Hapvida (HAPV3) cai quase 33% e perde R$ 10,5 bi de valor após resultado do 4º tri: reação do mercado foi exagerada?

Números apontam curto e médio prazo difícil em termos de crescimento e margens, avaliam analistas; para BBA, contudo, reação foi extrema

Equipe InfoMoney

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As ações da Hapvida (HAPV3) tiveram uma sessão de queda extrema nesta quarta-feira (1), após mais um trimestre considerado bastante turvo para a companhia. Após abrirem com queda de mais de 20%, as ações aceleraram as perdas, chegaram a ter queda de até 36,75%, a R$ 2,84, e fecharam com uma derrocada de 32,74%, a R$ 3,02. Com isso, o valor de mercado passou de R$ 32,07 bilhões para R$ 21,57 bilhões em apenas um pregão – ou seja uma perda de R$ 10,5 bilhões aproximadamente.

A XP destaca que a operadora de planos de saúde, que recentemente se uniu à NotreDame, reportou resultados negativos no 4T22, com lucro líquido ajustado de R$ 161 milhões. O índice de sinistralidade piorou mais de 8 pontos percentuais na base de comparação anual e provisões para perdas com inadimplência mais do que dobraram.

Rafael Barros, analista da casa, destaca como principais pontos do balanço: (i) a empresa continua entregando sinergias de receita vindas da fusão com o GNDI, com 61 mil adições líquidas; (ii) porém, o crescimento normalizado da carteira parece estar bem abaixo dos 0,8% por trimestre que estimamos anteriormente; (iii) a sinistralidade não caiu no trimestre, mesmo com os efeitos de sazonalidade e da Copa do Mundo de 2022; e (iv) mais uma vez o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) foi impactado por um item não recorrente de uma aquisição anterior.

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“No geral, vemos os resultados como muito negativos, especialmente porque eles apontam para um curto e médio prazo difícil em termos de crescimento e margens”, afirma Barros.

Após o resultado, o Credit Suisse cortou a recomendação para as ações de outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para neutro, com o preço-alvo sendo cortado de R$ 6,50 para R$ 4,40, uma vez que os números trouxeram algumas incertezas sobre pressões para a companhia.

“A evolução nos tíquetes também nos parece insuficiente para compensar o intervalo de dois anos em ajuste de preço com relação à inflação”, apontam.

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A empresa conseguiu mostrar algum avanço modesto em receita, com crescimento orgânico de 100 mil vidas e crescimento de tíquete nos planos de saúde. Mas, por outro lado, os planos corporativos e novos contratos aparentemente estão trazendo o preço médio para baixo.

Além disso, o nível de despesas financeiras também deve continuar a pressionar os lucros e, assim, não parece haver muito valor para ser “destravado” ao longo de 2023.

Para o Itaú BBA, os resultados do 4T22 da Hapvida mostraram tendências consideravelmente piores do que o esperado, principalmente para rentabilidade. O custo por beneficiário continuou a aumentar de forma sequencial, apesar da sazonalidade melhor do quarto trimestre; o crescimento do tíquete médio não foi suficiente para compensar essa tendência. A empresa não conseguiu entregar maior geração de caixa no trimestre, postergando uma maior desalavancagem financeira no curto prazo.

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Porém, em relatório no fim da tarde, quando as ações já estavam caindo mais de 30%, os analistas do BBA apontaram que o movimento de queda extremo observado na sessão foi exagerado. O banco ressaltou que muitos “stops” foram acionados entre os investidores, cuja paciência parece ter se esgotado após mais um trimestre decepcionante.

Embora os resultados mostrem algumas tendências preocupantes, esse baixo desempenho extremo parece muito difícil de justificar, afimam.

“Fazendo uma análise de sensibilidade em nosso modelo, mesmo assumindo um índice de sinistralidade de 70% para 2024 (o que parece pessimista, pois seria 300 pontos-base acima da média histórica), vemos a ação sendo negociada a 9 vezes o preço sobre o lucro esperado para 2024 ( ao preço atual de R$ 3 por ação). E quando estressamos os cenários e perpetuamos o o índice, fica difícil encontrar um valor justo inferior a R$ 4 por ação”, avaliam.

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Outras visões do mercado

A Genial Investimentos ressalta que, novamente, houve crescimento de receita, impulsionado por um bom crescimento no número de beneficiários no trimestre e uma aceleração do ticket médio.

Mesmo assim, mais uma vez houve piora no índice de sinistralidade no período, e o índice de despesas administrativas continua sendo ajudado pelo ajuste da aquisição da Promed, como no trimestre passado. A Genial segue com recomendação de manutenção para os ativos, mas cortou o preço-alvo de R$ 8,50 para R$ 5.

O Morgan Stanley afirmou que Hapvida apresentou resultados decepcionantes. A casa acredita que uma recuperação poderá ocorrer de forma gradual no próximo par de anos. Mas notou que a sinistralidade avançou 179 pontos-base na comparação com o mesmo período de 2021, após dois trimestres consecutivos de melhorias.

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A taxa de sinistralidade da Hapvida ficou em 72,9% no período, maior que o esperado pelo Morgan. O número foi impactado por uma maior volume nos atendimentos emergenciais, exames e hospitalizações. A consolidação de fusões e aquisições e o reajuste negativo de preços em planos individuais também impactaram o índice, assim como um aumento no preço do material médico e das taxas cobradas por médicos.

“A taxa de sinistralidade deve continuar sua tendência de normalização à medida que as sinergias de empresas menores adquiridas são absorvidas e os procedimentos eletivos retornam aos níveis pré–pandêmicos”, escreveram os analistas do Morgan.

Por outro lado, o Morgan destacou que a linha das receitas continuou positiva, com adições líquidas fortes e preços maiores. A média do ticket de saúde cresceu 7%, beneficiada por aumento de preços nos segmentos corporativo e individual.

A margem Ebitda, por sua vez, segue abaixo do potencial, de acordo com os analistas.

A casa tem recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para os papéis HAPV3, com preço-alvo de R$ 7,50. Para os analistas, mesmo em um mercado estagnado, há expectativa de crescimento “decente” da receita da companhia, principalmente pelo viés orgânico, com espaço para recuperação gradual da margem.

O Bradesco BBI chamou atenção para o lucro operacional abaixo do esperado e piora das despesas financeiras da companhia, 38% acima do que a empresa previa. O Ebitda ajustado da Hapvida no quarto trimestre, por sua vez, ficou 22% abaixo das projeções do BBI. Os analistas observam que o resultado foi em boa parte impactado pela pressão da sinistralidade, que ficou estável em termos trimestrais, mesmo em um período de sazonalidade mais favorável.

As pressões nos custos, por sua vez, estão relacionadas a uma maior frequência em exames e consultas e a inflação elevada (que se reflete nos salários pagos pela companhia).

Ainda que as adições líquidas tenham sido boas, na avaliação do BBI, ainda assim ficaram levemente abaixo das expectativas da casa – e, em boa parte, essas adições foram motivadas por sinergias. O BBI tem recomendação neutra para HAPV3 e preço-alvo de R$ 6.

Na visão de analistas do Citi, os números do quarto trimestre da Hapvida vieram piores do que se temia, incluindo a sinistralidade maior do que a esperada, bem como despesas financeiras “muito acima” do esperado.

“Não há muito o que comemorar… É verdade que as expectativas já eram baixas, mas os números ficaram abaixo de nossas estimativas abaixo do consenso, o que não é um bom presságio para a visibilidade daqui para frente e pode levar a outro ciclo de revisões para baixo (nas expectativas).”

Na teleconferência com analistas, executivos da Hapvida evitaram fazer projeções mais precisas sobre as margens e sobre despesas ao longo deste ano.

Jorge Koren de Lima, presidente-executivo, afirmou que a Hapvida aprovou no início de 2023 “centenas de ações” a serem tomadas para melhorar o resultado da companhia, que teve sua formação concluída há um ano pela combinação da Hapvida com a Notre Dame Intermédica.

Entre as ações, o executivo mencionou que a companhia vai procurar acelerar a verticalização em suas três regiões de negócios, que englobam as operações originais da empresa, as adquiridas da Intermédica e novas aquisições feitas mais recentemente nas regiões Sul e Sudeste do país.

Porém, as verticalizações, que tendem a tornar a empresa menos exposta aos preços praticados por serviços executados em redes credenciadas, vão surtir efeito sobre a recuperação de margem em prazos distintos, disse o presidente da Hapvida. Nas áreas originais da companhia, que têm nível de verticalização maior que o restante da empresa, a melhora nos resultados “vai caminhar mais rápido”, disse Lima.

(com Reuters)