Carrefour (CRFB3) desaba 9,4% após balanço; analistas falam em horizonte “embaçado” na integração do BIG, mas executivos mantêm otimismo

Banco Carrefour e alavancagem alta também foram destaques negativos entre o período de janeiro e março

Vitor Azevedo

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O resultado do Carrefour Brasil (CRFB3) do primeiro trimestre de 2023 não foi bem recebido pelo mercado, uma vez que as ações do grupo fecharam em queda de 9,39%, a R$ 9,46, na sessão desta quarta-feira (3).  Analistas apontaram que os números foram, na maioria das frentes, aquém do consenso e que há pouca visibilidade até então quanto à integração do Grupo BIG – o que executivos, durante a teleconferência, tentaram minimizar.

“Vemos falhas operacionais enquanto a visibilidade permanece embaçada em meio aos desafios de integração da BIG”, diz a equipe de analistas do JPMorgan, chefiada por Joseph Giordano.

De acordo com o banco americano, os resultados foram “fracos e ruidosos”. Além da integração, com desempenho operacional frustrante, eles também mencionam que o resultado do banco Carrefour e o resultado financeiro trouxeram impactos negativos.

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“A baixa visibilidade da integração do Grupo BIG, somada a resultados mais uma vez fracos no banco e visibilidade limitada de resultados para as unidades devem provocar uma reação negativa das ações”, destacaram em relatório antes da abertura do mercado. “Vale destacar que o Carrefour atingiu níveis de alavancagem de 3,1 vezes na comparação Dívida Líquida e Ebitda [Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês] em um trimestre sazonalmente mais fraco”.

O Carrefour, no balanço divulgado ontem, trouxe um prejuízo líquido de R$ 375 milhões, uma receita líquida de R$ 24,3 bilhões e um Ebitda de R$ 1,03 bilhão. A dívida líquida, por conta da aquisição, saltou de R$ 9,4 bilhões em março do ano passado para R$ 20,2 bilhões.

A receita veio 1% abaixo do consenso do JP, mas com alta de 29,4% no ano. A aquisição do BIG, fechada no meio do ano passado, continua impulsionando o resultado nesta frente. No primeiro trimestre, foram 23 lojas convertidas, sendo que outras 42 estão em processo de conversão e outras 59 já tendo sido convertidas no ano passado, totalizando 124 unidades.

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A grande questão é que, por enquanto, o prometido ramp up das conversões ainda não veio. A margem Ebitda, por exemplo, saiu de 4,4% entre janeiro e março do ano passado para 2,1% neste ano.

“Nossa opinião é que o Carrefour Brasil apresentou resultados decepcionantes devido ao doloroso e demorado processo de integração com o Grupo BIG”, diz o time do Bradesco BBI, liderado por Felipe Cassimiro. “Além dos resultados do Atacadão, que ficaram amplamente em linha com nossas expectativas, todas as demais divisões apresentaram surpresas negativas”.

No Banco Carrefour, o BBI chama a atenção para o fato de que os encargos de risco, empréstimos bancários não pagos (inadimplência, ou NPL, na sigla em inglês) e despesas gerais e administrativas impactaram o resultado, enquanto a receita foi mais fraca, com receita em R$ 1,1 bilhão, carga de risco em R$ 740 milhões e despesas gerais em R$ 340 milhões.

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“A inadimplência do primeiro trimestre (fator sazonal) e o esforço de aquisição de clientes BIG trouxe um forte impacto negativo para o lucro operacional no período, ainda mais do que o estimado. O Banco Carrefour consolidou um Ebitda ajustado de R$ 44 milhões, queda de 73,2% no ano e 51,3% abaixo do nosso consenso”, diz a Genial Investimentos.

O Itaú BBA, por fim, também afirma ver que o Banco foi o destaque negativo do trimestre e que, por enquanto, não consegue avaliar os desafios em curso na integração do BIG – apesar de ver a aquisição como positiva no longo prazo.

Os executivos da companhia tentaram amenizar as questões levantadas durante teleconferência com analistas e investidores.

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Quanto à aquisição do BIG, por exemplo, eles mantiveram a expectativa de encontrar R$ 2 bilhões em sinergias até 2025. Na parte do ramp up, eles assumiram que estão encontrando alguma resistência na conversão de lojas quando há mudança formato.

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“A maior parte das sinergias com que estamos trabalhando para a integração do BIG vem da mudança de formato de hipermercado para atacarejo, que está melhor do que o esperado. Outras conversões, de mesmo formato, vemos um início um pouco menor”, disse Stéphane Maquaire, diretor executivo (CEO) do Carrefour Brasil. “Quando falamos em conversões de mesmo formato, temos três tipos de conversões: atacarejo para atacarejo, varejo para varejo e varejo para atacarejo. Nesse último tipo, de hipermercado para Atacadão, vemos uma melhora forte das vendas”, explicou.

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Quanto ao Banco Carrefour, há peso também da conversão e da transferência dos clientes do serviço financeiro do BIG.

“É natural, no cartão, que o primeiro trimestre seja pior, pela sazonalidade”, disse Eric Alencar, novo diretor financeiro (CFO). “Mesmo com a abordagem conservadora, crescemos dos dígitos e a inadimplência ficou estável. Temos vários clientes novos entrando no cartão, com a aquisição do BIG. Fomos obrigados a fazer provisões para eles e eles devem, em breve, começar a dar resultado”.

Quanto à alavancagem, por fim, os diretores defenderam que o Carrefour segue procurando um parceiro para o seu segmento de real state, que deve injetar capital na empresa. Por fim, a companhia, com o fim das conversões, deve gastar menos e gerar mais caixa.