A longo prazo Japão deve ter sólido crescimento, aponta Société Générale

Apesar dos efeitos do terremoto, demanda deve se fortalecer pela necessidade de reconstrução, com destaque para construtoras

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SÃO PAULO – Apesar das perdas evidentes no curto prazo, a expectativa em um cenário mais amplo é de recuperação para a economia japonesa, permitindo um bom ritmo de crescimento para 2011. Essas são as primeiras impressões da Société Générale após o desastre que abalou o Japão nesta sexta-feira (11). 

Um forte terremoto de magnitude 8,9 na escala Richter, segundo a USGS (United States Geological Survey), atingiu a costa nordeste do país e já deixou centenas de mortos. Os efeitos foram ainda mais destrutivos, pois os abalos geraram também um tsunami que alcançou áreas da cidade japonesa de Sendai.

Embora seja uma tarefa bastante difícil estimar os impactos econômicos de um terremoto, o analista Takuji Okubo afirma que no médio prazo eles serão positivos. A avaliação deriva da maior demanda por reconstrução, favorecendo as imobiliárias em detrimento de empresas que trabalham com produtos ligados a consumo durável. De fato, o mês de março deve apresentar consideráveis perdas na produção, mas essa tendência deve se reverter nos meses subsequentes, segundo o Société Générale. 

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Comparação e efeitos
Para Okubo, os danos humanos e econômicos devem ser menos dramáticos do que aqueles apesentados em 1995, quando um terremoto na parte oeste do Japão acabou com a vida de 6 mil pessoas, com um prejuízo de 10 trilhões de ienes, ou 2% do PIB (Produto Interno Bruto) do país.

A produção industrial japonesa recuou 2,6% em janeiro daquele ano – mês da tragédia – mas nos meses seguintes a recuperação era nítida. Em fevereiro, a produção na indústria cresceu 2,2% e avançou mais 1,0% em março. O analista explica que, ironicamente, terremotos resultam em uma atividade econômica muito forte, em decorrência da necessidade de reconstrução das áreas afetadas.

Um exemplo disso é o crescimento econômico japonês após o terremoto. Em 1995, o crescimento foi de 1,9%, seguido por 2,6% em 1996. O consumo privado subiu 2,2% entre 1995 e 1996; e o consumo do governo também avançou 1,1% entre o mesmo período. Os investimentos fixos públicos acompanharam a trajetória e subiram 3,2% no período.

Mercado financeiro
Porém, as expectativas para o mercado financeiro são menos otimistas. O analista acredita que o mercado acionário do país será negativamente impactado, tomando como exemplo o ano de 1995. Na ocasião, o índice Topix registrou fortes perdas de 8% na semana após o terremoto.

O impacto para as bonds também é incerto e difícil de ser previsto, mas é muito provável que haja também uma contração, devido à postura monetária que é geralmente tomada nessas circunstãncias. Além disso, em virtude da correlação negativa com o risco, o iene deve apresentar apreciação, segundo o analista do Société Générale. 

Implicações
Com esse cenário à vista, o governo estará sem grandes opções e, provavelmente, adotará medidas expansionistas no campo fiscal, para estimular o crescimento do país. Porém, o analista levanta um ponto de preocupação. A situação japonesa está longe do que se pode chamar de “confortável” e os déficits são realmente pomposos, sendo assim, a capacidade de atuação nesse sentido é mais limitada e o governo japonês deve apresentar um plano fiscal mais comedido.

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Além disso, o BoJ (Bank of Japan) deve anunciar medidas de reforço de liquidez, contendo parte da preocupação do mercado em relação à liquidez do sistema, na análise de Okubo. Ainda assim, o analista do banco afirma que esta cautela deve ser temporária, em função de um quadro mais permanente para a flexibilização monetária.