Via (VIIA3) desaba 8,65%, Magalu (MGLU3) cai 5% e Yduqs (YDUQ3) tem baixa de 4%: o que explica a virada das “ações domésticas” após o Copom?

Empresas ligadas à economia doméstica registram ganhos após início do ciclo de cortes de juros por aqui

Equipe InfoMoney

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O dia tão esperado para o mercado aconteceu. Na noite da última quarta-feira (3), o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a Selic em 0,5 ponto percentual, que surpreendeu uma parte importante do mercado que projetava uma baixa de 0,25 ponto.

A notícia gerou uma repercussão geral positiva no mercado, com as ações voltadas à economia doméstica em destaque.

A expectativa era de ganhos para essas ações uma vez que a baixa de juros barateia o crédito e financiamentos, além de gerar mais impulso para a economia. Desta forma, a baixa de juros beneficiaria principalmente ações de varejistas, construção, shoppings e de educação.

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A abertura do mercado nesta quinta foi positiva para os setores. No início da sessão, os ativos da Cogna (COGN3), Cyrela (CYRE3), Lojas Renner (LREN3), que já tinham subido entre 1,5% e 3,5% na véspera, voltaram a ter ganhos. Yduqs (YDUQ3), do setor de educação, assim como a Cogna, subia cerca de 3% logo na abertura.

Também no início do pregão, os papéis de companhias de e-commerce, como Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3), também registravam valorização, com altas respectivas de 2,70% (R$ 3,42) e 1,92% (R$ 2,12). Já no setor de construção, MRV (MRVE3), Cyrela (CYRE3), Direcional (DIRR3), Plano&Plano (PLPL3), entre outras, avançavam, com ganhos respectivas de 3,02%, 3,86%, 2,21% e 2,04%.

Contudo, os papéis registraram uma forte virada de desempenho ao longo do pregão, sendo que as “ações domésticas” fecharam o dia entre as maiores baixas da sessão.

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Os papéis ordinários da Via, Méliuz e Magazine Luiza (MGLU3) perderam, respectivamente, 8,65%, 6,24% e 5,11%, figurando entre as maiores quedas do Ibovespa.

No setor de educação, Yduqs caiu 4,12%, enquanto Cogna teve baixa de 2,04%.

Já entre as construtoras, a MRV zerou as altas e fechou em queda de 0,14%, enquanto Cyrela fechou em alta de 2,78% e Eztec avançou 1,97%, mas fechou bem longe das máximas.

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Alguns pontos explicam o movimento.

Uma das explicações reside na curva de juros, que passou por forte ajuste nesta quinta-feira, com as taxas dos contratos futuros de juros de curto prazo encerrando o dia com baixa firme, após o Copom contrariar boa parte do mercado com o corte acima do esperado.

Entre os vencimentos mais longos, as taxas tiveram altas, em sintonia com o avanço firme dos rendimentos dos Treasuries no exterior. Além disso, na curva de juros futuros, ficou refletido o cenário que começa a ser projetado, com juros mais baixos num primeiro momento, mas com pressão inflacionária maior no futuro.

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Com isso, os DIs para 2024 e 2025 perderam 19,5 e 18,5 pontos-base, a 12,46% e 10,49%. As taxas dos contratos para 2027 e 2029, do outro lado, ganharam 4 e 10,5 pontos, a 10,11% e 10,39%, e as para 2031, 18 pontos, a 10,83%.

“Na ponta curta, com o corte maior e sinalização de prosseguimento, a curva embute a certeza na queda dos juros. Já nos contratos mais longos, os investidores costumam se proteger do sentimento de maior leniência do banco central com a inflação. As taxas mais longas também foram pressionadas pelos yields dos treasuries, ainda fruto do rebaixamento da dívida dos EUA”, explica Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Um fator também citado por participantes do mercado é uma preocupação com a possibilidade de que a postura monetária mais branda do Copom reflita, de alguma forma, a pressão política exercida desde o início do ano pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com um coro de autoridades cobrando cortes da Selic, o que também repercutiu no mercado.

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Cabe destacar ainda que diversas dessas ações já tiveram um forte avanço desde março, em que ganhou força a tese de queda dos juros, o que gerou um movimento de “sobe no boato, cai no fato”.

Conforme destaca o estudo do Trademap, diversas ações tiveram valorização superior a 50% desde 23 de março de 2023 até 2 de agosto de 2023.

O maior avanço foi da Yduqs, com uma valorização de 240,76%. Essa ação havia registrado um recuo de 64,90% nos 12 meses anteriores a 23 de março de 2023, mas no acumulado de 23 de março de 2022 até 2 de agosto de 2023, registrou uma valorização de 19,62%.

Entre março e agosto, MRV subiu 99%, Cyrela avançou 88% e e EzTec saltou 84%, enquanto Cogna teve alta de 69%. Assim, o mercado

Além disso, atenção para a temporada de resultados, principalmente de varejistas, que divulgarão seus números nas próximas semanas.

Conforme destaca o Bradesco BBI, após o recente rali, as alavancas micro das empresas provavelmente prevalecerão, em relação ao macro, no desempenho das ações.

“Notavelmente, dado o maior endividamento e vendas dependentes de crédito, Magazine Luiza e Via devem ser os principais beneficiários dos cortes antecipados nas taxas de juros. No entanto, por enquanto, devido não apenas ao momento de curto prazo, mas também às alavancas micro/riscos de execução, continuamos neutros nessas ações”, apontou o banco.

Visão segue positiva

Em relatório, a XP destacou as ações com maior correlação negativa com taxas de juros, isto é, que tendem a se beneficial de cenário de queda de juros, que também incluem diversas ações do setor de consumo doméstico. Dentre elas, papéis do setor de construção, shopping, transportes e varejo:

Como destaca a Guide, as small caps costumam ter ganhos superiores ao Ibovespa em ciclo de corte de juros, mas os setores de saúde, educação e concessões também registram desempenho relativo superior ao do índice.

“Empresas do setor imobiliário, tanto construtoras quanto administradores de shoppings, também apresentam desempenho positivo durante os ciclos de redução dos juros”, apontam.

Vale destacar que estes grupos tiveram desempenho ruim durante a alta dos juros entre junho de 2021 e agosto de 2022. Estes mesmos grupos já começaram a ter melhor desempenho recentemente, a partir de abril.

Isabel Lemos, gestora de renda variável do Fator, destaca também a visão de maiores ganhos para as empresas ligados ao setor doméstico.

Entre eles, o imobiliário, consumo, industrial. “Todo mundo acaba ganhando com juros mais baixos, mas a gente entende que esses sejam os setores que tenham uma reação melhor”. Outro ponto importante na queda de juros é que provavelmente também haverá mais investimentos.

Outras empresas que se beneficiam são as endividadas em moeda local.