Ação da Vale (VALE3) passa por bateria de reclassificações com maior ânimo sobre minério de ferro

Estoques em baixa, demanda maior e estímulos na China são alguns dos fatores apontados por especialistas que sustentam as recomendações

Vitor Azevedo

Mineração da Vale em Minas Gerais (Mario Tama/Getty Images)

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A tonelada de minério de ferro fechou a US$ 133,99 na Bolsa de Dalian, na China, nesta terça-feira (28), número consideravelmente acima daquilo visto dois meses atrás – no dia 28 de setembro, a commodity era negociada a US$ 115,78 (ainda que tenha registrado queda nas últimas sessões por pressão da China). Com isso, as ações ordinárias da Vale (VALE3) acabam sendo diretamente beneficiadas.

Apenas em novembro, os papéis da mineradora sobem cerca de 10%, em um período marcado por diversas revisões de recomendações.

Por boa parte de 2023, analistas ficaram esperando uma demanda mais fraca do minério, citando, por exemplo, as sinalizações de que a China não iria estimular seu setor de construção civil. Uma das crenças, em parte criada pelas próprias autoridades chinesas, então, era de que o país asiático iria priorizar outros setores da sua economia, como o de consumo.

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No entanto, aparentemente, o país voltou atrás. Na última semana, por exemplo, a Bloomberg informou que os órgãos reguladores chineses estão elaborando uma lista de 50 incorporadoras imobiliárias elegíveis para uma série de financiamentos.

De olho nisso, o Goldman Sachs elevou sua recomendação para compra na terça passada e deu ainda cinco motivos justificando “estar construtivo com a Vale”.

“Acreditamos que a configuração atual que apoia a tese de investimento da Vale é única devido a uma combinação de fatores favoráveis que não existem desde pelo menos 2014”, avaliam os analistas do banco americano, chefiados por Marcio Farid.

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Mercado de minério equilibrado

Segundo eles, o mercado de minério de ferro está equilibrado, o que deve sustentar os preços de US$ 110 a tonelada para 2024, bem como as expectativas de estímulos da China ao seu setor imobiliário.

Fora isso, a mineradora brasileira traz um impulso operacional positivo (embora o ritmo ainda seja um pouco decepcionante), e há exposição relativamente baixa dos investidores, com a companhia tendo um valuation atrativo.

“A Vale é agora o nosso nome preferido entre as empresas de matéria-prima. Acreditamos que a história agora é muito atraente para ser ignorada e que os investidores aumentarão lentamente a exposição à medida que a confiança em torno do equilíbrio entre oferta e demanda de minério de ferro em 2024 aumentar”, apontaram.

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Apesar do recente desempenho positivo, o Goldman acredita que há espaço para mais. O banco estima que a Vale precifique atualmente um preço de minério de ferro de US$ 104 a tonelada para 2024 (com base em um rendimento de fluxo de caixa livre de 10%) contra US$ 135 a tonelada à vista e projeção do Goldman da commodity a US$ 110.

“Diferentemente de boa parte deste ano de 2023, quando o pessimismo dos investidores em relação ao crescimento da China e à produção de aço limitou o desempenho da Vale, acreditamos que o mercado será lentamente convencido de uma melhor configuração de oferta/demanda e, enquanto isso, os investidores colherão os benefícios da forte geração de fluxo de caixa livre e distribuição de dinheiro”, apontam os analistas.

O Bank of America, também na semana passada, foi no mesmo caminho ao elevar a Vale e outras empresas.

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“Nós elevamos Vale, Ternium, CSN e Usiminas para ‘compra’, juntamente com a postura mais otimista de nossa equipe global de commodities com 2024, especialmente em relação ao minério de ferro no curto prazo”, argumentaram.

Vale se beneficia de rali

Eles avaliam que o minério de ferro pode estender seu recente rali e atingir US$ 150 a tonelada no primeiro trimestre do próximo ano, uma vez que as usinas podem ser forçadas a entrar no mercado devido aos estoques baixos e persistentes.

“O reabastecimento, juntamente com a produção sazonalmente mais fraca de minério de ferro do Brasil e da Austrália, deve apoiar um primeiro trimestre mais apertado, e então veremos os preços caindo gradualmente para 100 dólares a tonelada no quarto trimestre de 2024”, afirmaram Ribeiro e equipe.

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Antes do Ano-novo chinês, que acontece no começo de fevereiro e que fecha o mercado por ao menos uma semana, é normal, historicamente, as metalúrgicas aumentarem seus estoques – hoje baixos.

“Isso aumenta nossa média de minério de ferro em 2024 para US$ 125 a tonelada e respalda nossas atualizações de Vale, CSN e Usiminas para ‘compra’”, reforçaram. Eles acrescentaram que preferem a mineradora frente à CSN Mineração, principalmente em razão de valuations.

Por último, foi a vez do Itaú BBA reforçar sua visão positiva para a Vale, também a mantendo como sua top pick para o setor.

O BBA elevou a estimativa de Ebitda para US$ 19,4 bilhões no ano que vem (10% acima da previsão anterior), principalmente devido a previsão de preço do minério de ferro mais alto, o que mais do que compensa os volumes mais baixos. A estimativa para a commodity foi revisada de US$ 95 para US$ 110 a tonelada para 2024 e de US$ 85 para US$ 100 para 2025.

A alta do minério deve mais do que compensar o recuo dos embarques, que devem ficar em 305 milhões de toneladas em 2024 (em comparação com 320 milhões do modelo anterior), principalmente devido a um aumento nas taxas de produção mais fraco do que o esperado.

Os analistas do banco brasileiro projetam um aumento de 2% ano a ano na produção global de aço, impulsionado por uma melhoria fora da China.

“Note que o estoque de minério de ferro nos portos está 28 milhões de toneladas abaixo do nível registrado no ano anterior, e há relatos de que os estoques de minério de ferro nas usinas chinesas estão atualmente abaixo dos níveis normais, com 18 dias de suprimento”, completam, em relatório.

Tentativa de controle não assusta

Nem mesmo a tentativa do governo chinês de controlar o preço da commodity assusta os analistas.

Apesar de órgãos regulatórios do gigante asiático, como a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, prometerem intensificar a supervisão sobre as negociações envolvendo o produto não manufaturado para evitar a especulação, a visão continua otimista.

“O minério de ferro tem um nível diferencial de trading do que as outras commodities. Nas últimas semanas, saiu a notícia de que eles estavam tentando limitar as negociações, colocando volume máximo, tarifas adicionais, entre outras medidas. Isso já aconteceu diversas vezes. É recorrente”, explica Guilherme Nipps, analista da XP para o setor.

O analista Leonardo Correa, do BTG Pactual, abre um relatório da última semana dizendo que “mais uma vez estamos falando das tentativas de controlar a especulação e de impactar negativamente os preços do minério de ferro”. Segundo ele, é normal estas manchetes serem inicialmente recebidas com preocupação, com investidores tendo como primeira reação vender seus contratos.

“Durante anos, temos observado as autoridades chinesas tentarem controlar a inflação dos preços das matérias-primas em todos os sentidos. Sendo assim, estas manchetes não devem ser uma surpresa para os investidores”, expõe. “No entanto, o que a história sugere é que estes eventos de volatilidade e maior pressão normalmente não duram”.

“Embora não possamos descartar a possibilidade de haver um componente especulativo na formação dos preços do minério de ferro, acreditamos que os fundamentos do minério de ferro irão melhorar a partir daqui”, fala a equipe de Correa, citando, principalmente, a produção de aço chinesa.

O Goldman tem recomendação de compra para os ADR’s (American Depositary Receipts, ou papéis negociados na Bolsa de Nova York) da Vale, com preço-alvo em US$ 19,50, potencial de alta de 30,9% frente ao fechamento de ontem, bem como o BBA, que tem alvo em US$ 19, com potencial de alta de 27,6%. O BofA tem a mesma recomendação para as ações negociadas na B3, com alvo em R$ 102, upside de 39,1%.