Analistas cortam projeções para Bolsas nos EUA, com inflação persistente, e vê S&P 500 próximo dos 3 mil pontos

Combate à inflação deve ser mais desafiador que o esperado e risco de recessão agrava cenário

Mitchel Diniz

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Depois da inflação ao consumidor nos Estados Unidos ter frustrado as expectativas dos investidores na última terça-feira (13), o mercado acionário interrompeu o rali no qual havia embarcado recentemente. A virada reforçou previsões negativas para as Bolsas em Wall Street, com a perspectiva de que o Federal Reserve vai precisar subir juros de forma mais intensa para conter a escalada dos preços. Há quem acredite que a autoridade monetária poderá fazer até mesmo um ajuste de 1 ponto percentual na próxima quarta-feira (21), quando ocorrerá a reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês)  de agosto fez com que diversas casas revisassem suas projeções, seja para a inflação e juros, como também para o target das Bolsas americanas. Após o CPI ter desacelerado menos que o esperado, a XP revisou para cima sua projeção para o índice no final do ano, de 6,2% para 6,4%. O núcleo da inflação foi revisado de 4,9% para 5,4%. A casa projeta alta de 75 pontos-base nos juros na reunião da semana que vem e 70% de chances de uma subida de 50 pontos no encontro do Fomc em novembro.

Para o índice de ações S&P 500, a XP revisou o target de 4.500 pontos para 4.300. E não foi a única casa a prever um número para baixo depois do índice de ter levado o maior tombo diário em mais de dois anos. O Julius Baer destaca que o valuation do S&P 500  ficou abaixo da média dos últimos dez anos com a a sangria dos mercados após a divulgação do CPI de agosto.

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“As estimativas de ganhos deverão continuar sendo ajustadas para baixo, enquanto juros altos mantêm valuations limitados”, escreveu o economista-chefe do banco suíço. “Por enquanto, recomendamos uma postura defensiva”. O Julius Baer também se juntou à maioria que prevê uma alta de 75 pontos-base pelo Fed na próxima semana.

“O rali de verão acabou de forma abrupta com o Fed reiterando de maneira firme sua intenção de trazer a inflação de volta à meta. Desde então, reduzimos nossa exposição ao risco, movendo ações de forma tática para um portfólio underweight [exposição abaixo da média do mercado]”, comentaram os analistas do Credit Suisse.

Para a Levante Ideia de Investimentos, a inflação deve custar a ceder e dificilmente vai convergir para a meta de 2%, estabelecida pelo Fed. “É razoável crer em uma economia operando ligeiramente acima da sua meta no próximo ciclo. Neste sentido, esse processo não será tão breve, nem tão isento de solavancos quanto se esperava”, dizem os analistas na casa.

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Uma semana antes da divulgação do CPI, o Morgan Stanley já havia reduzido suas projeções para o S&P 500.  O banco vê chances do índice chegar ao final de 2022  com 3.400 pontos, o que representa uma queda de 13,8% em relação ao fechamento de ontem. Em caso de recessão, o índice poderia chegar próximo dos 3 mil pontos. O Deutsche Bank prevê um cenário semelhante. “Se a recessão for evitada, esperamos que o mercado recupere acentuadamente seus picos anteriores”, escreveu o estrategista Binky Chadha.

Mercado ainda não precificou elevação de juros, diz gestor

Na visão de Marcio Fontes, Gestor do Asa Hedge, a inflação nos Estados Unidos deve continuar se mostrando mais persistente que o esperado pelo consenso de mercado e a consequência disso vai ser uma maior alta de juros. Segundo ele, a Bolsa ainda não precificou esse aumento e o investidor está antecipando, de forma equivocada, movimentos de alívio monetário que ainda estão longe de ocorrer.

“O mercado está pensando super errado”, afirmou, em entrevista ao Macro Pickers. “A Bolsa mal precificou um aumento de juros ainda. Nem olhou para uma queda de lucro, que vai ter que ter, uma vez que a recessão é necessária para jogar a inflação na meta”.

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Fontes justifica seu argumento, explicando que o mercado de trabalho aquecido – com uma proporção de duas vagas por trabalhador – impede que a demanda arrefeça e os preços recuem.

“A economia está bastante forte nos Estados Unidos e a recessão técnica não teve implicação na macroeconomia”, afirmou o gestor. Os EUA entraram em recessão técnica após duas quedas consecutivas do Produto Interno Bruto (PIB), no primeiro e segundo trimestre.

No entanto, Fontes explica que isso só aconteceu por conta da maior fraqueza no mercado imobiliário, que sente o impacto da alta de juros, e tem participação relevante no PIB dos Estados Unidos. E reforça que a inflação atual é um desequilíbrio do mercado de trabalho, que gera demanda e mantém os preços de produtos e serviços mais altos. O gestor afirma que a taxa de desemprego nos Estados Unidos, atualmente em 3,7%, teria de subir a 8% para segurar a inflação.

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“A Bolsa nada mais é que um fluxo de caixa descontado. Se aumenta os juros, ela vale menos. Um aumento de juros da ordem de 1% deve gerar uma queda na Bolsa de 16 pontos percentuais”, conclui o gestor do ASA Hedge.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados