Quer pendurar as chuteiras? Siga as dicas dos craques para manter o patrimônio

Conheça as táticas de investimento adotadas por atletas profissionais para juntar o dinheiro necessário para se aposentar antes dos 40 anos

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Romário, Mike Tyson e Garrincha: o que todos esses atletas têm em comum? Os três tiveram uma infância pobre, alcançaram o topo como esportistas e ganharam muito dinheiro pelas suas conquistas, certo? Mas não é só a glória que une esse grupo: todos os três passaram apuros financeiros anos após a aposentadoria. 
Ser atleta profissional e estrela do esporte é o sonho de nove em cada dez crianças. É preciso talento, esforço e persistência para se destacar nesse mundo. Para os bem-sucedidos, a recompensa virá muito cedo, na forma de dinheiro, mulheres, fama e diversão.

O mais impiedoso dos adversários, no entanto, será a aposentadoria precoce. Por ter o corpo como principal ferramenta de trabalho, um atleta dificilmente conseguirá competir em alto nível por mais de 25 anos. Enquanto a maioria dos mortais estará chegando ao auge da carreira aos 40 anos, quase todos os atletas estarão aposentados ou em vias de parar.

A solução para preservar aquilo que ganharam é a mesma válida para pessoas que não praticam esportes: ter educação financeira e ser bem assessorado. Algumas instituições financeiras já identificaram essa demanda e oferecem seus serviços aos atletas.

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É o caso do Banco do Brasil, que, em conjunto com a CBV (Confederação Brasileira de Voleibol), reuniu recentemente os atletas da seleção brasileira de vôlei de praia para uma palestra com o gerente comercial da Brasilprev, Guilherme Rossi. Na conversa, o executivo fez uma apresentação sobre planejamento financeiro e previdência privada aos atletas.

Emanuel Rego, medalhista pela seleção de vôlei de praia nas últimas três Olimpíadas e ouro em Atenas, aprovou a iniciativa. “Sabemos que a carreira de atleta não é tão longa quanto a de outros profissionais, e é muito importante recebermos informações desse tipo para nos preparamos para o futuro”, diz Emanuel.

Curioso sobre o mercado financeiro, o jogador de vôlei tem investimentos em apartamentos e em títulos públicos por meio do Tesouro Direto, e também disse já ter se aventurado na Bolsa. “Uns quatro anos atrás, eu tive ações da Petrobras e da Vale, mas vendi logo que começaram a cair. Hoje não pretendo voltar, prefiro esperar as coisas melhorarem”, afirma.

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A XP Investimentos foi além e criou uma unidade de negócios específica para atender atletas. A XP Sports foi montada pelo piloto Pedro Boesel, da Stock Car, e ganhou o apoio da corretora em 2011. Boesel diz que teve a ideia de criá-la a partir de seguidos questionamentos de amigos sobre como seriam as melhores formas de investir o dinheiro que ganhavam.

A empresa oferece aos atletas um planejamento financeiro personalizado, baseando-se na situação atual, nos anos que ainda restam de profissão e na renda média anual, entre outros fatores. E traz aos atletas explicações básicas sobre economia e investimentos, que os auxiliarão em cada fase da vida.

“Contamos hoje com 52 clientes, que vão de jogadores a dirigentes e membros da comissão técnica, e administramos aproximadamente R$ 30 milhões”, afirma Boesel. Ele recomenda aos atletas assessorados que tenham um perfil mais conservador de investimentos.

“A carreira de atletas muda a toda hora, tanto para o bem – com contratos melhores, títulos e seleção – quanto para o mal – com lesões, idade avançada e término de contrato. Sempre que há alguma mudança, sentamos para conversar e alinhar o planejamento. Somos uma espécie de Médico do Dinheiro”, complementa Ricardo Wilmersdorfer, um dos idealizadores da XP Sports.

O adversário

O principal adversário dos atletas são as despesas elevadas. Quem chega ao auge muito jovem geralmente gasta bastante dinheiro com carros, imóveis, joias, mulheres, viagens, festas e diversão, entre outras coisas. É muito comum que pessoas que vieram de baixo consumam muito quando ganham dinheiro, porque têm uma espécie de demanda reprimida de sonhos que não puderam ser realizados na época de vacas magras.

Driblar zagueiros truculentos também costuma ser mais fácil do que as marias-chuteiras e outras más companhias. A baixa escolaridade e a imaturidade são como aqueles volantes que param todos os contra-ataques com faltas: dificultam qualquer jogo. 

Para que o atleta não perca tudo o que conquistou e volte à pobreza, preservar um percentual da renda durante toda a carreira é essencial. O ex-jogador Athirson é um exemplo de quem buscou formar um patrimônio.

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Após passar por clubes como o Flamengo e a Juventus da Itália e virar comentarista esportivo do canal Fox Sports, ele viu no mundo dos investimentos uma maneira de acumular a riqueza necessária para manter a qualidade de vida que se acostumou a ter nos anos em que ainda estava em atividade.

Se em campo Athirson era um lateral esquerdo apoiador, que chegou a jogar também como meia, no mundo dos investimentos ele tem um perfil um pouco mais defensivo. A parcela de risco de sua carteira está em fundos imobiliários e fundos multimercados. “Fiquei na expectativa de como seria minha vida quando eu parasse de jogar em termos de segurança financeira. Foi a partir daí que comecei a frequentar palestras e reuniões para saber mais sobre investimentos”, explica.

Às vezes o ingresso no mundo dos investimentos vem antes mesmo dos primeiros jogos como profissional. Esse é o caso de Muralha, meio-campista da Portuguesa, de apenas 20 anos.

Ele explica que, desde quando atuava nas divisões de base do Flamengo, seu pai tinha a intenção de investir o dinheiro que ele ganhava pensando na vida pós-futebol. “A carreira de jogar de futebol é curta, penso em ter uma aposentadoria tranquila, sem problemas financeiros. Por isso quis começar cedo”, afirma Muralha.

O jovem jogador da Portuguesa deixa claro o quanto as pessoas que convivem com ele foram fundamentais para essa iniciativa de pensar no futuro. “Muito jogadores não tiveram essa sorte. Por isso, tiveram problemas ao encerrarem a carreira”, diz. Alguns conselhos que ele dá para outros jovens atletas: pense bem antes de usar o dinheiro que ganha, olhe sempre para o futuro, aprenda com quem fez o certo e não repita o que muitos fizeram de errado.

Fora de campo, um caso emblemático de sucesso é o de Ronaldo Luiz Nazário de Lima. Após uma vitoriosa carreira como jogador de futebol, tendo sido eleito por três anos o melhor do mundo, o maior artilheiro das Copas do Mundo é hoje sócio de uma empresa de marketing esportivo, a 9ine (pronuncia-se “nine”), entre outros negócios.

Na hora de investir dinheiro, o “Fenômeno” não é fominha e prefere escalar o time de craques que tomará as decisões. Cerca de 80% de seu patrimônio estão nas mãos de um grupo de economistas que fica na Espanha e aplica o capital mais com o intuito de preservá-lo. Apenas uma fatia bem pequena vai para a Bolsa. Os 20% restantes do patrimônio do ex-jogador estão aplicados em imóveis e na própria 9ine.

Carlos “Buffett” Parreira

Por trás de um grande time, há um grande técnico. É ele quem arma as jogadas, coordena a equipe e trabalha o lado psicológico de um jogador – todos fatores cruciais para diferenciar um campeão de um perdedor. A revista InfoMoney foi ouvir Carlos Alberto Parreira (foto) sobre suas estratégias e experiências no mundo financeiro.

O técnico campeão da Copa do Mundo de Futebol em 1994 e atual coordenador técnico da seleção brasileira mostrou bastante familiaridade ao falar de investimentos em ações e imóveis, e ressaltou a importância de os atletas buscarem a educação financeira enquanto ainda estão em atividade. “Para mim, sucesso é não ter que retroceder sua qualidade de vida quando parar de exercer a atividade esportiva”, diz Parreira.

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Essa educação financeira ainda é uma deficiência do brasileiro – seja ele atleta ou não. Parreira diz que as coisas são bem diferentes nos Estados Unidos. “Por lá, como os jogadores de futebol se preocupam com o pós-carreira, costumam fazer reuniões a cada dois meses para falar sobre investimentos”, diz o coordenador da seleção, que teve oportunidade de trabalhar em terras americanas, em 1997.

Parreira

Autodidata, Parreira conta que aprendeu sobre investimentos “no tapa”. Há 20 anos, deu o chute inicial investindo em imóveis e, ao adquirir mais confiança, foi para o mercado de ações. “Tenho cerca de 70% em imóveis e 30% em ações, divididos entre investimentos diretos em ações e via fundos de investimento. Por isso considero meu perfil de investidor como um misto entre agressivo – por causa das ações – e conservador – pelos imóveis”, explica.

O ex-treinador mostrou desenvoltura e bom humor ao falar dos seus conhecimentos no mercado imobiliário. “Existem três preocupações quando se vai investir em imóveis: localização, localização e localização. Localização é tudo quando se investe nesse segmento, pois, dependendo do local, a venda é imediata. Outra dica valiosa é comprar o imóvel na planta, no dia do lançamento, sempre que possível.”

Sobre ações, Parreira explica que, como leu muito sobre o assunto, gosta de seguir a filosofia do megainvestidor americano Warren Buffett. Ele diz que investe em empresas sólidas e sempre com foco no médio e longo prazo, sem se preocupar com as oscilações de curto prazo das ações. Nesses quesitos, Parreira destacou empresas como Bradesco, Ambev, Pão de Açúcar, Hering, Itaú e Gerdau.

Bolas Murchas 
Apesar de ganharem muito dinheiro em vida, não são poucos os jogadores que perdem tudo rapidamente após pendurarem as chuteiras:  
Muller Bicampeão mundial pelo São Paulo em 1992 e 1993 e presente em três Copas do Mundo pelo Brasil, o atleta não mostrou a mesma maestria que tinha com a bola nos pés quando o assunto era finanças. Resultado: sete anos após ter parado de jogar futebol, ele veio a público dizer que estava passando por dificuldades financeiras e que estava morando de favor na casa da mãe de um amigo. Hoje ele é comentarista do canal pago SporTV.
Túlio Maravilha Obstinado pela busca do milésimo gol, o atacante que fez história pelo Botafogo não mostrou a mesma disciplina fora de campo e vem enfrentando problemas financeiros. Como não atua sequencialmente em um clube há um bom tempo, Túlio vive atualmente de pequenos acordos publicitários, conquistados graças ao estilo irreverente que o atacante sempre apresentou dentro e fora dos gramados.
Romário Craque dos mil gols e principal estrela da conquista do tetracampeonato de 1994, o “baixinho” teve sérios problemas logo após o fim da sua extensa carreira de jogador de futebol, que terminou em 2008, quando ele tinha 42 anos. Dentre os problemas enfrentados pelo craque, estão o não pagamento de pensão alimentícia, cheques sem fundos, empréstimos de dinheiro ao Vasco e imóveis sendo colocados em leilão. Por não pagar pensão a uma ex-mulher, Romário chegou a ser preso. Hoje é deputado federal e conseguiu dar a volta por cima.
George Best Considerado o melhor jogador irlandês de todos os tempos e um dos maiores ídolos do Manchester United, George Best não ficou famoso apenas pelos gols e dribles, mas também pela sua vida boêmia e seu problema com o alcoolismo – o que contribuiu para que ele falecesse em 2005, aos 59 anos. Embora não tenha passado dificuldades financeiras na vida pós-futebol, Best imortalizou frases dignas de quem poderia ter apuros após encerrar a carreira de jogador. “Gastei muito dinheiro com bebidas, mulheres e carros. O resto eu desperdicei” é apenas a mais famosa delas.

Essa matéria foi publicada na edição 45 da revista InfoMoney, referente ao bimestre julho/agosto de 2013. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers