Investir em ouro é uma das formas mais tradicionais de proteger o patrimônio. Mesmo assim, o tema surge frequentemente associado a novidades, devido à variedade de produtos financeiros disponíveis que representam o metal.
A popularidade do ouro não vem apenas do simbolismo de riqueza: trata-se de um ativo que ainda atravessa séculos mantendo valor, mesmo entre crises econômicas, conflitos geopolíticos e oscilações cambiais. Normalmente, quem investe no metal costuma estar de olho na diversificação e na preservação do poder de compra, pois ele tende a equilibrar a carteira quando outros ativos enfrentam condições adversas.
Mas é importante lembrar que o ouro está longe de ser infalível: seu preço costuma oscilar, a liquidez nem sempre é boa e a rentabilidade depende do momento do mercado. Por isso, antes de incluí-lo na carteira, vale entender tudo o que envolve no investimento: como fazer, quanto rende, o que mexe com os preços, vantagens, riscos e quando faz sentido ou não para a carteira. Para saber mais sobre esses e outros aspectos, continue a leitura deste guia.
O que é o investimento em ouro?
Basicamente, investir em ouro é aplicar recursos em algum ativo que tem valor ligado à cotação internacional do metal e não a taxas de juros ou desempenho de uma empresa, como acontece na renda fixa e nas ações, por exemplo.
Em tempos de instabilidade econômica, inflação em alta ou queda de confiança nas moedas, o investimento em ouro ganha destaque, pois costuma ser visto como reserva de valor. Além disso, muitas pessoas veem o ativo como mais uma forma de diversificar a carteira.
Como funciona o investimento em ouro?
O investimento parte da cotação internacional do metal, expressa em onça-troy, que corresponde a 31,1 gramas e tem o seu preço em dólar.
Além dessa referência, o preço do ouro em cada país também depende das oscilações do câmbio. Ou seja, mesmo que o metal mantenha o mesmo valor em dólar, é possível que ele se valorize ou caia de acordo com o comportamento da moeda local frente à norte-americana.
Outro aspecto importante é que o ouro costuma se movimentar de forma oposta aos juros e à tolerância ao risco. Em tempos de juros baixos ou de turbulências no mercado, a procura pelo metal tende a aumentar, elevando o seu preço.
Por que comprar ouro?
Na verdade, o ponto central não é comprar e, sim, investir em ouro, pois existem formas mais práticas de ter acesso ao metal do que as barras físicas.
Dito isso, vale entender os principais motivos pelos quais o metal continua atraindo investidores em todo o mundo: proteção do patrimônio, relação com o dólar e baixa correlação com outros ativos.
Proteção do patrimônio em tempos de incerteza
Um dos principais atrativos do ouro é a sua função como reserva de valor. Em períodos mais instáveis da economia, quando os preços aceleram ou há desconfiança quanto às moedas locais, o metal costuma ganhar valor por ser visto como um ativo de segurança.
Essa característica atravessa gerações, pois ele não está sujeito a políticas monetárias, à solidez das instituições financeiras e a outros fatores externos. Isso reforça sua autonomia e o papel de proteção em tempos turbulentos.
Quando o custo de vida sobe e a moeda perde poder de compra, o ouro tende a conservar o seu valor real. O mesmo acontece quando a percepção de risco do mercado aumenta e os investidores migram para ativos mais estáveis, impulsionando o preço do metal pelo aumento da sua procura. É por isso que investir em ouro ajuda a atenuar os efeitos de oscilações fortes no cenário econômico e a preservar o patrimônio mesmo em condições adversas.
Relação com o dólar e proteção cambial
Outro motivo para ter ouro na carteira é a forte relação com o dólar americano, já que essa é a moeda de sua cotação internacional.
Esse vínculo faz do ouro uma ferramenta natural de proteção cambial: quando o dólar sobe frente ao real, o preço do ativo tende a acompanhar o movimento, mesmo que a cotação internacional se mantenha estável.
Na prática, é como se o ativo funcionasse como uma espécie de seguro para o investidor brasileiro contra fatores que afetam o câmbio, como crises externas, incertezas fiscais ou mudanças políticas. Em um cenário de juros em queda ou de perda de confiança no dólar, o metal também se valoriza, atraindo capital de bancos centrais e investidores institucionais.
Por todas essas razões, o investimento em ouro permite mitigar o risco cambial e reduzir a dependência de ativos diretamente atrelados ao contexto doméstico. Isso é especialmente importante em países emergentes, que sofrem com mais intensidade as oscilações do câmbio.
Descorrelação com outros ativos
O terceiro ponto que explica a atratividade do metal é a sua baixa correlação com investimentos tradicionais.
Em outras palavras, quando os juros e as bolsas sobem ou caem, o ouro não reflete diretamente essas oscilações, pois responde a estímulos diferentes. No caso das ações, a valorização está diretamente ligada aos resultados das empresas, e do ouro, à aversão ao risco. Essa característica faz dele um instrumento eficiente de diversificação, capaz de equilibrar a carteira e suavizar perdas em momentos de volatilidade.
Como investir em ouro
Existem diferentes maneiras de investir em ouro, e cada uma delas atende a perfis e objetivos distintos. O importante é entender o funcionamento, risco e tipo de exposição que cada formato oferece, como veremos a seguir.
Ouro físico
O ouro em barras ou moedas com pureza certificada são a forma mais tradicional de investir no ativo. No Brasil, a negociação do ativo físico é feita por meio de instituições autorizadas pelo Banco Central e com a fiscalização da CVM – Comissão de Valores Mobiliários.
Em períodos mais instáveis e de mais desconfiança nos mercados, alguns investidores preferem ter a posse direta do metal. Porém, esse tipo de investimento em ouro traz algumas desvantagens, como custos de custódia, risco de roubo e liquidez limitada, já que a revenda depende das condições do mercado.
Fundos de investimento em ouro
Esse tipo de fundo investe em ativos que acompanham o preço internacional do ouro. Alguns investem quase totalmente no ativo, e outros o utilizam como parte de uma estratégia de diversificação.
A principal vantagem dessa forma de investir em ouro é a facilidade e segurança, pois não é preciso se preocupar com o bem físico. Mas como em qualquer tipo de fundo de investimento, vale sempre conhecer a expertise da gestão e os custos, como taxas de administração e de performance (em alguns casos) que reduzem parte do retorno líquido.
ETFs de ouro
Cada vez mais populares, os ETFs (Exchange Traded Funds) também são uma forma acessível de investir no metal. Eles replicam o desempenho do ouro no mercado internacional, e suas cotas são negociadas diretamente na bolsa, assim como ações e outros ativos de renda variável.
Alguns exemplos de ETFs de ouro disponíveis na B3 são o GOLD11, o GLDX11 e o AURO11, cada um com sua estratégia, mas todos voltados ao desempenho do metal.
BDRs de ouro
Outra forma de ter ouro na carteira é por meio dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts) de empresas e fundos estrangeiros ligados ao metal, também disponíveis na bolsa.
Os BDRs também são uma alternativa de diversificação internacional, pois oferecem exposição indireta ao dólar sem precisar de uma conta lá fora. Além disso, podem acompanhar o desempenho de ETFs de ouro muito líquidos no exterior, como o SPDR Gold Shares (GDL), um dos maiores do mundo.
Contratos futuros de ouro
Os contratos futuros são uma alternativa de acesso ao ouro ideal para investidores mais experientes.
Eles permitem apostar na alta ou na queda do ativo, e também servem para proteger outros investimentos da carteira em momentos de incerteza. Mas, como envolvem alavancagem e margem de garantia, exigem acompanhamento constante do mercado e boa tolerância ao risco.
Existe uma melhor forma de investir em ouro?
Não há uma única resposta para essa pergunta, pois tudo vai depender do perfil, objetivos financeiros e horizonte de tempo de cada um.
Quem busca diversificação e praticidade, tende a preferir fundos e ETFs de ouro, que permitem começar com valores menores e sem preocupação com a custódia física. Já se a ideia é investir diretamente em alguma empresa do setor, os BDRs cumprem esse papel de forma simples e acessível.
Já o ouro físico pode fazer sentido quando se deseja a posse do ativo, seja por preferência pessoal ou por enxergá-lo como um refúgio em crises mais severas. Nesse caso, é preciso considerar a necessidade de segurança e avaliar os custos de armazenagem, para decidir se vale a pena o investimento.
Independentemente da escolha, o importante é entender que o ouro deve ser um complemento na carteira, e não a base da estratégia principal. Segundo especialistas, ele funciona melhor como um elemento de proteção e equilíbrio, especialmente em tempos de economia mais instável.
O que impacta o preço do ouro?
O preço do ouro é resultado de uma combinação de fatores econômicos, geopolíticos e cambiais.
Um dos fatores mais importantes são os juros reais, ou seja, a taxa de juros descontada da inflação. Como o metal não gera rendimentos regulares, o custo de oportunidade de mantê-lo na carteira aumenta quando os juros estão em alta. O contrário ocorre em tempos de juros baixos, quando a demanda tende a aumentar, elevando o seu preço.
Outro fator decisivo é o dólar: como o ouro é cotado na moeda norte-americana, o câmbio em alta encarece o ativo para os investidores. Já a desvalorização do dólar ou períodos de instabilidade nos EUA tendem a favorecê-lo, elevando a sua cotação.
Além disso, crises políticas, conflitos internacionais e incertezas financeiras aumentam a busca por ativos de proteção no mercado, impulsionando os preços. A demanda de bancos centrais e fundos globais também mexe com a cotação do ouro, pois grandes compras costumam alterar o equilíbrio entre oferta e procura.
Quanto rende um investimento em ouro?
O rendimento de um investimento em ouro não vem de dividendos ou pagamentos periódicos de juros, pois depende exclusivamente da variação do preço do metal ao longo do tempo.
De acordo com o cenário econômico global, o metal oscila e reflete aspectos como inflação, câmbio e o apetite dos mercados por risco. Para se ter uma ideia, o desempenho do ouro nos últimos dez anos chegou a superar muitos índices de ações em determinados ciclos, e ficou bem abaixo em outros, como podemos ver a seguir:

O gráfico acima mostra como o metal reagiu a períodos que marcaram o cenário econômico mundial:
- 2015: o Federal Reserve começou a subir os juros, que estavam perto de zero para impulsionar a economia no pós-crise de 2008. O dólar acompanhou esse movimento, e o ouro foi perdendo a atratividade como seguro da carteira.
- 2016-2019: incertezas políticas e tensões comerciais voltam a impulsionar o preço do metal. Brexit, guerra comercial entre Estados Unidos e China e oscilações de juros sustentaram o interesse pelo ouro como proteção contra a instabilidade do cenário econômico.
- 2020-2021: juros baixos durante a pandemia, pacotes de estímulos em diversos países e busca global por segurança levaram o ouro a um novo ciclo de alta, com máximas históricas.
- 2022-2023: com a retomada econômica, o Fed volta a aumentar os juros, o dólar se fortalece e os rendimentos mais altos de ativos tradicionais limitam a valorização do ouro e estabilizam seu preço.
- 2024-2025: nova alta, sustentada pela queda dos juros reais e aumento das compras por bancos centrais. Tensões geopolíticas, desdolarização de reservas e preocupação com déficits fiscais nos EUA provocaram nova corrida ao ouro, que bateu novo recorde em outubro de 2025, com a onça-troy acima de US$ 4.300.
Perceba que os movimentos dos últimos dez anos reforçam a característica contracíclica e de proteção do ouro. Em momentos de instabilidade, ele tende a se destacar, mas vai perdendo força à medida que os mercados retomam a confiança e a rentabilidade de outros ativos aumenta.
Tributação dos investimentos em ouro
A tributação do ouro pode ocorrer de três formas, de acordo com o tipo de investimento: fundos de ouro, ativos negociados na bolsa e ouro físico.
Fundos de investimento em ouro
No caso dos fundos de investimento em ouro, o Imposto de Renda segue a tabela regressiva da renda fixa.
Nessa sistemática, as alíquotas vão de 22,5% a 15%, conforme o prazo da aplicação. Aqui, o IR é retido na fonte no momento do resgate.
Ativos negociados na bolsa
Para os ETFs, BDRs e contratos futuros, vale a regra do ganho de capital, ou seja, o IR incide sobre a diferença entre os valores de compra e de venda. Nesse caso, não existe valor mínimo de isenção, como acontece com ações e outros ativos de renda variável.
A alíquota do IR é de 15% para operações normais e de 20% para day trade (compra e venda do mesmo dia). Também há uma retenção simbólica na fonte, de 0,005% ou 1% se day trade, somente para alertar a Receita Federal sobre a ocorrência da operação – o chamado “dedo-duro”.
Quando os ativos lastreados em ouro pagam dividendos, a tributação dos proventos segue a regra geral, como observa Maristela de Souza Miglioli, do Ciari Moreira Advogados:
“Se a fonte for brasileira, a alíquota do IR seguirá a tabela progressiva vigente à época do pagamento, que se dará via carnê-leão. No caso de fontes estrangeiras (como BDRs de mineradoras lá fora), além da tributação interna haverá retenção no país de origem. Nos EUA, por exemplo, essa retenção é de 30%”, diz a advogada.
Ouro físico
Quando o ouro físico funciona como investimento ou instrumento cambial, ele adquire a natureza de ativo financeiro. Nesse contexto, explica Maristela Miglioli, incidirá IOF de 1% sobre o valor da operação, e quem paga é o primeiro comprador.
“O IOF incide uma única vez, na compra inicial do ouro, que geralmente é feita por instituições financeiras. Nas comercializações que essas instituições fazem no futuro não há incidência do imposto”, reforça.
No caso de venda do ouro físico, o ganho de capital será tributado em 15%, com isenção para vendas de até R$ 35 mil por mês.
Vantagens e riscos de investir em ouro
A principal vantagem do ouro é o seu papel de proteção patrimonial, pois tende a preservar valor quando outros investimentos sofrem em momentos de incerteza. Além disso, o metal tem baixa correlação com ativos tradicionais, o que ajuda a diversificar e reduzir o risco total da carteira.
Outro ponto positivo é a proteção cambial, pois o seu preço costuma subir quando o real se desvaloriza, em função de ser cotado em dólar.
Por outro lado, ele não gera rendimentos e pode enfrentar longos períodos de estabilidade ou desvalorização, além de volatilidade em tempos de mudança de juros. E quem tem o ativo físico, precisa arcar com custos de custódia e segurança ao longo do tempo.
Resumo dos principais pontos sobre investir em ouro
| Investimento em ouro | O que saber |
|---|---|
| 💰 O que é | Aplicação em um ativo real cujo valor depende exclusivamente da cotação internacional. |
| ⚙️ Como funciona | O preço definido em onça-troy com a cotação em dólar. |
| 🪙 Por que investir | Atua como reserva de valor e proteção patrimonial em períodos de inflação, crises e incertezas. |
| 💵 Relação com o dólar | Sobe quando o dólar se valoriza frente ao real, servindo como proteção cambial. |
| 📉 Correlação com outros ativos | Tem baixa correlação com ações e renda fixa, o que ajuda diversificar e reduzir riscos da carteira. |
| 🧭 Formas | Ouro físico (barras e moedas), fundos de ouro, ETFs, BDRs e contratos futuros negociados na B3. |
| 🧾 Tributação | Varia conforme o tipo: fundos seguem IR regressivo (22,5% a 15%); ETFs, BDRs e futuros pagam 15% sobre o lucro; ouro físico tem IR de 15% sobre ganho de capital, com isenção até R$ 35 mil/mês. |
| ⚖️ Vantagens | Proteção em tempos de crise, diversificação e defesa cambial. |
⚠️ Riscos e cuidados | Não gera renda, pode ficar estável por longos períodos e envolve custos de custódia e segurança no caso do ouro físico. |
| 📊 Quando faz sentido | Como complemento de carteira, não como investimento principal — ideal para preservar poder de compra e equilibrar o portfólio. |