Ações de bancos estão precificadas abaixo da realidade e apresentam boas oportunidades, diz XP

Analista aponta ação do Banco do Brasil como preferida do setor, mas vê todos os bancos bem posicionados para enfrentar a crise

Rodrigo Tolotti Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – Apesar das ações não estarem entre as piores do ano, o setor bancário brasileiro enfrenta grandes problemas por conta da crise do coronavírus, que deve aumentar a inadimplência e afetar a tomada de crédito. Soma-se a isso as indicações de que novos entrantes são uma ameaça e devem reduzir a rentabilidade do setor.

Apesar disso, o analista Marcel Campos, da XP Investimentos, não concorda com a atual precificação das ações do setor, uma vez que em alguns casos os papéis estão negociando a múltiplos tão baixos que refletiriam uma visão de que os bancos não serão capazes de entregar lucros normalizados no longo prazo.

“Acreditamos que bancos podem estar mais baratos se conseguirem atravessar a crise (e acreditamos que eles vão)”, avalia Campos. De acordo com ele, as instituições financeiras estão bem capitalizadas, com uma carteira de crédito mais segura e menos expostos a crédito no ativo, predominando os investimentos mais líquidos.

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Mesmo assim, os bancos estão, segundo ele, bem provisionados, com uma cobertura média de aproximadamente 200% da inadimplência.

Para Campos, as ações do Banco do Brasil (BBAS3) são as que apresentam melhor assimetria entre risco e retorno, pois a posição da instituição é defensiva, com empréstimos consignados e rurais representando 40% da carteira e R$ 710 bilhões em títulos líquidos.

Ao mesmo tempo, o passivo do BB também é defendido, já que o banco se beneficiou do movimento depósitos de clientes que buscaram liquidez, com poupanças, depósitos à vista e à prazo crescendo consideravelmente no primeiro trimestre de 2020, enquanto seu índice de capital nível I permaneceu alto em 13,9% e o índice de cobertura em 200%.

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Outro ponto relevante é que o Banco do Brasil foi o primeiro a entrar no mundo digital, investindo R$ 24 bilhões em tecnologia de 2012 a 2019, o que resultou na liderança em usuários ativos mensais, com 12 milhões em aplicativos para Android.

Não só, o BB também passa por um processo de recuperação de market share depois de perder a exclusividade com funcionários do setor público. “Desde 2018, o banco começou a aumentar sua base por meio da expansão orgânica, o que é positivo, pois os bancos são um negócio muito escalável”, avalia.

Segundo ele, o banco estatal tem os ganhos mais sustentáveis entre os bancos seus pares dado um NIM baixo de cerca de 4% (contra 6% a 9% dos bancos privados), sendo o único que a XP prevê melhoras no NIM.

Além disso, Campos aponta a menor dependência da receita de tarifas de varejo, que ele acredita ser altamente insustentável, com espaço para aumentar as taxas de atacado, além do banco se favorecer pela grande operação de seguros através do BB Seguridade.

Diante disso, a XP tem recomendação de compra para os papéis, com um preço-alvo de R$ 43, o que implica um upside de 35% sobre os preços atuais.

Outro banco com recomendação de compra pela XP é o Bradesco (BBDC4), com o preço-alvo de R$ 27, um potencial de alta de 30%. De acordo com Campos, o balanço da instituição é sólido e ela está menos exposta a créditos mais arriscados do que em outras crises.

A XP destaca a fonte diversificada de receitas do Bradesco, que é um dos maiores banco múltiplos do País. Em relatório, a XP aponta que no primeiro trimestre, 31% da receita do banco veio de seguros, enquanto os outros 69% vieram de operações de crédito, subsidiárias e receita de serviços.

Outro ponto positivo para a XP é que o banco conseguiu uma boa sinergia entre seus negócios, criando vantagens comparativas de longo prazo. Entre os exemplos, eles apontam o financiamento de varejo usado para impulsionar o banco de atacado, os produtos de seguros e empresas associadas distribuídos através da capilaridade de varejo do banco e o banco corporativo distribuindo produtos bancários a grandes clientes corporativos.

Campos ainda ressalta que acredita que o negócio de seguros do Bradesco oferece a ele uma defesa extra de curto prazo e melhores perspectivas de longo prazo. “Os múltiplos atuais são atrativos com o banco negociando a 8,6x P/L e 1,3x P/PL, ambos em 2021, que fazem acreditar em retorno positivamente assimétricos para o banco”, afirma.

Itaú: melhor alocação, mas melhor precificado

Já para o maior banco privado do País, a XP tem uma recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 29 (contra R$ 30 anteriormente). Isso porque, segundo os analistas, o Itaú (ITUB4) tem uma maior qualidade e excelente histórico, mas isso já é consenso e, com os preços ajustados a esse cenário, diminui a margem de segurança do investimento.

“Fora isso, acreditamos que o Itaú ainda está para provar que pode superar seus pares também no digital e que pode reter seus clientes, que aparentam ser mais suscetíveis aos concorrentes”, afirma o relatório da XP.

O analista Marcel Campos aponta que o Itaú poderia continuar superando os players privados com uma recuperação mais rápida, pois foi o primeiro a postergar pagamentos e aumentar as provisões. Por outro lado, o excelente histórico de rentabilidade do banco e a maior qualidade percebida já estão precificado, uma vez que seus múltiplos de P/PL, mesmo retirando subsidiárias, são semelhantes aos do Bradesco e Santander.

Além disso, o analista diz que o “Itaú ainda está para provar que pode superar seus pares também no digital e que pode reter seus clientes, que aparentam ser mais suscetíveis aos concorrentes”.

A XP ressalta a boa alocação de capital do banco. “Para nós, alocação de capital também significa não destruir valor quando as oportunidades de reinvestir a taxas acima do custo de oportunidade não aparecem, e o Itaú também parece concordar, como mostra o payout de 89% do lucro em 2018”, afirma.

Santander: maiores riscos e menor potencial de alta

No caso do Santander (SANB11), a XP acredita que o banco está bem posicionado para enfrentar a crise do coronavírus devido aos altos níveis de capital, liquidez e cobertura, mas conta com riscos maiores e segurança de investimento menor.

Entre os motivos para a recomendação, o analista Marcel Campos destaca cinco fatores: alta exposição ao crédito de varejo, que deve ser a mais afetada pela Covid-19; baixa diversificação de receita; receita de serviços exposta às linhas de maiores riscos, como adquirência, cartões de crédito e débito e serviços de conta corrente; um eventual aumento da CSLL poderia afetar mais o Santander devido à menor exposição a subsidiárias não bancárias; e o fato do preço atual já estar precificando crescimento a frente dos pares.

No lado das receitas, a XP acredita que o banco enfrenta alguns riscos que outros bancos não têm, como no no financiamento de automóveis, uma vez que a indústria automobilística está quase parada. Além disso, nos ganhos com serviços, o Santander enfrenta grande concorrência.

Já na margem, Campos acredita que os atuais 7% que o banco apresenta não são sustentáveis no novo cenário de menores taxas de juros por mais tempo.

Além disso, o Santander também possui um carteira de crédito mais arriscada, de acordo com o analista. “Embora não esperemos aumento expressivo na inadimplência até o início de 2021 devido aos períodos de carência e os 90 dias de atraso até ser considerado inadimplência, classificamos a carteira de crédito do Santander como mais arriscada do que de seus pares, uma vez que o banco possui 69% de sua carteira em empréstimos de varejo”, afirma.

Por fim, a XP ainda aponta que as provisões do banco espanhol devem acelerar mais rapidamente que seus pares, além do fato de que o fato da instituição ter feito um baixo provisionamento no primeiro trimestre poderá “deteriorar mais os resultados do próximo trimestre” em comparação aos outros bancos

“Por fim, o índice de cobertura do Santander está acima de um índice de inadimplência abaixo da média de 3,0%, que acreditamos poder acelerar em tempos de crise, aumentando ainda mais a necessidade de provisões”, conclui Campos.

Neste cenário, a XP coloca uma recomendação neutra para o Santander, com preço-alvo de R$ 32, o que implica um upside de apenas 13% em relação aos atuais valores das units.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.