Após revisão tarifária e marco legal do saneamento, desestatização da Sabesp deve voltar ao foco dos investidores

Revisão tarifária feita da Arsesp foi positiva, mas grande catalisador para os ativos será a retomada das discussões sobre privatização ou capitalização

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após o Congresso manter os vetos presidenciais ao novo marco do saneamento básico, aumentando as expectativas pela desestatização da Sabesp (SBSP3), mais uma notícia positiva para a companhia paulista de saneamento impulsionou a ação na sessão desta sexta-feira (9).

A Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp) divulgou nota da revisão tarifária final da Sabesp em 2021, com tarifa de R$ 5,1251  por metro cúbico para 2021. A tarifa média máxima a ser vigente a partir de maio ficou acima do preço da fase preliminar do processo de 3ª revisão tarifária, de R$ 4,8413.

Às 15h47 (horário de Brasília), os ativos subiam 2,77%, a R$ 43,01, enquanto o Ibovespa registra leve baixa no mesmo horário. Na máxima do dia, os ativos chegaram a saltar 4,87%, a R$ 43,89.

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De acordo com as deliberações da Arsesp, a base regulatória de ativos líquida (RAB) foi calculada em R$ 55,89 bilhões  a preços de outubro de 2020, praticamente em linha com os preliminares R$ 55,4 bilhões e 2,3% superior ao que os analistas do Credit Suisse estimavam.

O banco aponta que houve um aumento tarifário de 7,6% para o segmento residencial (em linha com a estimativas do banco), com a proposição também de uma mudança na estrutura tarifária a partir de 2022, que é melhor do que a proposta enviada em fevereiro de 2021.

A revisão, apontam os analistas do Credit, implicou em uma RAB superior ao esperado, incluindo: (i) R$ 3,2 bilhões de investimentos que não entraram em revisões tarifárias anteriores; (ii) estimativas para Santo André e Mauá (que não estavam na proposta), mas que foram compensados parcialmente por (iii) maior taxa de depreciação de 3,3% (2,5% anteriormente); e (iv) estimativas iniciais inferiores de RAB. Os custos totais chegam a R$ 7,77 bilhões (em linha com a proposta, mas 8% abaixo das estimativas do banco).

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Os volumes indicam uma taxa de crescimento média de 2,2% em comparação com a estimativa do banco de crescimento de 2,1% para 2021. Além disso, o regulador tem como meta um intervalo de receita exigida de 2021-2024 que deve reduzir os riscos de implementação das tarifas.

Já a nova estrutura tarifária inclui componentes fixos e variáveis, tabelas de tarifas iguais para diferentes regiões onde
a Sabesp presta serviços, incentivos para tratamento (tarifa de tratamento de esgoto) e reajustes tarifários reais de 2022 a 2024.

“Foi um bom resultado, com o RAB final da revisão tarifária melhor do que nossas estimativas, apesar de várias mudanças (uma avaliação inicial inferior, mas corrigindo as baixas de ciclos anteriores e incluindo novos municípios na revisão do ciclo). O aumento tarifário para 2021 está em linha com as estimativas, mas a nova estrutura tarifária implica maior Ebitda  no final do ciclo (2024) se totalmente implementado. Nós mantemos nossa recomendação outperform”, apontam os analistas do Credit, que possuem preço-alvo de R$ 60,90 para os ativos.

Os analistas da XP destacaram que os valores finais podem corresponder a um aumento tarifário significativo da ordem de 2 dígitos. Eles ressaltaram, contudo, que a base de comparação com as tarifas vigentes não seja trivial devido à alteração da estrutura tarifária da companhia e à exclusão do PIS/Cofins dos cálculos na nova metodologia.

De qualquer forma, os analistas da XP possuem uma visão positiva dos termos finais apresentados para a revisão tarifária, mas seguem com recomendação neutra para a ação, com preço-alvo de R$ 50.

Cabe destacar que, mesmo com as notícias positivas, a ação registra queda de cerca de 3% em 2021, enquanto o Ibovespa apresenta baixa inferior a 1%. Para Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asset, a ação tem sofrido no curto prazo também com a alta do dólar (grande parte da dívida da companhia é na divisa americana), além da pandemia e com a discussão tarifária que estava tornando o cenário mais nebuloso para a estatal. Agora, avalia, com a notícia positiva sobre o reajuste tarifária – e ainda acima do esperado -, um fator de incerteza saiu do radar da companhia.

Mesmo com a avaliação positiva sobre o reajuste, o grande catalisador para as ações são as possíveis novidades sobre a desestatização da companhia e, neste sentido, se haverá uma capitalização (como foi sinalizado ano passado e que implicaria um menor potencial de valorização para as ações) ou uma privatização (que levaria a uma maior valorização dos ativos).

A capitalização implicaria a criação de uma ”holding” em que o estado teria 50,1% do controle acionário da Sabesp, para depois vender até 49% da holding a um sócio estratégico. Na avaliação do Bradesco BBI, para qualquer investidor comprar uma participação minoritária na Sabesp por meio de uma holding, seriam necessárias melhorias na governança corporativa para tornar o negócio atraente. Contudo, o potencial de ganhos para os investidores e de mudanças na companhia seriam mais claros num case de privatização.

Em agosto de 2020, quando as ações foram fortemente impactadas com a sinalização da preferência do governo de São Paulo pela capitalização (depois atenuada pela informação de que não havia um modelo definido ainda estabelecido), o Bradesco BBI apontou que, mesmo que o estado almejasse a capitalização, o sucesso desse modelo não estaria claro, pois, com a nova lei de saneamento, muitos ativos do setor poderão vir a mercado e investidores estratégicos poderiam escolher um melhor player de controle privado para aproveitar a nova onda de investimentos em saneamento.

“Portanto, se o estado tentar e fracassar, pode, eventualmente, voltar ao plano de privatizações”, afirmaram os analistas. Neste caso, a privatização da Sabesp poderia ser feita em dois modelos: o mais difícil e lucrativo para o estado é leiloar a
totalidade de sua participação, mas uma alternativa mais rápida e fácil seria vender parte de sua participação no mercado,
transformando a Sabesp em uma “corporation” completa. Esta última opção seria a melhor forma de o estado monetizar
parte de sua participação na Sabesp, agregando valor às suas ações remanescentes que poderiam ser vendidas com
uma valorização superior posteriormente, apontou a equipe de análise.

Assim, com a revisão tarifária concluído e a aprovação do marco do saneamento, fatores estes de incerteza para a companhia no curto prazo,  os olhos dos investidores devem se voltar de novo para o tema.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.