Ambev (ABEV3) vê menor pressão sobre custos, mas desaceleração em vendas traz cautela; ação cai

Companhia chegou a revisar para baixo as projeções de custos para este ano e vê menor pressão também em 2024

Mitchel Diniz

(Paulo Fridman/Corbis via Getty Images)

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A Ambev (ABEV3) apresentou crescimento de lucro operacional e de margens no segundo trimestre de 2023, entregando redução de custos. Mas a desaceleração no consumo de bebidas no mercado brasileiro durante o período ainda traz dúvidas se a companhia vai conseguir, de fato, entregar rentabilidade nos próximos trimestres. Às 14h15 (horário de Brasília), os papéis ABEV3 operavam em baixa de 2,6%, a R$ 14,65.

A Ambev apresentou lucro líquido consolidado de R$ 2,597 bilhões entre abril e junho deste aqui, o que representa uma queda de 15,2% em relação ao mesmo período do ano passado.

O Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado foi de R$ 5,275 bilhões, alta de 34,2% no conceito orgânico e queda de 4,7% no conceito reportado.

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A receita líquida no segundo trimestre ficou em R$ 18,898 bilhões, avanço de 20% no conceito orgânico e alta de 5,1% no conceito reportado, ambos ante um ano.

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Após a divulgação do resultado, o Bradesco BBI manteve a recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para a ação da Ambev e preço-alvo de R$ 21, com potencial de valorização de 40% em relação ao fechamento de ontem. Os analistas Leandro Fontanesi e Pedro Fontana observam que, apesar da valorização ao longo do ano, a ação ABEV3 teve performance inferior à do Ibovespa, em 6,5 pontos percentuais, mesmo com a perspectiva de recuperação de rentabilidade diante de um arrefecimento nos preços das commodities.

“Em nossa visão, ainda há espaço para um rali nos próximos trimestres”, afirma a dupla de analistas, avaliando que os papéis estão com um desconto de 37%.

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O BBI aponta que a queda nos volumes de vendas no Brasil (cerveja -2,5% e bebidas não alcoólicas -2.2%) foram compensados por uma expectativa de menor custos com matérias-primas. Teria sido essa a combinação que provocou um crescimento no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) para R$ 5,275 bilhões, número em linha com o consenso.

O Itaú BBA avalia que, após uma década de contração de margens no segmento de cervejas brasileiras, a Ambev poderia finalmente viver um período de melhora de rentabilidade em 2023 e 2024. Junto com o balanço do segundo trimestre, a Ambev revisou para baixo sua projeção para custos de bens e serviços vendidos. Antes, o guidance apontava para uma alta entre 6% e 9,9% em 2023, agora a Ambev espera custos entre 2,5% e 5,5% mais altos.

“Era amplamente esperado que os custos desacelerassem em 2024. Com o guidance, vemos uma antecipação dessa deflação para o final de 2023″, afirmam os analistas Gustavo Troyano e Bruno Tomazetto.

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Na teleconferência sobre os resultados do segundo trimestre, Jean Jereissati, CEO da Ambev, atribui a revisão do guidance ao comportamento melhor que o esperado do preço de commodities, mas afirma que a companhia está evoluindo em eficiência de oferta e distribuição “mais rápido do que se previa”.

Apesar dos ventos a favor, a desvalorização do peso argentino sopra na direção contrário. “É um ponto de atenção, mas ainda assim vemos menor pressão de custos se mantendo em 2024, ao menos comparado a onde estávamos um ano atrás”, afirmou Lucas Lira, CFO da companhia, respondendo às perguntas dos analistas.

Numa avaliação geral sobre os resultados, o BBA afirma que os números vieram em linha com o esperado e o balanço pode ser considerado neutro, sendo a revisão do guidance o destaque positivo. A casa manteve recomendação market perform (desempenho em linha com a média do mercado, equivalente à neutra) para ABEV3, com preço-alvo de R$ 17.

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“Estamos de lado até entender melhor a tendência de expansão de margens da companhia”, afirma a equipe de análise. O BBA reconhece que a ação parece atraente em relação a sua média histórica, mas falta visibilidade sobre questões que podem impactar o valuation do ativo.

A análise do JP Morgan também deu destaque à revisão no guidance de custos e a expansão do Ebitda. E, assim como o BBA, admite que a combinação de fatores poderá levar a revisões positivas nas projeções para a companhia. Por hora, o banco tem recomendação overweight, equivalente à compra, e preço-alvo de R$ 17 ao final de 2024.

“No lado negativo, a companhia mencionou que a indústria de cerveja desacelerou em termos de consumo no trimestre”, destacam os analistas Lucas Ferreira, Ulises Argote e Sebastian Hickman. Segundo eles, esse é um fator que limita o impacto positiva que o balanço poderia ter.

No segmento de cervejas premium, contudo, a Ambev registrou um crescimento de 35% no Brasil, superando o avanço de um dígito da sua concorrente, a Heineken.

Para a equipe da XP, A recuperação da Ambev continua no caminho certo, embora mais lenta do que o esperado. “A perspectiva favorável para os custos é uma mudança bem-vinda”, diz análise de Leonardo Alencar e Pedro Fonseca.

“Custos como vento favorável são uma mudança de ritmo bem-vinda, com inflação mais baixa no Brasil e preços mais baixos de cevada e energia, além dos preços já mais baixos do alumínio, indicando que a margem deve continuar a se expandir à frente.” A XP tem recomendação de compra e preço-alvo de R$ 18,70 para ABEV3.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados