Cogna: ações caem quase 12% após balanço; efeito tributário é único “culpado”?

Companhia registrou prejuízo acima do esperado com efeito tributário, mas Morgan Stanley também cita que dados da Kroton (de educação superior) foram fracos

Camille Bocanegra

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A Cogna (COGN3), grupo educacional dono da Vasta, Kroton e Saber, divulgou seus resultados do quarto trimestre de 2023 com prejuízo de R$ 373 milhões em razão de efeito tributário. Os papéis da companhia despencaram na sessão desta quinta-feira e fecharam com desvalorização de 11,90%, a R$ 2,37. Assim, as ações chegam a cair mais de 10% durante o pregão e aprofundaram a desvalorização durante a teleconferência com a administração, que teve início às 11h.

Conforme explicou a companhia em nota, ela “detém ativos fiscais diferidos, formados principalmente por Prejuízos Fiscais e Bases Negativas de Contribuição Social. Para efetivar a realização desses ativos, desenvolvemos um plano de reorganização societária detalhado, objetivando a otimização tributária através da maximização do aproveitamento dos prejuízos e da minimização da alíquota efetiva de tributação”.

Na prática, isso significa que, em razão de organização do programa Mais Médicos, a companhia realizou mudança societária. Pelo regulamento do programa, a alteração permite mais tentativas de criação de novos cursos, considerando diferentes instituições pleiteando. “Fizemos a baixa do imposto de renda diferido porque ele não possui efeito caixa para a companhia”, mencionou o CFO da companhia na teleconferência para comentar os resultados do 4T23.

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A baixa, somada a outros itens não recorrentes, justificou a análise do BTG Pactual de resultados fracos e poluídos. O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) e o lucro líquido ficaram aquém das expectativas. Mesmo considerando o ajuste, o lucro líquido teria ficado 46% abaixo da projeção do BTG, com queda de 21% na comparação anual. A geração de fluxo de caixa operacional foi vista como positiva.

O Morgan Stanley, por sua vez, vê outros fatores para justificar a baixa. A visão do banco é de que, ainda que a o impacto tributário seja justificado, a performance da Kroton, que corresponde ao maior segmento da Cogna, ficou abaixo das expectativas, com desaceleração de crescimento e da margem. Ainda assim, o desempenho fraco foi compensado por sazonalidade favorável na Vasta e na Saber, garantindo múltiplos mais altos que os pares para a Cogna. “Por outro lado, isso nos faz questionar se a Kroton está no caminho certo para continuar crescendo com base no ambiente macroeconômico favorável e cumprir a orientação”, afirma o banco.

Já a XP considerou os resultados como positivos e optou por realizar a análise com base no lucro líquido ajustado, excluindo o impacto do ativo fiscal diferido. “Os resultados corroboram com a nossa visão de que a empresa está em uma tendência virtuosa, e, portanto, reiteramos nossa recomendação de compra para a ação”, entendeu o research da corretora.

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O efeito tributário foi visto pelo Itaú BBA como de impacto para o lucro líquido, mas o banco considerou mais presentes notícias positivas que poderiam impulsionar as ações. Na análise, o BBA considerou os resultados operacionais decentes, com Vasta liderando expansão de margem de EBITDA e Kroton com margem estável.

A visão positiva foi compartilhada pela Genial, que mencionou a baixa do IR diferido como “um não recorrente que impactou fortemente a última linha do resultado”. A análise ressalta que, apesar do último trimestre ser menos movimentado, considerando que a captação dos segmento presencial e de medicina acontecem em semestres ímpares, a companhia apresentou bons números, como frutos de boa desenvoltura em 2023.