Ação do Bradesco (BBDC4) é destaque negativo e BB (BBAS3) é maior alta em 12 meses entre “bancões”: tendência continuará?

Analistas traçam diferentes cenários para setor mas, no geral, ainda destacam BB entre preferidas (ao lado de Itaú), ainda que ponderando risco político

Lara Rizério

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As ações do Bradesco (BBDC4) têm se destacado negativamente entre os grandes bancos brasileiros no passado recente. O desempenho é explicado principalmente após lucros bem abaixo do esperado pelo mercado; cabe destacar que, após o resultado do terceiro trimestre de 2022, os ativos tiveram a sua maior queda diária em 24 anos.

Nos últimos doze meses até o fechamento da última sexta-feira (13), as ações preferenciais BBDC4, mais líquidas, acumulavam baixa de 14,58%, enquanto os ativos ordinários (BBDC3) tinham perdas de 10,43%.

Assim, os papéis do banco vão na contramão das ações de seus pares listados na B3, que registram desempenho positivo no período, conforme destacou levantamento do TradeMap.

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A ação do Banco do Brasil (BBAS3) tem o melhor desempenho em 12 meses, com alta de 34,65%, seguido por Itaú (ITUB4), com avanço de 13,58% para os ativos PN no mesmo período, e Santander Brasil (SANB11), com avanço de 1,6% para as units.

No acumulado de 2023 até o dia 13, todos os ativos registravam ganhos, com destaque para SANB11, com alta acumulada de 6%.

Cabe ressaltar que as últimas sessões têm sido de maior fraqueza para o setor, com os investidores também atentos ao impacto das inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões da Americanas (AMER3), mas com analistas do Credit Suisse vendo baixo risco de concentração. O Goldman Sachs, por sua vez, ressalta que, ainda que seja cedo para saber o impacto nos bancos, o caso potencialmente cria um obstáculo adicional, uma vez que as instituições podem ter que fazer provisões adicionais. Com base nas divulgações das companhias, aponta o banco, o BTG (BPAC11) tem a maior exposição ao setor de varejo com 6,7% dos empréstimos, seguido pelo Bradesco com 5,9%, Itaú com 3,1%, Santander Brasil com 2,7% e Banco do Brasil com 1,9% no 3T22.

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Com base em casos anteriores, analistas do JPMorgan estimam que os bancos devem começar a provisionar cerca de 30% da exposição à Americanas, o que pode eventualmente subir a depender do desfecho de eventual pedido de recuperação judicial.

“Embora tivéssemos provisões crescentes no próximo ano para a maioria dos bancos, nossos números ainda não refletem um caso corporativo tão significativo”, afirmaram Domingos Falavina e equipe em relatório a clientes com data de domingo, que não veem grande impacto no nível de capital dos bancos. “Não foi um bom começo para 2023, mas os bancos podem tentar antecipar as provisões já no quarto trimestre (de 2022) e começar 2023 com uma ficha limpa.”

Neste cenário, o que esperar para o 2023 das maiores instituições financeiras nacionais?

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O Goldman Sachs apontou, em relatório sobre os bancos da América Latina antes do caso Americanas, estar relativamente positivo com os bancos brasileiros,  apesar dos riscos macroeconômicos e de qualidade de ativos que estão no radar. Os analistas acreditam que a lucratividade pode permanecer saudável e o valuation parece atrativo.

A preferência segue com Banco do Brasil, por conta do alto Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês) e negociar abaixo do valor contábil), seguida por Itaú (mais defensivo) e Bradesco (mais riscos de curto prazo, mas estes aparecem precificados abaixo do valor contábil).

Os analistas acreditam que, além das tendências de qualidade de ativos, as discussões sobre políticas macroeconômicas dominarão o fluxo de notícias para os bancos brasileiros, assim como o debate sobre se as taxas de juros começarão a cair na segunda metade do ano (os economistas da Goldman Sachs ainda acreditam que sim).

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“No entanto, continuamos acreditando que os NPLs (índices de inadimplência) podem começar a se estabilizar no primeiro semestre do ano, já que as taxas de juros provavelmente atingiram o pico no 3T22”, avaliam.

Para 2023, os analistas veem o Bradesco mostrando a mais forte alta dos lucros (17% no comparativo anual, para R$ 27,2 bilhões), devido à sua base de comparação mais fraca – levando a um ROE moderado de 17%. Para o Itaú, a projeção é de que mantenha seu sólido ímpeto de ganhos com crescimento anual de 14% e ROE de 21%, enquanto o Banco do Brasil pode mostrar uma expansão de lucros de 6% e uma pequena contração em relação ao pico de ROE de 21% em 2022.

“Finalmente, esperamos que os lucros do Santander Brasil fiquem estáveis em 2023 dada uma normalização em sua taxa de imposto efetiva (30% em 2023 ante 20% em 2022)”, aponta o Goldman.

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Para o BB, a recomendação é de compra com preço-alvo mantido em R$ 48 para o ativo, pois acredita que a instituição financeira pode continuar com rentabilidade sólida e uma base de capital saudável, ao mesmo tempo em que negocia com um valuation profundamente descontado.

“Embora esperemos que o ROE caia ligeiramente de um pico de 10 anos de 20,8% em 2022 para 19,6% em 2023, isso ainda deve estar à frente da maioria dos pares privados em 2023”, aponta.

Além disso, acreditamos que a margem líquida de juros (NIM) pode ser resiliente com taxas ainda altas no Brasil, com possíveis benefícios de curto prazo na reavaliação de passivos se as taxas caírem no segundo semestre. “Também achamos que ela se beneficia de uma carteira de empréstimos mais defensiva, com baixa inadimplência tanto no agronegócio quanto nos empréstimos corporativos”, avaliam os analistas.

Contudo, o maior risco é o cenário um tanto incerto por se tratar de uma empresa estatal e estar no radar seu uso potencial como motor de crescimento/investimento em 2023. “No passado, a participação no mercado de crédito dos bancos estatais e os ROEs eram inversamente correlacionados. Ainda assim, achamos que esse risco está refletido no valuation atual”, aponta o Goldman.

Para o Itaú, a recomendação segue de compra, mas o preço-alvo foi reduzido de R$ 35 para R$ 30. “Continuamos construtivos em relação ao Itaú, dada a rentabilidade superior do banco, operações diversificadas e qualidade resiliente dos ativos. O Itaú tem consistentemente entregado ROEs acima de seus pares privados e públicos, o que esperamos que persista em 2023”, avaliam os analistas.

O Goldman aponta que o banco se beneficia de seu forte posicionamento de mercado em bancos de varejo e atacado no Brasil, mitigando desacelerações cíclicas. Além disso, o Itaú deve ter um impulso positivo na margem líquida de juros em 2023 devido ao crescimento e repactuação de sua carteira de empréstimos. Por fim, a qualidade dos ativos do Itaú se destacou positivamente em relação aos seus pares, principalmente devido à sua exposição a clientes de maior renda e exposição regional, avalia.

A recomendação para o Bradesco, que tem se destacado negativamente entre as ações de bancos, também é de compra, mas o preço-alvo foi reduzido de R$ 24 para R$ 19.

A qualidade dos ativos do Bradesco até agora se desconectou de seus pares privados, mas os analistas veem que isso já está refletido nos valores da ação. Além disso, o Goldman acredita que o banco continuará ajustando suas políticas de risco (limites, aprovações, cessões de crédito) para controlar a qualidade dos ativos.

“Notavelmente, os empréstimos de maior risco também são de natureza de prazo mais curto e tendem a girar mais rapidamente. Embora as expectativas de qualidade de ativos fiquem praticamente inalteradas, vemos o banco mais cauteloso na construção de reservas para perdas com empréstimos”, apontam.

Os analistas revisaram suas projeções de 2023 para baixo para incorporar uma previsão de provisão para perdas com empréstimos mais alta, dado o ciclo de crédito em andamento. No entanto, ainda esperam que o Bradesco apresente um ROE de 17% em 2023, o que implica uma expansão de 15% nos lucros.

Por fim, para o Santander Brasil, a recomendação é de venda, com os analistas mantendo o preço-alvo em R$ 26, com o  crescimento de lucro por ação mais fraco do que seus pares.

“Nossa postura cautelosa em relação ao Santander Brasil se baseia nas tendências relativamente mais fracas do banco em margem de mercado, custo de risco e renegociações. As margens do banco tendem a ser mais pressionadas por taxas persistentemente mais altas”, avalia.

Além disso, o Santander Brasil reportou níveis de empréstimos renegociados substancialmente mais altos do que seus pares privados. “Do lado da qualidade dos ativos, notamos que o Santander Brasil é o líder do setor em empréstimos para veículos, o que pode continuar pressionando os índices de inadimplência no curto prazo. Considerando tudo, vemos o crescimento do lucro por ação a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de apenas 1% entre 2021 e 2024, abaixo dos 12% de seus pares”, avalia.

Visões diversas para o setor

Cabe ressaltar que, no fim do ano passado, a XP revisou as suas estimativas para os grandes bancos brasileiros e destacou ver um ano desafiador, com base em um cenário macro pressionado pela combinação de altas taxas de juros, baixo crescimento econômico e comprometimento recorde de renda das pessoas físicas. Contudo, apontaram os analistas, os bancos já estão tomando medidas para evitar o aumento das taxas de inadimplência.

A principal escolha da casa é o Itaú. Mesmo atualmente negociando com um prêmio de valuation em comparação com seus pares, ele continua sendo negociado com desconto em relação à sua média histórica, afirma a XP, mantendo assim recomendação de compra e preço-alvo de R$ 34.

Os analistas da XP também mantêm visão favorável para a ação do BB e reiteraram recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 61, vendo as operações do banco bem preparadas para enfrentar o ano desafiador que se aproxima, com a menor taxa de inadimplência entre os bancos incumbentes e uma carteira de crédito mais defensiva. Porém, o risco político segue no radar.

Já a recomendação para o Bradesco é neutra, com preço-alvo de R$ 18 para 2023 para os ativos. Os analistas veem o impacto do aumento da inadimplência e o consequente aumento das provisões para créditos de liquidação duvidosa seguindo como um peso nos resultados do Bradesco em 2023 e começando a diminuir no segundo semestre.

O Santander, por sua vez, teve a recomendação elevada de venda para neutra. Para os analistas, a margem financeira (NII) de mercado deve seguir pressionada no quarto trimestre de 2022 (4T22) e em 2023 pelos juros, provavelmente diminuindo quando as taxas de juros começarem a cair gradualmente, mas a ação já precifica os riscos.

Assim como a XP, o Citi tem recomendação de compra para BBAS3 e ITUB4, enquanto tem visão neutra para BBDC4 e SANB11. Olhando para o novo ano, os analistas do banco esperam, apesar das diversas incertezas para o período, outro conjunto positivo de resultados para o Itaú e o Banco do Brasil. Os principais temas no radar do setor, apontam, seguem sendo possíveis mudanças na tributação e o comportamento dos bancos públicos.

O Itaú BBA também reforçou sua recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para o Banco do Brasil, com valor justo de R$ 48 em 2023.

“O ROE de 20% do BB não vem dos altos spreads de clientes, que são, hoje, os menores em uma década. O BB já pratica taxas competitivas no crédito. Em vez disso, seu poder de lucros vem da margem financeira de mercado , qualidade superior de crédito, financiamento e eficiência. Nossa análise de cenário aponta para um ROE de 15% a 20% no caso base nos próximos anos. Esperamos um crescimento de lucro por ação de dois dígitos em 2023, o melhor em nossa cobertura de grandes bancos”, aponta o BBA.

O BBA aponta que sua visão positiva para o BB se sustenta no momentum de lucros e na grande assimetria ascendente do valuation.

(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.