo dos R$ 65,2 milhões em igual período de 2019. O Ebitda recorrente caiu 1,3%, para R$ 46,4 milhões.

O Itaú BBA avaliou que os dados da São Carlos indicam resiliência operacional, mas ficam abaixo de sua expectativa, impactados por uma queda mais acentuada das receitas com aluguel, e resultados financeiros mais pesados.  O banco manteve recomendação market perform (desempenho dentro da média do mercado) para as ações, com preço-alvo de R$ 41,8.

Ômega Energia (OMGE3)

A Ômega Energia, de energia renovável, teve lucro líquido de R$ 37,6 milhões no terceiro trimestre, 19% superior frente o mesmo período do ano passado e revertendo perda de R$ 30,7 milhões no segundo trimestre.

A Ômega destacou melhor desempenho de seus ativos como usinas eólicas, em meio ao início ligeiramente atrasado neste ano da chamada “safra de ventos” na região Nordeste. O Ebitda totalizou R$ 230,6 milhões  se desconsiderados efeitos não-recorrentes, com estabilidade na comparação ano a ano.

Para o Credit Suisse, os resultados da Ômega foram sólidos em uma base anual (ligeiramente melhores do que o esperado pelo Credit e um pouco mais fracos versus consenso), principalmente como resultado da melhor geração e adição de ativos.

“Acreditamos que esses resultados refletem uma melhor produção eólica no segundo semestre, apesar da pressão de custo sobre novos ativos adicionados. Além disso, ainda acreditamos que o principal gatilho para a ação depende principalmente das perspectivas de novo crescimento da carteira”, avaliam os analistas.

A recomendação segue neutra para os ativos, com preço-alvo de R$ 42,70 para os ativos OMGE3.

Brasil Agro (AGRO3)

A BrasilAgro, líder na aquisição, desenvolvimento e venda de propriedade rurais com alto potencial de valorização, registrou lucro líquido de R$ 75,65 milhões no primeiro trimestre da safra 2020/21 (julho a setembro), representando aumento de 86,5% em comparação com igual período da safra anterior 2019/20 (R$ 40,576 milhões).

O Ebitda ajustado cresceu 18,8% entre os períodos, passando de R$ 57,44 milhões para R$ 68,24 milhões. O resultado reflete receita líquida de vendas de R$ 229 milhões no primeiro trimestre de 2020/21, composta por R$ 6,8 milhões de venda de fazendas e R$ 222,2 milhões de vendas de produtos agrícolas. Esse desempenho em receita corresponde a um aumento de 23,8% em relação ao mesmo período do ano anterior 2019/20 (R$ 184,98 milhões).

Para a safra 2020/2021, a BrasilAgro deve operar uma área de 155,2 mil hectares no Brasil e no Paraguai que, mesmo com a venda de 3,2 mil hectares no exercício passado e o encerramento de contratos de arrendamento, aumentou 1,3% em relação à safra anterior. A produção de grãos (soja, milho e feijão) deve atingir 340 mil toneladas, aumento de 7,9% ante 2019/20 (315 mil t), além de 1,9 milhão de toneladas de carne.

Segundo o Credit Suisse, a BrasilAgro deve se beneficiar nos próximos anos de (i) um aumento na área plantada, (ii) maiores rendimentos como resultado de terras mais maduras, e (iii) uma maior participação de plantações de mais valor.

“Além disso, a AGRO3 será beneficiada pela desvalorização do real, que deve se traduzir em preços mais elevados de grãos e açúcar. Por fim, vemos a empresa negociando com um desconto de 35% sobre o valor presente líquido, que não incorpora qualquer valorização potencial nos preços dos terrenos daqui para frente. Em nossa opinião, isso deve acontecer naturalmente, já que 70% dos terrenos da empresa ainda estão em desenvolvimento ou em estado bruto. Consequentemente, continuamos otimistas sobre o caso de investimento da AGRO3”, ressaltam, com recomendação outperform e preço-alvo de R$ 22.

Confira a recomendações das casas de análises para as ações, segundo compilação feita pela Refinitiv:

Empresa Ticker Recomendações de compra Recomendações neutras Recomendações de venda
Banco do Brasil BBAS3 11 3 0
Ultrapar UGPA3 10 3 0
Mercado Livre MELI34 15 7 0
EcoRodovias ECOR3 8 5 1
Cia. Hering HGTX3 1 6 5
d1000 DMVF3 2 0 0
BR Properties BRPR3 4 3 0
São Carlos SCAR3 0 3 0
Ômega Energia OMGE3 5 2 0
Brasil Agro AGRO3 2 0 1

(Com Reuters, Bloomberg e Agência Estado)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.