Após Marfrig comprar fatia da BRF, BBI corta recomendação de BRFS3 e eleva de MRFG3; Credit destaca “virada” com operação

Os analistas do Credit Suisse apontam que estão "curiosos" para saber o que vai acontecer com as ações da BRF nos próximos dias

Lara Rizério

Planta da BRF (Divulgação)

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SÃO PAULO – O noticiário sobre a compra de 24,2% da empresa de alimentos BRF (BRFS3) pela processadora de carnes Marfrig (MRFG3) segue repercutindo no mercado nesta segunda-feira (24).

Após uma sessão bastante movimentada e cheia de rumores na última sexta-feira (21), a Marfrig confirmou após o fechamento do pregão ter comprado cerca de 24,23% no capital da empresa de alimentos BRF (BRFS3) e disse que a operação “visa diversificar os investimentos” do grupo. Em comunicados, Marfrig e BRF confirmaram as transações, que haviam sido divulgadas antes na imprensa. O negócio somou 196,68 milhões de papéis, comprados via opções e leilões em bolsa.

“A aquisição (…) visa a diversificar os investimentos da Marfrig em um segmento que tem complementaridades com seu setor de atuação numa empresa onde a administração vem realizando uma reconhecida gestão”, disse a Marfrig, a acrescentou que “não pretende eleger membros para o conselho de administração ou exercer influência sobre as atividades da BRF”. Ela também disse que não foram celebrados contratos ou acordos sobre direito de voto.

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O movimento da Marfrig evidencia a força da divisão da empresa na América do Norte, onde a demanda tem sido forte e os preços do gado, relativamente baixos. Isso impulsionou o preço das ações da empresa em relação às da BRF, cujas margens foram comprimidas pela maior dependência do Brasil.

Cabe destacar que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu processo administrativo na sexta para analisar assunto relacionado à Marfrig. O site da instituição não explicitou o que está sendo investigado, apenas que se trata de um processo de supervisão referente a “notícias, fatos relevantes e comunicados” da Marfrig.

De acordo com informações do Valor, a CVM investigará a forma de divulgação da compra dos ativos. A Instrução CVM 358, em seu artigo 12, determina que a compra ou venda de participação, direta ou indireta em uma empresa, precisa ser divulgada imediatamente (no mesmo dia) cada vez que ultrapassar os patamares de 5% , 10% , 15%, e assim sucessivamente. A Marfrig deverá ter de esclarecer à CVM como se deu a compra dessa participação, e por que ela não foi divulgada logo que a participação atingiu os 5%, se as compras foram feitas gradualmente.

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Em comunicado divulgado nesta segunda, a companhia afirmou que, após o fechamento do pregão do dia 21 de maio de 2020 (na sexta),  divulgou fato relevante prestando informações a respeito das operações de compra de ações de emissão da BRF realizadas,  em consonância com as orientações contidas na Instrução da CVM.

Notícias apontam que a Marfrig adquiriu 5% da BRF na terça-feira e aumentou sua participação na empresa no resto da semana, enquanto a  Previ vendeu cerca de 3% de sua participação para a Marfrig até o momento. O Itaú BBA destaca que a BRF possui a “poison pill” – mecanismo em que obriga um acionista, ao atingir certo percentual de participação, ao lançamento de uma oferta por 100% da companhia – de cerca de 33% de fatia de um acionista no papel da empresa.

No último fim de semana, o Bradesco BBI elevou a recomendação para a Marfrig de neutra para outperform (desempenho acima da média do mercado), também subindo o preço-alvo de R$ 22 para R$ 25 (upside de 39%). Além disso, reduziu a recomendação de BRF para neutro, com preço-alvo de R$ 32 para os ativos (upside de 19%).

Os analistas do banco destacaram que a elevação do preço-alvo dos papéis da Marfrig leva em conta o ganho de valor de mercado estimado com a aquisição de 24,23% das ações da BRF, enquanto a redução da recomendação para BRFS3 ocorre por conta do menor potencial de alta de suas ações.

Leia também: Marfrig e BRF tentarão se unir de novo? Operação tem grandes diferenças com 2019 – e gera dúvidas no mercado

“Embora a reação inicial das ações da Marfrig na sexta-feira tenha sido negativa (ações caíram 5,20% na sexta), uma vez que se tornou de conhecimento público que foi ela quem comprou ações da BRF desde a semana passada, estimamos que seu investimento já rendeu R$ 1,1 bilhão dada a valorização das ações (…) Além disso, vemos a Marfrig como um player melhor para operar em um possível fusão com a BRF. Já as ações da BRF subiram 29% na semana passada, agora resultando em uma alta limitada de preço-alvo. A BRF disse que nenhuma mudança na gestão deve ser esperada (não está claro se a estrutura corporativa pode mudar no futuro)”, apontam os analistas.

Destacando algumas diferenças entre a transação atual com a tentativa de fusão de 2019, o Itaú BBA aponta que o sucesso final de qualquer combinação potencial de ambas as empresas dependerá em grande parte de em quanto tempo o momento positivo na operação da Marfrig na América do Norte será sustentado e a rapidez com que a empresa pode se desalavancar.

“Enquanto tenhamos a previsão de pouca mudança no status quo da BRF (mesmo no pior cenário, as coisas devem permanecer quase como estão), o esforço de desalavancagem da Marfrig poderia ser prejudicado se o processo de recuperação ou o momentum da operação da BRF se mostrar mais desafiador do que o esperado – ou se o momentum operacional da National Beef diminuir mais cedo que o esperado”, avaliam os analistas.

O banco mantém recomendação outperform para a Marfrig, com preço-alvo para 2021 em R$ 26, frente aos R$ 18,05 de fechamento na sexta. E recomendação market perform (desempenho em linha com a média do mercado) para a BRF, com preço-alvo para 2021 em R$ 25, frente aos R$ 26,93 de fechamento na sexta.

A XP, por sua vez, destaca que, em caso de uma eventual fusão, existiriam bons motivos para que ela acontecesse,  principalmente por reunir diferentes cadeias produtivas em diferentes países, diminuindo o risco geral e provavelmente também a volatilidade dos resultados.

“Por outro lado, vemos também duas culturas muito diferentes tentando se fundir, o que não é fácil de acontecer. A operação de commodities é mais nervosa, enquanto produtos processados ​​precisam de uma estrutura melhor e de um prazo mais longo para amadurecer”, avaliam.

Os analistas do Credit Suisse apontam que estão “curiosos” para saber o que vai acontecer com as ações da BRF nos próximos dias. “Após conversa com vários clientes no fim de semana, acreditamos que poderia haver mais valorização
uma vez que a maioria deles parece estar disposta a reduzir suas posições vendidas, à luz das preocupações em relação ao aumento da participação da Marfrig na BRF. Assim, não descartaríamos maior apreciação de BRFS3, em uma negociação não correlacionada com os fundamentos de curto prazo”, apontam.

Sobre a operação em si, Victor Saragiotto e Felipe Vieira, do Credit Suisse, lembram que a Marfrig operou negócios de aves e suínos no Brasil entre 2009 e 2013, quando vendeu suas operações da Seara para a JBS devido à alta alavancagem do grupo controlador (acima de 4,5 vezes no primeiro trimestre de 2013).

No entanto, apontam que, agora, a Marfrig está de volta ao jogo em grande estilo e representa uma virada, com a companhia tendo exposição ao mercado brasileiro de aves e suínos por meio de Sadia e Perdigão, ambas marcas entre as mais desejada no segmento de alimentos processados ​​no mercado nacional.

Em conversas com investidores, os analistas apontam que parte deles se mostrou cética com o investimento da Marfrig na BRF, dado seu histórico com a Seara. “Francamente, não vemos esse como um grande risco, já que as empresas serão operadas separadamente e não haverá alteração na equipe de gestão e conselho de administração da BRF. Além disso, mesmo em um cenário em que a Marfrig continue a aumentar sua participação na BRF e passe a interferir ativamente na operação da empresa [o que não parece ser o caso, conforme edital de fato relevante divulgado por ambas as empresas],
vemos esse negócio dependente dos preços das commodities, o que torna as margens do setor muito semelhantes [não houve diferenças significativas entre as margens da BRF e Seara)”, destacam os analistas.

Eles reforçam que a equipe de gestão da Marfrig teve mais entregas desde 2018, não apenas devido a ventos favoráveis ​​setoriais. Assim, dão a eles o benefício da dúvida e recebem bem a transação.

Os analistas também apontam a estratégia nova da Marfrig. “Nos últimos anos, a estratégia tinha sido manter o foco em carne bovina e desalavancagem. Embora reconheçamos que a aquisição da fatia da BRF seja uma mudança repentina na direção e que o curto prazo possa ser desafiador, dado o recente aumento nos preços dos grãos, nós a aplaudimos. A Marfrig agora está trilhando o mesmo caminho das empresas de maior sucesso no segmento de proteínas: diversificação e maior mix de produtos de valor agregado. Ter exposição a diferentes proteínas e geografias se prova ser a melhor estratégia para reduzir a volatilidade da margem e entregar retornos sustentáveis. Além disso, empresas diversificadas tendem a negociar a múltiplos muito mais altos. Finalmente, a Marfrig parece estar tomando um movimento defensivo. A BRF é um grande cliente que a Marfrig poderia ter perdido se as ações da BRF fossem compradas por uma empresa diferente”, apontam.

O Credit possui recomendação neutra para BRF, com preço-alvo de R$ 22, enquanto possui recomendação outperform para Marfrig, com preço-alvo de R$ 26.

(com Reuters e Agência Estado)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.