ADRs: mineração, energia, siderurgia e aviação puxaram queda das ações brasileiras nos Estados Unidos

Principal índice de ADRs do Brasil, o Dow Jones Brazil Titans 20 ADR encerrou em queda de -2,16% nesta terça-feira

Mariana Fonseca

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SÃO PAULO – A B3, Bolsa de Valores brasileiras, está fechada nesta terça-feira (2) por conta do Dia de Finados. Mas o dia foi de queda para as ações brasileiras negociadas nos Estados Unidos.

O principal índice de ADRs (ações de empresas de fora dos EUA negociadas em Nova York) do Brasil, o Dow Jones Brazil Titans 20 ADR, encerrou em queda de -2,16% nesta terça. O EWZ, principal ETF brasileiro negociado no mercado americano, que replica o índice MSCI Brazil, também registrou desvalorização, de -1,81%.

Os dois índices abriram o dia já em queda, e aprofundaram sua desvalorização ao longo do dia. As principais baixas desta terça-feira entre os ADRs brasileiros foram Vale (-4,43%); Cemig (-3,08%); Pão de Açúcar (-3,07%); CSN (-2,93%); Gol (-2,73%); Ultrapar (-2,59%); Gerdau (-2,57%); e Azul (-2,42%). Os principais setores são mineração, energia/combustíveis, siderurgia e aviação. A exceção é o Pão de Açúcar, que atua no varejo.

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Confira o desempenho dos principais ADRs de empresas brasileiras nesta terça-feira (2), em dia de B3 fechada no Brasil:

Empresa ADR Preço (em US$) Variação
Petrobras (equivalente às ONs) PBR 10,07 -1,27%
Petrobras (equivalente às PNs) PBR.A 9,77 -1,31%
Vale VALE 12,31 -4,43%
Itaú Unibanco ITUB 4,17 -1,42%
Bradesco BBD 3,56 -1,93%
Embraer ERJ 15,44 -2,34%
Cemig CIG 2,2 -3,08%
Ambev ABEV 3,00 -1,64%
CSN SID 3,98 -2,93%
Santander BSBR 6,20 -2,21%
BRF BRFS 3,98 -2,21%
Ultrapar UGP 2,26 -2,59%
Sabesp SBS 6,22 -1,58%
Pão de Açúcar CBD 4,42 -3,07%
Eletrobras EBR.B 6,06 -1,78%
Telefônica Brasil VIV 8,13 -0,85%
TIM TIMB 9,87 -2,18%
Gol GOL 5,71 -2,73%
Azul AZUL 14,10 -2,42%
Gerdau GGB 4,55 -2,57%

O que afetou CSN, Gerdau e Vale?

A desvalorização dos ADRs de CSN, Gerdau e Vale se relaciona com o preço das commodities globalmente. Houve uma queda na cotação de contratos futuros de minério de ferro nos últimos dias. A promessa da China, maior fabricante mundial de aço, de restringir o volume produzido este ano afetou a demanda no segundo semestre de 2021. Com menos otimismo dos investidores, há menos procura pelos contratos futuros do minério de ferro e a cotação deles cai.

“A China está desacelerando. Isso afeta principalmente as commodities e, consequentemente, o preço das ações ligadas a elas”, afirma Bruno Komura, analista de renda variável Ouro Preto. “A variação de preços das commodities lá fora que faz com papéis brasileiros associados flutuem no mercado americano, mesmo em um dia sem operação no Brasil”, completa Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo.

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Ao mesmo tempo, os estoques de minério nos portos da China no final de outubro deste ano subiram para o maior nível desde abril de 2019, segundo dados do site Steelhome. “Esperamos que esta semana seja importante para o ajuste de preços de algumas dessas commodities. A China decidirá se vai usar suas reservas de minério ou não, para permitir uma demanda mais linear. A reunião da Opep também decidirá ou não um ajuste no fluxo de saída dos poços de petróleo de acordo com a demanda, o que pode abaixar o preço do barril para menos de US$ 80″, afirma Franchini.

Os preços do petróleo fecharam esta terça-feira perto da estabilidade. O barril tipo Brent de petróleo com vencimento para janeiro em 2022 apresentou queda de 0,22% nesta terça-feira, a US$ 84,55, enquanto o WTI para dezembro de 2021 teve queda de 0,59%, a US$ 83,55.

Outros fatores pesam para ações brasileiras

Mas siderurgia e metalurgia não foram os únicos setores afetados nesta terça-feira. “O dia para o país lá fora foi bem ruim, com empresas de vários setores caindo”, ressalta Franchini.

Um exemplo foram as aéreas Azul e Gol. Seus ADRs fecharam o dia em desvalorização de -2,42% e -2,73%, respectivamente. A cotação da Azul teve uma recuperação parcial de suas perdas nesta tarde, após o anúncio de interesse em comprar a totalidade da Latam Airlines.

“Empresas do setor aéreo tiveram um repique de preço meses atrás e os mantiveram pela volta da demanda. Mas, quando você tem o aumento de um custo fixo que é o dos combustíveis e a manutenção de um dólar elevado junto ao aumento do risco Brasil, as aéreas precisam reprecificar o que realmente vão lucrar nos próximos períodos. Uma coisa é fazer uma projeção de lucro com o dólar a R$ 5,20, outra com o dólar a R$ 5,60”.

O sócio da Monte Bravo ressalta que o resultado da reunião da Opep nesta semana pode promover reajustes nas ações ligadas a commodities e energia. As aéreas estão nesse grupo, que também inclui a empresa mineira de energia Cemig. “Essa queda na cotação das commodities pode não ser tão acentuada, ou pode ficar ainda mais acentuada. É preciso esperar o resultado”.

Komura complementa: companhias brasileira com beta [risco sistemático em relação à media do mercado] maior também estão sofrendo, como a empresa de pagamentos Stone, que apresentou uma queda de 5,37% nesta terça-feira.

“Uma certa correção em relação à segunda-feira [1º] faz sentido, porque foi um dia bastante positivo. A greve dos caminhoneiros não foi tão ruim quanto se esperava, e algumas notícias animaram Banco Inter e Petrobras. Então existe uma correção, somada aos reflexos do que acontece na China”, diz Komura.

O analista também afirma que o dia está sendo mais negativo porque existe uma expectativa geral sobre a reunião do Federal Reserve, sistema de bancos centrais dos Estados Unidos. A reunião, que começa nesta terça-feira e vai até quarta-feira (3), vai decidir se o Fed anuncia ou não o tapering, redução da compra de títulos públicos no mercado. Essa decisão seria uma forma de reduzir os estímulos monetários feitos por conta da pandemia de Covid-19.

“A expectativa é de que haja esse tapering, mas estamos monitorando qual será o ritmo de compra desses ativos. O mercado também vai começar a fazer projeções de quando a taxa de juros americana vai subir”, diz Komura.

A pesquisa CNBC Fed Survey mostra que boa parte dos investimentos espera que o Fed anuncie o tapering a partir de novembro. É esperado que a instituição reduza suas compras em US$ 15 bilhões mensalmente até maio de 2022. 60% dos investidores estão insatisfeitos com o ritmo dosado: eles acreditam que a inflação é uma preocupação tão relevante que o Fed deveria parar seus estímulos monetários de uma vez só.

Os investidores também esperam que a taxa básica de juros americana seja aumentada em setembro de 2022. As previsões anteriores apontavam alta apenas em dezembro de 2022. 44% dos investidores acredita que o anúncio venha ainda antes, em julho de 2022, pouco depois do fim do tapering.

Por fim, os papéis brasileiros como um todo acabam sofrendo não apenas com a volatilidade externa relativa ao setor de cada empresa e relativa às economias chinesa e americana, mas também com o contexto econômico local.

“É um cenário instável e incerto, gerando baixa atratividade quanto ao potencial das empresas brasileiras”, destaca Franchini. “Um ponto adicional é a votação da PEC dos Precatórios, que está deixando o mercado apreensivo. Acho que a esperança do mercado é que todos os gastos sejam incluídos dentro da PEC, e que depois não tenha mais nada. Com o centrão sendo o decisor, fica difícil ter maior visibilidade, mesmo que no curtíssimo prazo”, completa Komura.

Cenários internacionais

A expectativa com o Federal Reserve não parou índices americanos e europeus. Nesta terça-feira, o Dow Jones apresentou alta de 0,39%; o S&P 500, alta de 0,37%; e o Nasdaq Composite, alta de 0,34%. Na Europa, o índice Stoxx 600, que reúne as ações de 600 empresas de todos os principais setores de 17 países europeus, fechou em alta de 0,14%.

Já as bolsas asiáticas apresentaram resultados mistos. Em Hong Kong, o índice Hang Seng registrou queda de -0,22%. O destaque negativo em Hong Kong ficou com o mercado imobiliário. O Hang Seng Properties Index apresentou queda de -0,99% nesta terça-feira. O Evergrande Group viu suas ações caíram -2,9%, enquanto o papel da China Vanke teve queda de -4%. A Sunac China Holdings teve uma caída ainda maior nesta terça, de -9,6%.

Na China continental, o Shanghai composto perdeu -1,10%. No Japão, o Nikkei 225 recuou -0,43%. Por outro lado, na Coreia do Sul, o Kospi subiu 1,16%. Apenas as ações da gigante de tecnologia sul-coreana Samsung apresentaram alta de 2,29%.

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.