El-Erian: ilustre improvável que apostou no Brasil em 2002 sai da Pimco fazendo história

Gestor saiu da maior detentora de bônus de emergentes no mundo mostrando a sua crença por essas economias

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Por essa poucos esperavam. Uma das figuras mais icônicas dentre aqueles que acompanham o mercado de investimentos mundial e que fica de olho no noticiário econômico anunciou a sua saída de uma das maiores gestoras do mundo. Na última terça-feira (21), Mohamed El-Erian anunciou que sairia da Pimco em março, após 14 anos de trabalho na gestora e sendo uma das maiores referências em termos de opinião sobre política monetária.

El-Erian entrou na Pimco, fundada por Bill Gross, em 1999. Em 2005, ele aceitou o convite de Harvard para administrar os recursos da Universidade, mas regressou dois anos depois. O gestor nasceu em Nova York em 1958, mas passou a sua infância no Egito. A família se mudou para os EUA em 1968 quando o seu pai conseguiu um emprego na ONU (Organização das Nações Unidas). O ex-gestor da Pimco – atualmente a maior detentora de bônus dos emergentes do mundo – acompanhou o seu pai em seus outros cargos diplomáticos no exterior, inclusive como embaixador da França entre 1971 e 1973, só retornando ao Egito para a realização de visitas curtas.

Depois de frequentar escolas no Cairo, Nova York, Paris e Inglaterra, El-Erian fincou raízes em solo norte-americano em 1983, aos 25 anos. El-Erian é bastante conhecido por publicar sobre os temas econômicos e financeiros internacionais e expõe seus artigos em diversas publicações de renome internacional, como o Wall Street Journal, Financial Times e CNBC.

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Assim, o gestor é um eloquente formador de opinião e se tornou uma estrela da mídia, o que é bastante improvável para um gestor de fundos. Poucos foram tão influentes quanto ele ao abordar o debate sobre os mercados e a política monetária nos últimos anos.

Aposta em emergentes: a sua marca

Depois de sua passagem pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), El-Erian ganhou destaque como um investidor no mercado de dívidas emergentes da Pimco. Após amargar uma grande perda ao apostar US$ 2 bilhões em títulos argentinos em 1999, dois anos antes do default do país em US$ 100 bilhões, o gestor não esmoreceu e aumentou a sua aposta em países latino-americanos.

Mas, desta vez, foi no Brasil de 2002, quando comprou títulos brasileiros que tiveram uma forte queda em meio às desconfianças de que o então candidato Lula poderia declarar moratória da dívida do País quase fosse eleito presidente – e ele estava à frente nas pesquisas. Após Lula assumir, houve uma mudança de posição: o presidente cortou gastos do governo e o déficit e os títulos subiram.

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E uma das expressões cunhadas por Mohamed El-Erian “novo normal”, em 2009, frase que passou a ser usada de forma abrangente pelo mercado ao desginar a expectativa de que os países industrializados vão enfrentar um crescimento lento, desemprego persistentemente elevado, desalavancagem do setor privado e questões de dívidas soberana por um longo tempo.

Como presidente do comitê de investimentos da Pimco ao lado de Bill Gross, El- Erian ajudou a orientar a empresa durante a crise financeira de 2008 melhor do que a maioria dos colegas, deixando a Pimco bem posicionada para capitalizações. No entanto, ele também esteve Pa frente de algumas operações ousadas que foram mal sucedidas, principalmente quando a gestora cortou a sua participação em títulos dos EUA no início de 2011, ano em que foi a classe de ativos com o melhor desempenho.

Mais recentemente, a Pimco também perdeu: seu fundo Total Return teve a sua primeira queda anual desde 1999, após errarem o passo da política do Federal Reserve sobre a redução do seu programa de política monetária.

Contudo, Gross ressaltou que El-Erian não saiu da Pimco por conta de mau desempenho e ainda afirmou que o fundo Total Return é mais responsabilidade dele do que da El-Erian. Pelo contrário: o fundador da Pimco se mostrou chocado e estava descrente quando El Erian expôs as suas intenções algumas semanas atrás.

Conforme afirmou a Bloomberg, “Gross se disse em choque e desencorajou El-Erian quando ele expôs as suas intenções de sair da Pimco para ‘recarregar as baterias’, escrever um segundo livro e passar mais tempo com a sua família”. Gross tentou dissuadi-lo, mas nada adiantou.

E, após a saída de El-Erian da Pimco, o cenário desenhado pode ficar ainda mais complicado para a gestora. Sem uma de suas figuras mais ilustres, analistas preveem um cenário mais arriscado para a companhia.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.