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‘Alívio’ na tabela Fipe e inadimplência do cartão ajudam Porto (PSSA3) a ter ‘melhores resultados da história’

CEO da companhia não vê necessidade de continuar repassando preço no seguro auto, o carro-chefe da companhia, porque tabela Fipe já dá sinais de retração

Lucas Sampaio

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A Porto (PSSA3), antiga Porto Seguro, surpreendeu o mercado e superou as expectativas com um lucro líquido de R$ 705 milhões no segundo trimestre, uma expressiva alta de 437% na comparação anual (a companhia disse que tanto o resultado trimestral quanto o semestral foram os “melhores da história”).

As receitas cresceram acima do esperado em praticamente todas as verticais (seguros, banking, saúde, serviços e investimentos) e o resultado bateu – de longe – o consenso do mercado: o lucro líquido recorrente de R$ 670 milhões ficou 55% acima das projeções do BofA (Bank of America) e foi 22% melhor do que previsto pelo Morgan Stanley.

Dois pontos do balanço se destacaram: a forte queda na sinistralidade do seguro auto (as indenizações pagas aos segurados) e a estabilidade na inadimplência do cartão de crédito, que parou de piorar após a empresa adotar mudanças na sua distribuição.

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O CEO da Porto, Roberto Santos, afirma ao InfoMoney que, enquanto a disparada de preços dos carros foi o principal “ofensor” do resultado em 2022, neste ano a tabela Fipe “já tem até um viés de queda”. “O resultado pode até melhorar [nos próximos trimestres], pois temos um estoque [de seguros contratados] precificado com uma Fipe maior”.

A empresa sofreu em 2022 porque havia precificado os seguros do segmento auto com base em uma tabela Fipe, mas, quando teve de honrar os sinistros, os preços dos carros haviam disparado. O “remédio” foi repassar esse custo extra nas renovações das apólices, o que fez o preço médio do seguro subir entre 30% e 40%.

Como a sinistralidade recuou e os preços dos carros se estabilizaram, a Porto está agora se colhendo os louros da estratégia. Os prêmios emitidos no segmento até desaceleraram, de 27% no primeiro trimestre para 12% no segundo, mas a sinistralidade caiu para 55% (contra 60% no 1T23 e 63% no 2T22).

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“Você aplica o remédio e o resultado vai vir no mínimo seis meses depois”, afirma Santos. Ele afirma que o cenário atual está “bastante controlado” e que não há mais necessidade de repassar preço para o consumidor. “Mas também não vemos oportunidade para redução nos próximos meses, porque a Fipe ainda está em um patamar mais elevado”.

O Morgan Stanley considera que, pelo terceiro trimestre consecutivo, a Porto apresentou “resultados sólidos”, “superando o consenso do sell-side e nossas estimativas por uma ampla margem em todas as verticais”, e disse que o resultado se beneficiou do crescimento do número de cliente, de estratégias de preços bem-sucedidas e sinistros mais baixos na maioria dos produtos.

Lado negativo

O lado negativo foi a sinistralidade da Porto Saúde, que subiu para 82,6% (de 77,0% no 1T23 e 80,9% no 2T22), apesar de os prêmios de saúde e odonto continuarem crescendo acima dos 30% (Roberto atribui esse crescimento não só pelos novos clientes, mas também pela inflação médica, que “roda na faixa dos 20%).

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O CEO diz que, para combater a sinistralidade alta no segmento, a Porto está focada em combater fraudes, inclusive tem provocado a FenaSaúde (federação que representa 13 grupos de operadoras de planos de saúde e odontológicos) a fazer campanhas contra o problema, e em verticalizar “virtualmente” sua operação, fazendo parcerias com hospitais e clínicas de referência, como o Sírio Libanês e a Oncoclínicas (ONCO3), em um modelo de divisão de riscos (e de lucro também).

Porto Bank vs. Porto Saúde

Na Porto Bank, a boa notícia foi que o pior parece ter ficado para trás, pois o índice de inadimplência ficou em 7,5%, estável em relação ao 2T22 e um leve aumento em relação ao 1T23 (+0,5 p.p.), e a divisão conseguiu entregar um ROE de 29,0% (contra 16,6% no 1T23).

A área é a segunda maior da companhia em receita (R$ 1,116 bilhão no 2T23), atrás apenas da Porto Seguro (R$ 5,056 bilhões), mas a Porto Saúde “encostou” na vice-líder, com R$ 1,069 bilhão, devido ao forte aumento da receita (+32,2% contra +9,1% da Porto Bank).

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Santos, no entanto, diz que é difícil dizer se a Porto Saúde vai superar a Porto Bank, pois “são duas verticais com movimento muito particular” e porque os resultados da segunda tendem a melhorar com o ciclo de queda da Selic. “O banking teve um semestre para se preservar, para tirar o pé do acelerador, o que traz retenção de crescimento. Mas agora entra em um cenário de estabilidade da inadimplência”.

Resultado da Porto (2º trimestre de 2023):

Divisão Receita (em R$ milhões) Crescimento anual (em %)
Total R$ 7.576 17,60%
Porto Seguro R$ 5.056 14,00%
Porto Bank R$ 1.115 9,10%
Porto Saúde R$ 1.069 32,20%
Serviços R$ 134 20,20%

Clientes por segmento:

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Segmento Nº de clientes Crescimento anual Crescimento percentual
Auto 5,8 milhões +101 mil +1,8%
Vida 5,4 milhões +545 mil +11,3%
Saúde 461 mil +66 mil +16,7%
Cartão  3 milhões +188 mil +6,7%

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.