As ações que entraram no radar dos investidores com a queda recente das commodities agrícolas

Ativos de BRF, Ambev, M.Dias Branco e até da Camil têm registrado fortes desempenhos em sessões de menor ânimo para o mercado

Lara Rizério

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Em um ambiente de aversão ao risco global e de forte queda das commodities com temores por uma desaceleração econômica, o Ibovespa ronda os 100 mil pontos, com sessões marcadas pela volatilidade. Antes da forte alta desta quinta-feira, até a sessão da véspera, o índice tinha leves ganhos de 0,18% no acumulado de julho e queda acumulada de 5,82% em 2022. Apenas em junho, o benchmark da Bolsa brasileira registrou queda de 11,5%, a maior baixa desde março de 2020.

Neste cenário de aversão ao risco, algumas ações têm ganhado destaque recentemente por seu desempenho positivo, beneficiadas pela queda recente das commodities, notoriamente as agrícolas. Por outro lado, aparecem na contramão em um dia de maior ânimo para os mercados, como nesta quinta-feira, registrando queda em sessões de ganhos para o Ibovespa, puxado pela alta das commodities.

Apenas em julho, até a sessão da véspera, BRF (BRFS3) subiu 15,23%, Ambev (ABEV3) subiu 6,19% e, fora do índice, M.Dias Branco (MDIA3) teve ganhos de 14,52%. No ano, MDIA3 tem avanço de cerca de 27%, enquanto ABEV3 e BRSF3 ainda registram queda.

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Em comum, os três papéis são beneficiados em um cenário de queda das commodities agrícolas, após uma forte pressão em seus custos por conta da alta das cotações, com os preços aquecidos pelos estímulos governamentais, mas também pela guerra na Ucrânia.

Já em junho, o milho caiu 18%, a maior queda em uma década, enquanto o trigo teve a maior queda desde 2015, com uma variação de magnitude semelhante. Os mercados agrícolas estão sendo impactados com uma desaceleração econômica global, à medida que os bancos centrais aumentam as taxas de juros para combater a inflação crescente.

A perspectiva de oferta também recebeu suporte, com o governo dos EUA elevou na última semana sua estimativa
para a área plantada de milho. No trigo, os suprimentos devem chegar ao mercado à medida que os agricultores
começam a colher no Hemisfério Norte.

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Os analistas do Bradesco BBI destacam estarem pessimistas com as cotações das commodities agrícolas, apesar dos riscos climáticos e geopolíticos com a continuidade da guerra na Ucrânia. Para Leandro Fontanesi e Victor Romano, os fatores que estão pesando sobre os preços devem continuar.

São três pontos: (i) aumento das taxas de juros nos Estados Unidos; (ii) a demanda da China decepcionante, com as margens da indústria de suínos em dificuldades sugerindo que os preços dos grãos precisam cair até 25% para que as margens retornem ao ponto de equilíbrio; e (iii) a equipe de petróleo e gás do banco prevendo preços mais baixos do petróleo para 2022 e 2023, o que é historicamente baixista para os preços das commodities agrícolas.

Nesta quinta, o BBI reforçou seu case otimista com a BRF, que tem os grãos como insumo para a alimentação dos frangos. “Embora haja um atraso de 6 meses das mudanças nos custos de alimentação à vista para refletir nos resultados, dada a capacidade de armazenamento e o ciclo de produção, acreditamos que o mercado antecipa mudanças na lucratividade futura com base nas mudanças nos preços no mercado à vista”, apontam os analistas do banco.

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A recomendação dos analistas para o papel é outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 27, ainda um potencial de valorização de 72% em relação ao fechamento de quarta-feira (6).

Por outro lado, muitos analistas seguem céticos com relação ao case de investimentos da BRF, caso do Morgan Stanley e do Goldman Sachs, que possuem recomendação equivalente à venda para os ativos. O Morgan aponta que a ação não é tão barata para não ser ignorada, destacando o ambiente de maior competição e cenário macroeconômico mais fraco.

Na lista das ações beneficiadas com a queda de commodities, o BBI reforça compra para os ativos ABEV3, apontando que  os preços das principais commodities usadas na produção de cerveja caíram significativamente no último mês (como alumínio, com queda de 10%, e trigo), enquanto entendem que a indústria de cerveja continua a aumentar os preços devido ao ambiente inflacionário geral.

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Os analistas do BBI acham que as tendências recentes sugerem que o cenário para as margens da Ambev está melhorando, o que tem sido uma das principais preocupações dos investidores nos últimos trimestres, embora observem que leve cerca de 12 meses para que as mudanças nos preços de commodities se reflitam nos resultados da companhia, devido aos hedges.

“Dito isso, estimamos que os dados de inflação de cerveja, com alta anual de 9% a partir de junho, sejam superiores ao aumento estimado do custo de 8% com base nos preços spot de commodities e outros componentes, como pessoal”, apontam os analistas.

Além disso, acreditam que um ambiente competitivo relativamente favorável permitirá à Ambev recuperar margens, à medida que os preços das commodities caem e o consumo retorna aos bares, onde as margens são maiores.

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Isso porque a Heineken provavelmente enfrentará restrições de capacidade até 2024, quando deverá abrir uma nova fábrica, e entende que Petrópolis está buscando uma reviravolta em sua operação, o que pode levar a uma redução em sua capacidade de distribuição.

M. Dias Branco e Camil chamam a atenção dos analistas

Completando a lista, está a M.Dias Branco, que teve os resultados dos últimos trimestres bastante afetados pela alta de custos dos grãos, especialmente trigo, usado para fabricação de seus produtos.  O BBI também tem recomendação de compra para as ações MDIA3 com preço-alvo de R$ 40.

O Santander, por sua vez, elevou a recomendação para os ativos na véspera, elevando o preço-alvo de R$ 23 para R$ 32, mas tem recomendação neutra para os papéis.

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Para os analistas, a M. Dias tem demonstrado um sólido poder de precificação, o que pode se traduzir em resultados melhores do que o esperado no segundo trimestre de 2022 e segunda metade do ano. Além disso, a companhia está negociando com um desconto razoável em relação à sua média histórica de 5 anos, com potencial limitado para revisões para baixo dos lucros

A XP iniciou cobertura para os papéis MDIA3 com recomendação neutra, com preço-alvo para o fim de 2023 de R$ 30,30. “A perspectiva de preços mais baixos de commodities deveria ser a principal razão para otimismo, mas o aumento na volatilidade à medida que o mercado digerir uma possível recessão no médio prazo, juntamente com o clima sendo um problema para a maioria das commodities, sugere que devemos esperar para ver”, avalia.

Do lado positivo, a equipe de análise destaca que a empresa atua principalmente nas regiões Nordeste e Norte, sendo as demais regiões uma “zona de ataque”, representando uma avenida de crescimento sólido, especialmente a região Sudeste (maior PIB no Brasil); (ii) seu processo produtivo verticalizado permite que a empresa tenha preços mais competitivos nas categorias em que atua, permitindo à empresa arbitrar preços em períodos de alívio nos preços das commodities; e (iii) as aquisições recentes também representam um caminho de crescimento sólido, pois a empresa provou ter sucesso na integração e no aumento das marcas adquiridas.

Para a Camil (CAML3), a visão da XP é mais positiva. A ação da companhia, por sinal, tem ganhado a atenção dos analistas recentemente. Os analistas da XP ressaltam que não são os maiores entusiastas da estratégia de precificação da empresa, que limita sua capacidade de arbitragem em momentos de alívio nos preços de commodities.

Porém, possuem uma visão positiva para a CAML3 visto que (i) tem margens resilientes dado que a empresa atua em categorias quase essenciais para o consumidor brasileiro, mantendo marcas icônicas e top-of-mind; (ii) a diversidade de produtos complementares traz ganhos de escala para a Camil tanto na negociação com os clientes quanto na otimização de sua logística e ampla rede de distribuição; (iii) mercados internacionais e novos segmentos (Massas e Café) são importantes vias de crescimento para a empresa, em sua opinião.

“Se os preços das commodities caírem mais do que o esperado, especialmente trigo e óleos vegetais, a MDIA3 pode nos surpreender, mas a empresa precisa pressionar por melhores margens e ainda diminuir sua capacidade ociosa. No entanto, acreditamos que a CAML3 seria favorecida em uma queda suave nos preços das commodities devido às suas marcas sólidas e icônicas e diferenciada presença comercial”, apontam os analistas da casa.

A Camil ganhou elevações de recomendação para as suas ações nas últimas sessões pelo Santander e pelo Itaú BBA. Em suas revisões de cenário para a ação, as duas casas destacam outros pontos além do cenário para as commodities.

Os analistas do Itaú BBA, que elevaram a recomendação para equivalente à compra e o preço-alvo dos ativos de R$ 11 para R$ 13, dizem que, quatro anos após a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês), a Camil voltou a entregar resultados sólidos e a cumprir as promessas feitas no período em que pretendia concretizar sua listagem na B3.

“Atualmente, a empresa tem chamado a atenção dos investidores por causa de um momento positivo e da sua capacidade de execução de fusões e aquisições assertivas, que vêm trazendo resultados acima do esperado”, apontam.

Eles avaliam que, desde o IPO, a empresa sofreu no mercado de ações com um “de-rating”, ou seja, foi reclassificada por parte dos investidores por ter dificuldades para atingir os resultados projetados no período de listagem.

No entanto, de acordo com sua diretoria, a Camil optou por postergar parte dos planos que tinha feito na época devido a uma série de adversidades no mercado, principalmente aquisições prometidas que não seriam economicamente viáveis.

Com a normalização do mercado e novas oportunidades surgindo, a Camil realizou duas aquisições importantes em 2021: i) a da Santa Amália, empresa de massas líder em Minas Gerais, que permitiu que a companhia entrasse em um segmento desejado e prometido desde o IPO e ii) a aquisição do direito de uso da marca União para a produção de café, outro setor que tem se mostrado de suma importância à empresa.

“Nas duas frentes, a Camil tem conseguido reportar margens (rentabilidade) acima dos níveis históricos, provando a sua habilidade e assertividade na hora de escolher os alvos desejados para suas operações de aquisição”, avalia o BBA.

“Entendemos que a empresa está passando por um momento operacional otimista e que seu histórico recente comprovou sua capacidade de execução e de integração de novos negócios. No entanto, enxergamos que grande parte do potencial da companhia ainda não está embutido em seu preço atual, sobretudo pelos cenários conservadores considerados para os segmentos de massa e de café”, concluem.

O Santander iniciou a cobertura para a ação nesta semana com recomendação equivalente à compra e preço-alvo de R$ 14,60, destacando que oferece um portfólio defensivo, porém atraente, de produtos básicos, o que é um bom presságio para a Camil, dado o atual ambiente macro inflacionário.

Ela conta com vias claras de crescimento, como massas e café, além de um balanço sólido para suportar dividendos robustos e fusões e aquisições.

“A expectativa é de que o portfólio de produtos básicos da Camil tenha bom desempenho no atual ambiente inflacionário, enquanto ajustes na oferta de feijão e a introdução de novas categorias (por exemplo, massas e café) podem levar à expansão da margem do entre 2022 e 2023”, avalia o banco. A projeção é que a demanda por produtos básicos da marca permaneça resiliente e a potencial ajuda governamental permite otimismo com as perspectivas de consumo de alimentos básicos no segundo semestre deste ano.

Na contramão do mercado

Apesar do maior otimismo recente com os ativos com o atual cenário, deve-se destacar também que, em sessões de recuperação das commodities, ainda que em um movimento pontual, estas ações registram um desempenho abaixo da média do mercado.

Na sessão desta quinta, por volta das 12h (horário de Brasília), enquanto o Ibovespa se recuperava e saltava cerca de 2%, MDIA3 tinha baixa de cerca de 1,20%, BRFS3 caía 1,72%, ABEV3 tinha baixa de 0,56% e CAML3 tinha queda de 2,50%. Por outro lado, ações de produtoras de grão, como SLC (SLCE3), subiam mais de 5%, ação que tem recomendação de venda pelo Bradesco BBI.

O Morgan Stanley também tem recomendação equivalente à venda para os papéis SLCE3, também mais conservadores com os preços de commodities. “A SLC desfrutou de uma merecida reclassificação, em nossa opinião, após os resultados muito fortes e geração de caixa, bem como aumentos de área plantada, rendimentos agrícolas e valor da terra. Tudo isso, a nosso ver, já está refletido no valuation”, apontam.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.