André Brandão renuncia à presidência do Banco do Brasil; como as ações vão reagir?

Saída terá efeito a partir de 1 de abril; Brandão tomou posse como CEO em setembro de 2020 e deixa cargo em meio a insatisfações de Bolsonaro

Lara Rizério | Priscila Yazbek

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*A matéria foi atualizada às 20h40 (horário de Brasília) do dia 18 de março de 2021, para incluir o anúncio da indicação de Fausto de Andrade Ribeiro, atual diretor da BB Administradora de Consórcios, para o cargo de presidente do Banco do Brasil. As análises que constam na matéria foram feitas antes de ser comunicada a indicação. 

SÃO PAULO – Após muitas especulações, o Banco do Brasil (BBAS3) anunciou em comunicado ao mercado nesta quinta-feira (18) a saída do presidente da estatal, André Brandão. A saída terá efeito a partir de 1 de abril.

“O Banco do Brasil (BB) comunica que André Guilherme Brandão entregou, nesta data, a Jair Messias Bolsonaro, ao Ministro da Economia, Paulo Roberto Nunes Guedes, e ao Presidente do Conselho de Administração do Banco do Brasil, Hélio Lima Magalhães, pedido de renúncia ao cargo de presidente do BB, com efeitos a partir de 1 de abril de 2021”, destaca o comunicado do banco estatal.

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Cerca de duas horas depois do anúncio da saída de Brandão, a instituição financeira anunciou a indicação de Fausto de Andrade Ribeiro, atual diretor da BB Administradora de Consórcios, para a presidência da estatal. Ribeiro é servidor do Banco do Brasil desde 1988. Ele é formado em direito e administração de empresas, e tem especialização em finanças internacionais e pós-graduação em economia. Atualmente é diretor presidente da BB Consórcios, subsidiária do BB, posição que ocupa desde setembro de 2020. Antes disso, estava na função de gerente executivo da diretoria de contadoria.

André Brandão tomou posse como presidente do BB em 22 de setembro de 2020, em substituição a Rubem Novaes. A saída de Novaes, por sinal, causou turbulência no mercado em meio ao anúncio inesperado. Contudo, houve uma maior tranquilidade em meio às informações sobre o seu sucessor.

Brandão veio do HSBC, onde estava desde 2003; o CEO atuava como chefe global da instituição para as Américas. Desde que vendeu o banco de varejo para o Bradesco, em 2016, o HSBC atua no Brasil apenas como banco de investimento. Antes de chegar ao HSBC, ele permaneceu mais de dez anos no Citibank (outra instituição que, recentemente, saiu do segmento de varejo no País, ao ser adquirida pelo Itaú Unibanco).

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Entre os planos de Brandão, estavam o de prosseguir com a digitalização e aumentar a eficiência do banco estatal. Contudo, as medidas para elevar a eficiência acabaram contribuindo para a saída do CEO, após um 2021 marcado por especulações sobre a demissão do executivo.

Brandão já enfrentava uma situação bastante delicada desde o início do ano, quando anunciou um plano de reestruturação do banco envolvendo fechamento de 112 agências do banco e um plano de demissão voluntária, com expectativa de adesão de 5 mil funcionários. O anúncio desagradou o presidente Jair Bolsonaro, que buscou forçar uma demissão do executivo, bem avaliado pelo mercado. O presidente teria se incomodado pelo fato de não ter sido avisado previamente. Contudo, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, conseguiu convencer Bolsonaro a não tirá-lo do cargo.

Na ocasião, Campos Neto, que tem alta estima com o presidente, o alertou de que uma demissão seria avaliada como interferência política em uma empresa pública que tem ações na Bolsa.

Porém, no final de fevereiro, as especulações de que Brandão estaria de saída do banco estatal voltaram a ganhar força. Diversos veículos de mídia destacaram que Brandão teria colocado o cargo à disposição de Jair Bolsonaro,  depois de observar o destino do presidente da Petrobras (PETR3;PETR4), Roberto Castello Branco, demitido pelo presidente em meio a discordâncias sobre os reajustes de combustíveis.

Impacto para as ações

Na ocasião, ao comentar as especulações sobre a saída do executivo, o Credit Suisse destacou que Brandão é bem visto pelo mercado e estava avançando nas iniciativas de reestruturação. A avaliação era de que o foco deveria ser em seu potencial sucessor, aumentando a incerteza sobre os rumos do banco, avaliaram os analistas.

Antes da indicação do nome de Ribeiro, Pedro Lang, head de renda variável da Valor Investimentos, apontou que o mercado já precificou “uma boa parte” da saída de Brandão semanas atrás, uma vez que já havia especulações sobre a saída do executivo.

“Mas ainda pode haver algum impacto sobre as ações. O mercado sempre precifica uma probabilidade de o evento acontecer, mas como nunca é 100% ainda temos price action [reflexo nas ações] para ver. Agora, é esperar  alguém técnico e que tenha liberdade para continuar com as mudanças na gestão que o banco precisa para se adequar à essa nova realidade de fintechs, juros baixos e empresas ágeis”, avaliou Lang.

Marcel Campos, analista de setor financeiro da XP, acrescentou que o fato de as ações registrarem uma das piores performances do ano na Bolsa entre os bancos – com queda de 19,95% em 2021, a quinta maior baixa do Ibovespa no ano – também reforça a visão de que boa parte da notícia já foi precificada.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, por sua vez, ressalta que a saída do Brandão deve ser mal recebida pelos investidores, uma vez que se concretiza a saída de mais um nome alinhado com a agenda liberal e de modernização do banco, inclusive avançando mais neste ponto do que os seus antecessores.

“Existe uma necessidade de o Banco do Brasil se modernizar, ter um choque de tecnologia. Hoje em dia, quando os bancos anunciam que estão fechando agência, a reação do mercado é positiva, uma vez que faz sentido economicamente. O BB deveria seguir também essa linha para se mostrar competitivo”, avalia.

Também antes do anúncio de Ribeiro como o indicado para ocupar o cargo no BB, Cruz lembrou que já havia especulações sobre eventuais nomes cotados para substituir Brandão e que, dependendo do nome a ser indicado para substituir Brandão, poderia haver uma reação mais ou menos negativa dos investidores.

O estrategista citou que muito se falou sobre o nome de Márcio Schettini, que chegou a ser cotado como CEO do Itaú e saiu do banco recentemente. Porém, mesmo com um nome pró-mercado, ainda haveria dúvida sobre a autonomia do novo executivo. “Em tempos normais, este nome seria muito celebrado. Mas agora o mercado fica com a dúvida: será que teria liberdade de seguir um planejamento parecido com o que estava sendo proposto? Parece que não”, aponta Cruz.

Ele ressaltou que havia outros nomes cotados e até a “solução caseira” de Mauro Ribeiro Neto, vice-presidente corporativo do BB; outro nome especulado era de Gustavo Montezano, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O nome indicado acabou sendo da casa, ainda que não especulado pelos investidores.

Contudo, Cruz destacou: “independentemente do nome, não parece que será alguém que vai seguir a linha de Brandão, o que deve trazer desgaste. Assim, o especialista recomenda aos investidores que se afastem de ações das estatais no momento.

Já Campos destacou que o mercado tende a ser cético quando mudanças tão importantes são feitas em um espaço tão curto de tempo.

Roberto Attuch Jr., CEO da Ohm Research, avalia que a saída de Brandão vai ser interpretada como mais um passo do governo em uma direção mais populista e intervencionista.

“Tem um ditado que diz: ‘Mulher de César não tem que só ser honesta, tem que parecer honesta’. É mais um ingrediente nessa confusão política em que está o Brasil. Mesmo que a [possível] candidatura inesperada de Lula, que vem pautando Bolsonaro, não tenha nada a ver com a saída de Brandão, muita gente vai conectar os eventos, que não são correlacionados”, destaca o especialista, em referência aos desdobramentos da decisão do ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), de anular as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no âmbito da Operação Lava Jato. Com Lula de volta ao páreo para 2022 e a maior polarização, também aumentaram os debates sobre uma possível inclinação de Bolsonaro a adotar medidas mais populistas (veja mais clicando aqui).

Quando a saída de Brandão ainda estava no campo das especulações, o Bradesco BBI ainda ressaltou outro ponto além da discussão sobre o potencial nome a ser indicado: o fato de que a transição deve custar tempo para o BB. “Em momentos como este, o tempo é um recurso extremamente valioso que não deve ser desperdiçado”, avaliaram os analistas.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.