Ações do Nubank (NUBR33) saltam quase 20%, mas por que resultado dividiu tanto os analistas?

Mais otimistas destacam expansão da receita, enquanto pessimistas avaliam inadimplência maior como preocupante e tem dúvidas sobre crescimento

Lara Rizério

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O balanço da fintech Nubank (NYSE:NU;B3:NUBR33) era esperado com ansiedade pelos investidores, ainda mais em um momento em que a combinação de juros e inflação altos têm pressionado a renda das famílias no Brasil e ditado uma postura mais cética do mercado com empresas de alto crescimento.

A companhia divulgou seu balanço na véspera, com prejuízo líquido de US$ 29,9 milhões no segundo trimestre do ano, um aumento de 96,7% em relação ao saldo negativo registrado um ano antes (de US$ 15,2 milhões).

O resultado líquido ajustado, porém, foi de lucro de US$ 17 milhões. A previsão média de analistas ouvidos pela Refinitiv era de US$ 23,3 milhões. A cifra representa uma alta de 3,03% em relação aos R$ 16,5 milhões obtidos no mesmo período do ano passado. O número é ajustado por despesas com remuneração baseada em ações e efeitos tributários.

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O Nubank fechou junho com 65,3 milhões de usuários, incluindo Brasil, México e Colômbia, um aumento de 57% em 12 meses. A receita total cresceu 230%, para US$ 1,2 bilhão. A receita média por cliente subiu 105% ano a ano, a US$ 7,8, enquanto o custo médio por cliente foi de US$ 0,80, estável.

Já a qualidade da carteira de crédito do Nubank mostrou deterioração, com o índice de inadimplência acima de 90 dias subindo de 3,5% para 4,1%. Já o índice de 15 a 90 dias ficou estável em 3,7%.

A princípio, o resultado foi bem recebido pelos investidores. Após uma disparada de 10,12% na véspera, o ativo NU disparou 17,95%, a US$ 5,52, na Bolsa de Nova York. Já na B3, os BDRs NUBR33 saltaram 19,54%, a R$ 4,71.

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O Bradesco BBI reconhece a forte expansão da receita do Nubank, mas afirma seguir cauteloso com a sustentabilidade do
sua taxa de crescimento, especialmente porque a reprecificação de empréstimos deve pesar sobre a receita de clientes.

“Por exemplo, o índice de inadimplência mostrou uma deterioração substancial, atingindo o segundo nível mais alto (atrás apenas do pico da pandemia em 6,1% sob a metodologia anterior), levando também a maiores provisões e compensando a expansão positiva da receita (ou seja, a margem bruta continua sob pressão)”, avalia o BBI.

Além disso, o banco reportou uma desaceleração significativa no crescimento dos empréstimos, o que faz os analistas do banco acreditarem que o ambiente macroeconômico deve continuar pressionando a qualidade dos ativos e, por sua vez, seu apetite a risco.

“Note-se que continuamos a ter dúvidas sobre o nível de deterioração da qualidade dos ativos que está orientando o apetite de risco da administração, pois a nova metodologia ‘melhorou’ a inadimplência acima de 90 dias em 60 pontos-base (de um aumento de 120 pontos-base na inadimplência na base trimestral antes da mudança para aumento de 60 pontos-base no segundo trimestre de 2022, na mesma base de comparação)”, aponta.

Além disso, o BBI avalia que ainda precisa entender o que a mudança no modelo operacional de gestão significará para o banco. Continuamos a manter a nossa visão de que um lucro líquido positivo possa levar mais tempo para ser entregue, pois as provisões provavelmente permanecerão em níveis elevados. Assim, reafirmou a recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado) para o ativo NU negociado na Bolsa de Nova York, com preço-alvo de US$ 3,30, ou valor 29% abaixo frente o fechamento da véspera.

O Itaú BBA avalia que o prejuízo líquido foi menor do que o esperado pelos analistas, de R$ 145 milhões, ante projeção da casa de R$ 429 milhões. Contudo, eles também destacam os sinais relevantes de deterioração da qualidade de crédito e desafios para crescimento em empréstimos pessoais. “As despesas de provisão teriam sido maiores se não fosse pelo consumo de cobertura significativo”, avalia os analistas.

Já o crescimento da carteira de empréstimos pessoais desacelerou substancialmente para alta de 8% na base trimestral versus trimestres recentes e os analistas não se esperam que acelere no curto prazo. O uso de crédito no volume de cartões de crédito continuou ganhando participação, aumentando as pressões de inadimplência.

Do lado positivo, a receita líquida total superou as expectativas. Já a  margem financeira (NII, na sigla em inglês) aumentou 22%, muito acima do crescimento de 18% na base trimestral na carteira total de empréstimos, com rápido crescimento de taxas dos clientes. As receitas de serviços corresponderam as expectativas ao crescerem 12%. Despesas operacionais ficaram estáveis, gerando uma alavancagem operacional significativa, avaliam.

“Em geral, boas receitas e eficiência, mas o risco de crédito está aumentando mais rapidamente do que o esperado a nosso ver. Isso tem implicações de monetização de clientes no médio prazo”, avalia o BBA. Os analistas apontam que o valuation da fintech, com uma relação de preço sobre o lucro esperada para 2023 de 36 vezes, ainda não considera uma desaceleração ou um menor mercado endereçável para produtos de crédito rentáveis ​​de alto rendimento. Assim, a recomendação do BBA segue underperform para os ativos NU negociados na NYSE, com preço-alvo de US$ 4, ou 5,9% abaixo do fechamento anterior.

Inadimplência não deve preocupar?

Enquanto BBI e BBA apontam preocupação com a inadimplência, o Morgan Stanley ressaltou menor preocupação com esse ponto.

“Temos uma visão contra o consenso sobre inadimplência e achamos que os resultados do 2T22 dos bancos de grande capitalização, e agora do Nubank, apoiam nossa visão mais construtiva”, apontam.

Para os analistas do Morgan, os mais pessimistas com a inadimplência terão dificuldade em dar suporte à visão negativa.

“Alguns provavelmente dirão que, antes da mudança contábil, o índice de inadimplência de 90 dias saltou 120 pontos-base na comparação trimestre a trimestre, acima dos 70 pontos-base do 1T22. Mas isso foi explicado principalmente pelo efeito de mix, sendo que o NPL (Non performing loan, ou inadimplência) de mix constante subiu 60 pontos-base trimestre a trimestre, para 4,3% e permanece bem abaixo do nível pré-Covid, de cerca de 5%. Mais ainda, a inadimplência ‘antecipada’ [por um período menor do que 90 dias], antes da mudança contábil, melhorou 10 pontos-base na comparação trimestral e isso é notadamente muito positivo (e consistente com o que vimos nos bancos de grande capitalização)”, apontam.

Além disso, embora o índice de cobertura tenha diminuído, o índice de reserva total aumentou neste trimestre. Já com relação à vista desaceleração do crescimento do crédito no trimestre e trimestre, que poderia refletir a cautela da administração sobre a qualidade dos ativos, o Morgan aponta que o ajuste cambial é importante neste caso – em uma base cambial neutra, empréstimos pessoais e cartões de crédito estão sendo executados a uma alta de 60% em bases anualizadas, “sem dúvida um sinal positivo na demanda, oferta e dinâmica de inadimplência”.

Assim, o Morgan reitera overweight (exposição acima da média do mercado) na ação do Nubank negociada na NYSE, com preço-alvo de US$ 14, ou potencial de valorização de 199,2% em relação ao fechamento da véspera.

“Acreditamos que o Nubank está bem posicionado para construir uma das maiores e mais valiosas franquias bancárias da América Latina, com base em tecnologia superior, melhor satisfação do cliente, marca valiosa e forte desempenho de coorte e economia de unidade. A empresa tem vários caminhos atraentes para aumentar o crescimento da receita, incluindo uma base de clientes em rápida expansão, lançamento e venda cruzada de novos produtos, novos geografias, fusões e aquisições e potencial expansão para novos verticais de negócios. Tendências demográficas favoráveis ​​proporcionam oportunidade de crescimento durável”, avaliam os analistas.

Nem no time dos pessimistas e nem dos otimistas, o JPMorgan tem recomendação neutra para os ativos, com preço-alvo de US$ 5, ou potencial de valorização de 7% frente o fechamento da véspera.

O prejuízo de US$ 30 milhões foi pior do que o esperado pelo JP, de US$ 7 milhões, mas melhor do que o consenso de mercado de US$ 55 milhões. “No geral, vemos um forte crescimento de margem financeira impulsionado por margem líquida de juros (NIM), já que os volumes aumentaram muito modestamente, com alta de 3% trimestral (de 16% no câmbio na base neutra). Acreditamos que isso já indica desaceleração nos padrões de crescimento”, avaliam os analistas.

O Citi observa que, em termos das principais métricas, foi um “trimestre sólido” para o Nubank, com destaque para o desempenho da receita. Eles, contudo, avaliam que o investidor pode continuar tendo dúvidas sobre originações de empréstimos pessoais e inadimplências, entre outros.

A Levante Ideias de Investimento avaliou os números como “interessantes”. “Vemos potencial para o rally recente continuar”, destacam os analistas, apontando que, até a véspera, nos últimos 30 dias, as ações NU subiam 21,5% na NYSE, desempenho acima dos índices acionários tanto americanos como brasileiros.

“A expansão na base de clientes veio combinada com aumento no engajamento, seja medido através do índice de atividade seja através do indicador de receita por cliente. As métricas por safra de clientes também são animadoras e devem sustentar um forte desempenho das receitas tanto de intermediação financeira como de receitas no médio prazo”, avaliam os analistas da casa de research.

Contudo, os analistas da Levante seguem “à espera” da maturação do negócio. “Em breve, por uma questão natural de
limitação no mercado endereçável (TAM), o crescimento deve desacelerar. Neste momento, temos receio de que o mercado exija alguma sinalização de expansão nas métricas de margem, retorno sobre o ativo e do patrimônio líquido”, avaliam.

Eles ressaltam que a empresa segue avaliada em aproximadamente US$ 20 bilhões, perfazendo um múltiplo de cerca de 4,2 vezes o seu valor patrimonial. “Seguimos convictos de que Nu é uma ‘aposta cara’ vis-à-vis as demais opções de investimento em ações de alto crescimento no mercado internacional”, destacam.

Cabe destacar ainda que a empresa anunciou uma reestruturação de sua estrutura organizacional que, na visão de William Castro Alves, da Avenue Securities, dará mais liberdade ao CEO e fundador David Velez, que manterá foco na estratégia de longo prazo e reputação da empresa. Youssef Lahrech atual COO, assume como CEO e se reportará diretamente a David Velez; Cristina Junqueira, co-funder e CEO da operação Brasil passa a ser a Chief Growth Officer focando mais nas estratégias de crescimento da empresa no Brasil, México e Colômbia.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.