Após Extrafarma, Ultrapar caminha para destravar valor com venda da Oxiteno (e dinheiro já teria destino certo)

Com os recursos das vendas desses ativos, a Ultrapar tem capital suficiente para finalizar a aquisição da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap)

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Na manhã desta quarta-feira (16), a Ultrapar (UGPA3) deu mais um passo para focar seus negócios no mercado de óleo e gás. Após algumas notícias, a Ultrapar confirmou que fechou com a tailandesa Indorama um acordo de exclusividade para a venda de sua unidade química Oxiteno.

No entanto, a companhia ressaltou que não há neste momento contrato ou qualquer compromisso de compra e venda assinado entre as partes. Demais termos e condições da operação, incluindo o valor, ainda estão em processo de discussão, afirmou.

Porém, os jornais que citaram a informação mais cedo apontaram (citando fontes) que a Indorama poderia pagar US$ 1,2 bilhão pela Oxiteno. O mercado avalia a unidade química em cerca de US$ 1 bilhão, porém a Indorama estaria disposta a desembolsar US$ 200 milhões a mais pelo ativo.

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A Oxiteno produz defensivos agrícolas e matérias-primas usadas para a fabricação de detergentes, entre outros produtos. Ela possui 11 fábricas no Brasil, Estados Unidos, México e Uruguai, cinco centros de pesquisa e desenvolvimento e oito escritórios comerciais nas Américas, Europa e Ásia.

Já a Indorama chegou ao Brasil depois da compra dos ativos da italiana M&G em Pernambuco. Nesse processo, ela herdou uma fábrica no complexo portuário de Suape, onde produz resina PET.

A Ultrapar vem em processo de reformulação de seu portfólio de empresas e já realizou a venda do negócio menos rentável da holding, a Extrafarma, para a rede Pague Menos (PGMN3). Porém, a venda foi feita por cerca de R$ 700 milhões, valor este que foi visto como mais benéfico para a Pague Menos do que para a Ultrapar (ainda que positivo para o grupo). Cabe ressaltar que, como referência, a Ultrapar pagou R$ 1 bilhão pela rede farmácias em novembro de 2013 (veja mais clicando aqui).

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Agora, se confirmada nos termos destacados pelos jornais, o valor vendido da Oxiteno será acima do avaliado pelo mercado.

Porém, além dos valores, a mudança estratégica da companhia também é considerada. Conforme destaca a Levante Ideias de Investimentos, enfrentando problemas de rentabilidade desde 2017, em função da mudança na política de preços das refinarias pela Petrobras, a empresa decidiu focar no negócio principal.

Com os recursos das vendas desses ativos (Extrafarma e Oxiteno), a Ultrapar tem capital suficiente para finalizar a aquisição da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em fase final de negociação com a Petrobras (PETR3;PETR4). Em janeiro, o Valor informou que a proposta apresentada pela Ultrapar à Petrobras para a compra da refinaria teria ficado entre US$ 1,2 bilhão e US$ 1,4 bilhão, enquanto a estatal informou que ainda estava em negociações com a empresa.

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Para a casa de research, a compra da refinaria faz total sentido para a empresa por verticalizar seu negócio de distribuição de combustíveis e torná-lo mais competitivo. Isso porque os custos de produção seriam otimizados e a volatilidade dos preços de combustíveis diminuiria, melhorando o perfil de risco de duas operações de distribuição (Ultragaz e Ipiranga), além de possibilitar benefícios tributários e melhor geração de caixa.

Além do mais, a alavancagem financeira da companhia segue alta e aumentou durante a pandemia, com a empresa emitindo dívidas para manter o caixa robusto devido às incertezas apresentadas no ano passado.

Portanto, avaliam os analistas, a venda de seus ativos não-prioritários seria o requisito principal para a compra da Refap, com o mercado entendendo que o nível de endividamento se manterá controlado, apesar de ainda estar alto.

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Cabe destacar que após a divulgação do resultado da Ultrapar do primeiro trimestre de 2021, no começo de maio, Frederico Curado, CEO da companhia, afirmou que esperava assinar o contrato com a Petrobras para a compra da Refap nos próximos meses. Ele disse que não houve nenhuma alteração no processo de negociação em decorrência da mudança da diretoria da estatal (com a saída de Roberto Castello Branco em fevereiro, que foi substituído por Joaquim Silva e Luna). Já com relação ao endividamento, destacou esperar gradual redução da alavancagem ao longo de 2021.

Luís Sales, analista da Guide Investimentos, também apontou a notícia como positiva avaliando que, com a venda da Oxiteno, o grupo Ultra deve destravar valor, pois vai focar em segmentos onde possui mais expertise e que há grande potencial de crescimento como óleo e gás downstream [como o refino], setores que possuem mais sinergias com a atual operação o grupo. “Vale ainda lembrar que os resultados de 2019, foram prejudicados por conta da Oxiteno e pela Extrafarma”, destacou.

De acordo com compilação da Refinitiv, de quatorze casas que cobrem o papel UGPA3, oito recomendam compra, enquanto seis têm recomendação neutra para o ativo. O preço-alvo médio é de R$ 25,05, 21,2% superior ao fechamento de terça-feira (15).

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.