“Mercados emergentes irão extremamente bem”, diz ex-CEO da lendária corretora Smith Barney

Thomas Matthews disse, em entrevista à revista InfoMoney que, no longo prazo, ainda prefere investir em países que terão o maior crescimento do mercado consumidor

João Sandrini

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SÃO PAULO – A lendária Smith Barney foi uma das maiores corretoras de varejo e gestora de fortunas de Wall Street. Criada em 1938, a empresa passou ao longo do tempo por uma série de fusões, chegou a fazer parte do Citigroup e, em 2009, acabou caindo nas mãos do Morgan Stanley, que pagou US$ 2,7 bilhões por 51% de suas ações. Um de seus últimos CEOs foi Thomas Matthews, que, ao longo de 32 anos na firma, passou pelos cargos de assessor financeiro, gerente de agência, diretor regional, diretor nacional de vendas e presidente. Matthews é hoje diretor da empresa de investimentos Consulting Group Capital Markets Funds e presta consultoria ao fundo de private equity General Atlantic. Em entrevista à Revista InfoMoney, ele disse que, apesar das turbulências nos últimos meses, os investidores de longo prazo deveriam continuar a apostar em países emergentes, cujos mercados consumidores devem crescer mais rápido que os dos países desenvolvidos. Na entrevista a seguir, ele também fala sobre as prováveis mudanças na indústria brasileira de investimentos, as oportunidade de aplicação no exterior, as mudanças em Wall Street desde a crise do subprime e o filme “O Lobo de Wall Street”:

IM – Por que os investidores estão tão de mau humor com os mercados emergentes? É justo tratá-los como “submergentes”?

TM – Os analistas estão tratando isso como um “efeito-manada”. Muita gente estava investindo em mercados emergentes à caça de juros maiores ou de ações de empresas instaladas em economias que estavam crescendo mais rápido que os Estados Unidos e a Europa. Quando vieram as notícias de que os EUA reduziriam a recompra de títulos que estava sendo feita para manter as taxas de juros muito baixas, a “manada” entendeu que os juros subiriam nos EUA. Eles tiraram dinheiro de emergentes e se voltaram para ativos em dólar. É cedo para dizer, mas me parece que a teoria de que os juros vão subir nos EUA pode estar errada. Em janeiro, as taxas de juros, na verdade, caíram. Sou um investidor e tenho algumas opiniões que ajudam a moldar minha carteira. Eu acho que, no longo prazo, os mercados emergentes irão extremamente bem. Meu foco está em companhias que vão se beneficiar do crescimento da população consumidora. Se a renda dessas pessoas cresce, elas vão querer o que nós todos queremos: uma vida mais confortável para si mesmas ou para a família. Estou muito “bullish” [otimista ou comprador, em traduções livres] com as economias em desenvolvimento.

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IM – O Brasil foi incluído em um grupo de países com alto déficit externo chamado de “5 Frágeis” pelo Morgan Stanley. O Brasil é mesmo tão frágil?

TM – Não sou qualificado o suficiente para comentar o déficit brasileiro ou seu histórico inflacionário. Mas o Brasil tem recursos inacreditáveis e, como otimista que sou, acredito que as coisas vão melhorar. Veja o que aconteceu na Europa dois anos atrás. Havia rumores sobre o naufrágio do euro e o calote na dívida em alguns países. Em minha opinião, a Europa está melhorando. Ao mesmo tempo em que alguns países europeus ainda têm problemas a resolver, as preocupações em relação à falência do euro parecem ter sido equivocadas.

IM – O sr. acha que os investidores brasileiros deveriam investir nos EUA? Por quê?

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TM – Acho que quanto mais opções o investidor tiver, melhor. Não estou seguro sobre o ambiente regulatório brasileiro, mas, se os investidores puderem acessar o mercado global, eles deveriam fazer isso. Nos últimos anos, quem não gostaria de ter comprado ações da Amazon, da Apple ou do Facebook? O índice S&P 500 subiu 30% no ano passado enquanto o Ibovespa caiu [15,5%]. Se existe a oportunidade de diversificar a carteira de ações, o investidor prudente deveria se aproveitar dessa vantagem e investir nos mercados globais para preservar ou criar riqueza para suas famílias.

IM – O sr. acha que os investidores têm razões para se preocupar com o crescimento econômico e o endividamento chinês?

TM – O que acontece na China tem um impacto muito grande sobre outras economias ao redor do mundo. Os dados chineses são examinados cuidadosa e exaustivamente. Não sou um economista, mas apenas um investidor. Minha opinião é que a China tem desacelerado, mas ainda cresce mais rápido que a maioria das economias. A questão sobre se esse crescimento depende muito do governo é preocupante. Mas minha visão é que a China é um dos países com um enorme crescimento da população que consome. Segundo a revista Economist, a China está próxima de superar o Japão como segundo maior mercado consumidor do mundo. Eles estão comprando mais carros, produtos de luxo, viagens… No longo prazo, estou muito otimista com a China.

IM – A indústria de investimentos é muito diferente no Brasil e nos EUA. Aqui os maiores bancos de varejo, como Itaú e Banco do Brasil, são também as maiores corretoras e gestoras de recursos. Já nos EUA esse mercado é dominado por empresas especializadas em investimentos. Por quê?

TM – Minha dúvida não é se as corretoras e gestoras de recursos brasileiras vão tomar esse mercado dos bancos, mas quão rápido isso vai acontecer. Quando comecei a trabalhar nesse segmento em 1974, os bancos americanos também eram dominantes. Mas com a introdução de novos produtos, como os fundos de curtíssimo prazo, a negociação de opções em Bolsa, a gestão personalizada de recursos e o oferecimento de uma plataforma aberta de fundos de investimento administrados por diferentes gestoras, nós tomamos a liderança tanto em preferência dos clientes quando em recursos sob gestão.

IM – O que os clientes esperam de uma empresa de investimentos?

TM – Os clientes querem ter escolha. O modelo proprietário que os bancos ofereciam nos EUA na década de 1970 – e que entendo que seja até hoje o predominante no Brasil – limita demais as escolhas dos clientes apenas àquilo que o banco tem a oferecer com sua marca. É mais lucrativo para o banco oferecer apenas seus produtos. Mas os assessores financeiros precisam ter a habilidade de mostrar o que é melhor para o cliente, independente de quem seja o responsável pelos produtos.

IM – Como foi trabalhar durante tantos anos na Smith Barney, uma das maiores empresas de investimento da história de Wall Street?

TM – A Smith Barney foi uma das maiores empresas de gestão de fortunas em Wall Street. Éramos os melhores em tudo, em satisfação dos clientes, em retenção dos melhores assessores de investimentos, em total de recursos, em desempenho financeiro. Fizemos parte do Citigroup até que o banco decidiu vender o negócio para o Morgan Stanley. Em 32 anos na empresa, fui assessor financeiro, gerente de agência, diretor regional, diretor nacional de vendas, CEO e presidente.

IM – O que mudou em Wall Street desde a crise de 2008?

TM – As mudanças são numerosas e significativas. Muitas corretoras se tornaram bancos. Agora há muitos órgãos reguladores supervisionando essas instituições. Os requerimentos de capital das instituições financeiras também aumentaram. Acho que foram boas mudanças para o setor. Os investidores às vezes ficam preocupados sobre até que ponto o dinheiro deles está seguro. Mas eu penso que se as mudanças foram boas para os clientes, então também foram boas para as instituições financeiras.

IM – O sr. assistiu ao filme “O Lobo de Wall Street”? O que achou? Já viu coisas parecidas em Wall Street?

TM – Eu odiei o filme, achei vulgar. Não representa o que acontecia na verdadeira Wall Street. O período em que todas aquelas coisas aconteceram pode ser considerado formidável para os investidores. Os clientes estavam muitos satisfeitos.

Essa matéria foi publicada na edição 49 da revista InfoMoney, referente ao bimestre março/abril de 2014. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.