Token da FTX confirma temor do mercado, despenca 90% e ameaça ir a zero; Bitcoin e Ethereum caem forte

Classe de ativos reverteu rapidamente recuperação do começo da tarde

Paulo Barros

(Getty Images)

Publicidade

Após ensaio de alta após anúncio de aquisição da corretora FTX pela rival Binance, as criptomoedas revertem o movimento e caem forte na tarde desta terça-feira (8). Às 16h11, o Bitcoin (BTC) recuava 10%, o Ethereum (ETH) cedia 20% e o token da FTX, o FTT, que esteve no centro da crise nesta semana, despencava perto de 70%.

O movimento se intensificou e, minutos mais tarde, BTC já caía 15%, a US$ 17.400, o ETH perdia 20%, a US$ 1.250, e o FTT desabava 90%, para menos de US$ 3 – ainda ontem, era negociada a US$ 22.

Investidores temem que o FTT reprise o caso Terra (LUNA), que, em maio deste ano, entrou em colapso e suas duas criptos, Luna e UST, foram a zero.

Continua depois da publicidade

As criptos começaram o dia em queda já refletindo o mau humor dos agentes de mercado, que temiam uma crise sem volta na FTX. Nos últimos dias, clientes da corretora começaram uma corrida de saques, que se intensificou hoje, pelo temor de que a empresa interrompesse retiradas por falta de liquidez.

Os preços então viraram por volta das 13h30, após Sam Bankman-Fried, fundador e CEO da FTX, anunciar que havia chegado a um acordo para vender sua empresa à Binance. O novo recuo começou próximo das 14h, e se agravou nas horas seguintes.

Alguns analistas ouvidos pelo InfoMoney apostavam que o mercado reagiria bem à notícia. Segundo o sócio e gestor da BLP Crypto, Alexandre Vasarhelyi, no entanto, investidores ainda não acreditam que o episódio chegou a um desfecho, e estão digerindo incertezas de um cenário que lembra o que aconteceu com a Luna em maio, embora por razões diferentes.

Continua depois da publicidade

“A Alameda [Research, empresa-irmã da FTX] tentou defender o FTT vendendo tudo o que tinha, mas está claro que ela possuía alguns ativos ilíquidos. O token então sofreu uma corrida e agora estamos vendo o efeito disso tudo. É normal, já vi acontecer outras vezes, o mercado ainda está tentando encontrar o preço”, avalia.

Além disso, ele aponta que não se sabe ao certo se a FTX segue liquidando ativos para atender a saques de clientes, agora que pode estar garantida pela Binance. “No caso da Luna nós podíamos ver claramente a carteira [de onde as criptos eram vendidas], mas ainda assim só descobrimos depois que [os criadores do projeto] tinham enviado Bitcoin para a Jump [Crypto, plataforma de trading]”, explica.

Assista: Para trader, compra de Bitcoin vale a pena mesmo com queda até US$ 14 mil, visando o longo prazo

Continua depois da publicidade

“Mas, nesse caso, duvido muito que uma empresa tão tecnológica como a FTX deixe rastros de todas as suas carteiras. Para além do FTT, que é menor e conseguimos rastrear, não temos como saber quanto de fundos eles ainda têm”.

Para o gestor, apesar do anúncio da aquisição da FTX pela Binance, o fato de existir por enquanto apenas uma carta de intenção deixa o negócio em aberto, o que acaba sendo também avaliado por agentes de mercado como um fator de risco, pois a crise ainda pode se estender. “Eu só acredito na hora que eles assinarem o contrato. Eles ainda vão fazer o due diligence (verificação contábil e jurídica do negócio)”, conta, ressaltando que, portanto, nada impede que o acordo possa não vingar.

Na opinião do trader Fernando Pereira, da corretora Bitget, o caso FTX-Alameda não abala os fundamentos do mercado. “Eu costumo ignorar esses movimentos no curto prazo, pra mim não passa de desespero dos vendedores que causa uma bola de neve”, diz.

Continua depois da publicidade

Para o analista gráfico, “a queda brusca de hoje é mais um ruído do que um movimento que pode desencadear quedas ainda maiores. Em breve toda a queda que vimos hoje será recuperada”. “Enxergo esse movimento como uma oportunidade”, conta.

Segundo dados do agregador CoinGecko, o mercado cripto perde, como um todo, 14% em valor de mercado neste momento, a US$ 933 bilhões. Além do FTT, os piores desempenhos considerando as cotações nas últimas 24 horas são de Chiliz (CHZ), Ethereum PoW (PoW) e Solana (SOL), fortemente ligada ao grupo empresarial de Bankman-Fried, todas com perdas de mais de 30%.

Por ora, não há nada que indique que a queda generalizada nos ativos seja reflexo do ambiente macroeconômico. Enquanto os ativos digitais registram fortes perdas, os índices Dow Jones e S&P500 sobem 0,63% e 0,12%, respectivamente, e o Nasdaq 100 tem leve recuo de 0,18%.

Paulo Barros

Editor de Investimentos