Além do não-recorrente: o que fez com que Yduqs e Cogna desabassem após os resultados

Companhias do setor educacional amargaram quedas de cerca de 10% nas sessões seguintes à apresentação de balanços

Camille Bocanegra

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A Yduqs (YDUQ3) e a Cogna (COGN3), maiores companhias do setor educacional listadas em Bolsa, amargaram quedas expressivas após a divulgação de seus balanços. Apesar de números considerados em linha com expectativas ou afetados por efeitos não-recorrentes, as companhias assistiram quedas de pelo menos 10% de seus papéis no dia seguinte às divulgações dos resultados (na sessão do dia 15 para Yduqs e no último dia 21 para Cogna). Mas o que aconteceu com os papéis?

Alguns dos efeitos não-recorrentes à primeira vista abalaram os resultados. No caso da Yduqs, o balanço foi visto como “poluído” por analistas pela linha de custos de vendas, gerais e administrativos, impactada por eventos extraordinários. Dentre eles, estão R$ 22,5 milhões em custos de demissão, R$ 45 milhões em provisões trabalhistas (que foram revistas após adoção de novo critério de provisão), R$ 13 milhões em provisões ligadas a fusões e aquisições anteriores e R$ 2,5 milhões em taxas extraordinárias pela devolução de ativos imobiliários.

Já a Cogna destacou como efeito não-recorrente o ajuste necessário por questões ligadas ao Imposto de Renda (IR), decorrentes de movimentação societária para participação no programa Mais Médicos. O regulamento do programa limita a apresentação de propostas de uma mesma entidade para a busca por mais cursos de Medicina e, para permitir maiores chances de sucesso, o grupo educacional realizou reorganização societária. Com a movimentação, o grupo realizou a baixa de cerca de R$ 343 milhões em imposto de renda diferido sobre o prejuízo fiscal de uma empresa do grupo. A efetivação da realização dos ativos faz parte de plano de reorganização societária, com objetivo de otimização tributária.

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No entanto, na visão das casas que analisaram os resultados divulgados pela companhia, os não-recorrentes explicam apenas parte da repercussão negativa. Alguns pontos observados por analistas nos balanços e nas divulgações realizadas pelas companhias podem explicar melhor a movimentação negativa das ações depois dos balanços.

Guidance misto

No caso da Yduqs, se os dados de 2023 vieram (excluindo o não recorrente) alinhados com as expectativas, as projeções para 2024 levaram a um maior ceticismo por parte dos analistas. A desvalorização observada pelo papel na sexta-feira (15) foi de 9,76%.

A companhia apresentou orientações (guidance, em inglês). Dentre os números, a companhia projeta lucro líquido ajustado entre R$ 172 a R$ 187 milhões, com crescimento de dois dígitos, gasto de capital (CAPEX, em inglês) estável em R$ 470 milhões e R$ 160 milhões em dividendos a serem distribuídos. Em relação às unidades de negócios, a captação do segmento digital no 1T24 foi orientada em 180 a 190 mil alunos enquanto a captação no segmento presencial teve guidance de aumento de 15 a 25% no primeiro semestre de 2024 (em comparação com o mesmo período 1S23).

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Na visão do Itaú BBA, o crescimento do presencial não deve atingir a projeção estimada pela companhia, enquanto o semi-presencial pode trazer mais crescimento forte. O Morgan Stanley viu o guidance como “misto”, apresentando melhores projeções no presencial mas piores no ensino à distância (EaD).

O BTG Pactual, por sua vez, avaliou o quarto trimestre em si como negativo, fraco e reiterando que foi “prejudicado por eventos não recorrentes”. O Morgan Stanley também considerou efeitos não-recorrentes como responsáveis por reduzir o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado.

Ainda assim, o JPMorgan considera que a queda pós-balanço deve ser aproveitada como oportunidade de compra. Na análise, o banco destaca que a Ydqus foi a primeira grande companhia do setor a retomar a geração de caixa em 2023 e que há boas expectativas para 2024. O crescimento deverá ser impulsionado, principalmente, pelos segmentos premium e digital. A visão positiva seguiu e o JPMorgan manteve recomendação overweight (exposição acima da média, similar à compra), ainda que tenha reduzido o preço alvo para R$ 27,00 (dos anteriores R$ 28,50) e reduzido estimativas como receita e lucro ajustado.

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Efeito Kroton ou tributário: qual foi o vilão?

Para a Cogna, que liderou perdas na sessão de quinta com queda de 11,89%, analistas se dividiram entre considerar como vilão do balanço o efeito tributário não-recorrente ou o desempenho da Kroton. Vale lembrar que a companhia também amargou queda de 11,74% na sessão seguinte à divulgação de resultados da Yduqs, em queda atribuída também ao noticiário macroeconômico, com a alta dos juros na sessão (que afetou o setor de varejo e consumo como um todo).

Para o Morgan Stanley, a questão tributária é explicada no balanço e se apresenta como algo pontual, enquanto a desaceleração de receita da Kroton é mais preocupante e seria a responsável pelos resultados considerados fracos. Os números da empresa de ensino superior mostraram crescimento de 2% na receita em relação ao ano anterior (ante a projeção de 8% do Morgan). As margens apresentaram estabilidade (também abaixo das estimativas do banco estrangeiro), com compensação de custos de produtos vendidos e maiores despesas de marketing sendo compensados pelas eficiências administrativas e gerais.

A questão levantada pelo banco estrangeiro diz respeito à potencial tendência negativa para a unidade voltada para ensino superior e sua capacidade da esperada recuperação. Para o BTG Pactual, apesar de não-recorrentes, os ajustes necessários pelos ativos diferidos de Imposto de Renda foram responsáveis por um balanço considerado “poluído” e abaixo das expectativas.

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Para demais casas de análise, como a BBA e a XP, os efeitos foram desconsiderados por serem não-recorrentes e não se mostrarem um risco para a tese de recuperação da companhia.