Ações da Lojas Americanas devem despencar na segunda-feira, mas não há motivos para pânico: entenda

Analistas da XP projetam queda de até 51% nas ações LAME3 e LAME4, mas isso não irá refletir o retorno dos atuais acionistas da empresa

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A partir de segunda-feira (19) entra em vigor na Bolsa a tão comentada união das operações da Lojas Americanas (LAME3;LAME4) e B2W (BTOW3). A visão geral dos analistas de mercado é positiva sobre as mudanças, mas elas também devem levar a grandes variações nas ações – inclusive de queda nominal para os papéis LAME – e é bom o investidor ficar atento.

Esta sexta é o último dia em que as ações de LAME4 operam representando tanto a operação de lojas físicas da Lojas Americanas quanto a participação de 62,5% da empresa na B2W Digital.

A partir de segunda, os papéis BTOW3 deixam de ser negociados e dão lugar para a AMER3, que representa a nova companhia resultado da união das duas, chamada Americanas S.A.

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A mudança na estrutura acontece da seguinte forma: a Americanas realiza a cisão de suas 1.700 lojas físicas e da fatia na Ame Digital. Essas operações passam a ser da B2W através de uma operação de aquisição, sendo que a B2W passa a se chamar Americanas e terá o novo ticker AMER3.

A Lojas Americanas, mesmo sem os ativos, segue sendo negociada na B3 com os tickers LAME3 e LAME4, sendo um “veículo de investimento” dos acionistas, ou uma “holding” da Americanas, passando a representar uma participação de 38,9% na nova companhia (AMER3). Com isso, os papéis devem sofrer ajuste de modo a refletir o novo valor de mercado companhia.

Para o atual investidor, cabe ressaltar, serão recebidas 18 ações AMER3 para cada 100 papéis de LAME3 ou LAME4 que ele possua – ou seja, ele terá um novo ativo na carteira além de LAME. Mas é importante ter em mente que esses dois ativos da Lojas Americanas continuarão a ser negociados na Bolsa.

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E isso pode gerar alguma confusão com as cotações na segunda-feira. Como explica a equipe de análise da XP, para as ações de Americanas S.A, o preço irá depender agora da reavaliação de múltiplo (EV/GMV, relação entre valor da empresa e o volume bruto das mercadorias vendidas) que o mercado irá atribuir à nova companhia. Já para os papéis de Lojas Americanas, além da reavaliação de múltiplo, os preços dependerão dos descontos entre LAME3 e LAME4 e de holding que o mercado irá incorporar nas ações.

“Em nossa visão, consideramos o atual desconto de holding de cerca de 20% como justo, enquanto não vemos mais motivos para a diferença entre as cotações de LAME4 e LAME3 existir com a efetivação da fusão dado que ambas as classes de ações receberão a mesma quantidade de ações da AMER3”, explicam os analistas.

Queda das ações na segunda?

Por não mais representarem a operação total que hoje está atrelada ao seu negócio, passando a serem negociadas “ex-cisão”, as ações LAME3 e LAME4 devem passar por uma forte queda nominal no próximo pregão, mas o investidor precisa ter em mente que, como irá receber ativos AMER3, o seu retorno não deve ser impactado na mesma proporção.

Um bom exemplo para ilustrar a situação foi o que ocorreu com o Pão de Açúcar (PCAR3), que no dia 1 de março desse ano, caiu 66% com a entrada em vigor da sua cisão com o Assaí (ASAI3). Na ocasião, os acionistas da companhia PCAR3 receberam ativos ASAI3 na estreia, e portanto, não sofreram impacto no seu patrimônio já que esses papéis subiram forte, ou 386% (veja mais clicando aqui). Desta forma, somando as posições que os acionistas de PCAR3 passaram a ter a partir daquele pregão em ASAI3 e PCAR3, o saldo foi positivo, com um ganho de mais de 14%.

Para ilustrar essa situação de agora, a XP faz um cálculo assumindo que a AMER3 passe a negociar a 1,0 vez o múltiplo de EV/GMV 2021e (contra 0,8 vez atualmente), o que implicaria em um preço de R$ 66,5 por ação (que hoje é negociada como BTOW3 e é cotada em cerca de R$ 68).

Nesse mesmo cenário, olhando apenas para o valor nominal de LAME3 e LAME4, os analistas esperam uma queda de 51% na segunda, mas reforçam que esse recuo não irá refletir a realidade patrimonial dos investidores.

A XP também calculou o retorno hipotético para investidores de LAME e BTOW neste cenário, assumindo que o desconto implícito de holding atual (cerca de 20%) se mantenha e o desconto entre LAME3 e LAME4 deixe de existir, confira:

Fonte: XP

Os analistas da XP apontaram ainda que seguem otimistas com a perspectiva para Lojas Americanas e Americanas S.A. No relatório, eles destacaram terem recomendações de compra para AMER3 com um preço alvo de R$ 82 por ação e para Lojas Americanas (LAME3 e LAME4) com um preço-alvo de R$ 12 por ação.

Entenda a união de Lojas Americanas e B2W

A Lojas Americanas e a B2W anunciaram a união de suas operações em abril, sendo que união dos ativos físicos da primeira com os ativos digitais da segunda foi aprovada em junho.

A proposta já havia sido divulgada semanas antes pelos controladores das duas companhias, com os termos de troca e detalhes da operacionalização.

A ideia é que a B2W passe a ser uma plataforma de varejo completo, com físico e digital integrados, passando a se chamar Americanas S.A., enquanto a Lojas Americanas ainda existirá, mas sem mais incluir a participação que tinha até hoje de 62,5% na B2W.

Está em estudo ainda uma possível listagem nos Estados Unidos por meio de uma migração da base acionária da companhia, a ser chamada de Americanas Inc, mas ainda não existe nada concreto sobre isso.

Entre os objetivos da operação, as empresas destacam que a companhia combinada criará “um motor de fusões e aquisições ainda mais poderoso para avaliar, negociar e integrar novas aquisições”.

Juntas, as empresas possuem uma rede de cerca de 1.700 lojas físicas em 750 cidades do país e um marketplace online com mais de 87 mil vendedores e vendas totais de 40 bilhões de reais no ano passado.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.