Após salto das ações de varejistas, XP e Bradesco BBI revisam projeções para o setor e apontam novas favoritas

Analistas seguem otimistas com as empresas do segmento de e-commerce, mas já esperam ganhos menores para algumas delas

Rodrigo Tolotti

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Melhor setor da Bolsa desde o início da crise do coronavírus em março, as varejistas com grande exposição ao e-commerce já registraram fortes valorizações nos últimos dois meses, com ganhos que chegam a mais de 100%.

Porém, diante deste forte e rápido rali, analistas começam junho revisando algumas projeções para estar empresas, apesar de ainda mostrarem otimismo com o setor. Bradesco BBI e XP Investimentos fizeram algumas mudanças nas recomendações para incorporarem o novo cenário e o desempenho recente dos papéis.

Desde as mínimas atingidas em março, as ações do Magazine Luiza (MGLU3) já saltaram 65%, enquanto a B2W (BTOW3) subiu 91% e a Via Varejo (VVAR3) disparou 135%. Isso em um período em que o Ibovespa registrou ganhos de cerca de 20%.

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Apenas em maio, a Via Varejo avançou 35%, com o Magalu logo atrás, subindo 29,5%. A B2W, por sua vez, saltou 25% no mês passado. Ainda no setor, a Lojas Americanas (LAME4) ficou mais para trás, com ganhos de 13,5%.

Os analistas do Bradesco BBI explicam que o movimento é justificado, dada a forte aceleração de curto prazo no crescimento das vendas on-line (GMV) e os impactos que isso terá no longo prazo.

“Estimamos que o e-commerce atingirá quase 10% das vendas no varejo em 2020, enquanto esperávamos isso apenas em 2023 antes da pandemia da Covid-19. O crescimento das categorias de baixa penetração, maior frequência de compra e aumento de novos compradores são consequências positivas da atual crise”, afirmam.

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Assim, diante deste cenário, os analistas afirmam que o risco/retorno das ações do setor parece “mais equilibrado”, com alguns múltiplos de 2021 já acima das máximas históricas, o que resultou no rebaixamento dos papéis de Magalu e B2W, ambos de Outperform (desempenho acima da média do mercado) para Neutro.

“Nosso rebaixamento para Neutro é puramente motivado por valuation – continuamos a ver as duas como vencedoras a longo prazo e esperamos que ambas ganhem participação de mercado nos próximos anos”, explica o BBI.

Apesar do rebaixamento, os analistas elevaram seus preços-alvo para as duas empresas. No caso da B2W passou de R$ 78 para R$ 100, enquanto Magazine Luiza agora tem R$ 65 – ante R$ 56 anteriormente.

A equipe do banco ainda destaca que no caso de Magalu, a expectativa ainda é que a empresa seja a maior ganhadora de market share nos próximo anos, em detrimento do Mercado Livre, que também vem subindo forte neste cenário atual (alta de 74% desde março), mas que deve perder mercado para a concorrência no médio e longo prazo.

No caso de B2W, a XP também revisou seu cenário, apesar de manter sua recomendação Neutra para os ativos (confira o relatório aqui). Os analistas se disseram “positivamente surpresos com a velocidade com que a empresa executou sua estratégia omnichannel desde o início da pandemia da Covid-19, expandindo a solução de ‘ship from store’ (entrega direto da loja) em todas as Lojas Americanas, além de cerca de 2.500 outras unidades de vendedores no Marketplace”.

Para eles, a varejista deve ter um forte crescimento de GMV de 32% entre 2019 e 2022 em média, combinado com uma melhora na geração de caixa (R$ 543 milhões em 2020 vs. R$ 190 milhões em 2019).

Esta melhora deverá ser puxada por dois fatores: um de aumento do sortimento, que deve suportar um crescimento no número de usuários; e outro com os recursos do omnichannel melhorando a oferta de logística.

Especificamente sobre os números da B2W, a XP projeta um crescimento de vendas líquidas para 2020-2022 de 29% em média. As estimativas para o Ebitda para 2020 e 2022 aumentaram em 45% em média, impulsionadas principalmente por uma maior alavancagem operacional.

Por outro lado, os analistas esperam que a empresa alcance lucro líquido positivo apenas em 2022 (contra 2021 projetados anteriormente), em função do aumento relevante das nossas projeções de despesas financeiras (agora calculadas em maior granularidade).

Apesar de não estar exatamente no mesmo setor, a XP também aproveitou o momento para revistar suas projeções para o Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), rebaixando a recomendação para Neutra, com redução de preço-alvo de R$ 100 para R$ 70 este ano.

Segundo os analistas, a empresa ainda deve ter um forte ritmo de crescimento de vendas no curto prazo, impulsionado pelo aumento do consumo básico das famílias e por um câmbio mais favorável na operação internacional do GPA. Além disso, eles também esperam uma melhora contínua, mas gradual, da margem na operação de varejo da empresa, em média +0,4 p.p por ano entre 2020 e 2021.

Por outro lado, a XP acredita que a visibilidade em relação aos resultados permanecerá reduzida, o que se deve a três fatores: um aumento mais gradual do que o esperado da rentabilidade da operação de varejo no Brasil; volatilidade na linha de “outras despesas”; e margens abaixo do esperado na operação da Colombia (Éxito).

As “favoritas” dos analistas

Apesar do menor ânimo com boa parte do setor, os analistas seguem mais otimistas com papéis como Lojas Americanas e Via Varejo. A primeira foi elevada pela XP para Compra e mantida pelo Bradesco BBI em Outperform, mesma recomendação que o banco tem para a dona da Casas Bahia e Ponto Frio.

Segundo a XP, as vendas da Lojas Americanas têm se mostrado resilientes em meio à crise desencadeada pela Covid-19, registrando um crescimento de 2,0% ao ano no conceito mesmas lojas no primeiro trimestre, apesar do fechamento temporário de cerca de 30 % das lojas da companhia, localizadas em shopping centers.

Os analistas explicam que isso foi suportado por um “progresso surpreendentemente rápido em todos os recursos de multicanalidade com a B2W”, além também de um “sortimento de loja flexível e de ticket baixo, recentemente mais concentrado em itens de necessidade básica”.

Com isso, eles acreditam que estes fatores devem suportar um forte crescimento médio de lucro de 20% entre 2019 e 2022 para a empresa, com retornos sólidos (28% de ROIC em 2021 vs. 26% em 2019), também apoiados pela melhoria das tendências de capital de giro.

Além disso, a XP destaca que, considerando o preço atual das ações da Lojas Americanas e da B2W, além do múltiplo-alvo de 20 vezes para a LASA (operação de lojas físicas da Lojas Americanas) em 2021, o valor da participação de 61% da companhia na B2W negociaria hoje com um desconto de 24% em relação ao valor implícito com base no preço de tela.

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Por fim, a empresa que liderou os ganhos nos dois últimos meses seguidos, Via Varejo, teve seu preço-alvo elevado de R$ 11 para R$ 15 pelo Bradesco BBI, sendo R$ 1 apenas pelas estimativas mais altas de vendas online, enquanto o restante é por uma redução do prêmio de risco com a Covid-19, o que coloca a empresa em linha com B2W e Magalu, mas com um custo de capital maior.

“Assumimos ganhos de participação no e-commerce em 2020 e 2021, mas, em geral, uma participação estável depois disso. Aguardamos a entrega de várias iniciativas nos próximos dois meses antes de assumir uma visão mais otimista”, explicam os analistas.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.