Até pouco tempo atrás, falar em inteligência artificial (IA) parecia coisa de ficção científica ou algo muito distante, restrito a laboratórios e a grandes empresas de tecnologia.

Hoje, ela está tão presente em nossas vidas que nem a percebemos nas rotinas mais simples. No streaming que sugere filmes, no ajuste da foto, no reconhecimento facial do prédio, no aplicativo que organiza os gastos – tudo isso tem a mão da IA, mesmo que em segundo plano.

Ainda assim, muitas pessoas acreditam que o tema continua sendo inacessível ou técnico demais. Pensando nisso, o InfoMoney elaborou este guia que mostra justamente o contrário: explicamos de forma clara o que é inteligência artificial, quais suas principais classificações, como ela funciona na prática e como podemos utilizá-la para facilitar a vida e com segurança.

Ao longo da leitura, você também encontrará exemplos de IAs gratuitas, vantagens, limitações e um check list básico para começar a utilizar a tecnologia sem complicações. Confira a seguir!

O que é uma inteligência artificial?

De forma simples, inteligência artificial é a capacidade que uma máquina ou programas têm de simular e realizar tarefas que exigiriam inteligência humana. Isso inclui compreender linguagens, reconhecer imagens e padrões, analisar dados para tomar decisões e aprender com as experiências ao longo do tempo.

Um dos exemplos mais comuns de IA é o assistente de voz do celular. Se você pergunta “qual a previsão do tempo para hoje?”, ele escuta o áudio, interpreta a intenção e acessa dados meteorológicos para formular uma resposta em poucos segundos. Esse processo de entender e agir de acordo com o contexto é o que caracteriza a inteligência artificial.

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Em relação a softwares tradicionais, o seu grande diferencial é o aprendizado contínuo. Ao contrário de programas comuns, que seguem regras fixas, a IA vai ajustando suas respostas à medida que interage com os usuários e recebe novos dados. 

Todas essas informações criam e aperfeiçoam o seu repertório ao longo do tempo.

Quais são os tipos de inteligência artificial?

Para facilitar o entendimento, especialistas costumam organizar o tema em duas macrocategorias: por recursos e por funcionalidades.

A classificação por recursos (ou capacidade) mostra o quanto a IA pode evoluir e se aproximar das habilidades humanas. Já as funcionalidades (ou modo de atuação) se referem à forma como a tecnologia interage com o mundo real.

E ainda existem subdivisões dentro dessas duas macrocategorias, como veremos a seguir.

Classificação por recursos (nível de capacidade)

Do ponto de vista dos recursos, especialistas entendem a força e a sofisticação da tecnologia a partir de três classificações. 

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IA estreita ou fraca (ANI – Artificial Narrow Intelligence)

É a forma de IA que efetivamente existe hoje em dia. Projetada para resolver tarefas específicas, ela desempenha muito bem o seu papel, mas não tem condições de ir além do seu foco. 

Por exemplo, o ChatGPT escreve textos, responde perguntas, mas não consegue interpretar um exame médico ou operar uma máquina. A popular Alexa toca músicas e entende comandos de voz, mas não faz cálculos matemáticos avançados.

São inteligências especializadas, que auxiliam diversos setores no dia a dia.

IA geral (AGI – Artificial General Intelligence)

Por enquanto, a IA geral ainda é a meta de muitos cientistas e empresas de tecnologia. Teoricamente, essa tecnologia seria capaz de migrar de uma área do conhecimento a outra com a mesma flexibilidade humana, acumulando novas habilidades e evoluindo naturalmente, sem precisar de revisões periódicas.

IA superinteligente (ASI – Artificial Superintelligence)

Representaria uma etapa em que a capacidade das máquinas seria muito superior à humana em praticamente todas as áreas – da matemática complexa à inovação criativa.

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Enquanto a IA geral busca se aproximar das nossas habilidades, a superinteligência iria além, alcançando níveis de complexidade e velocidade de raciocínio impossíveis para a humanidade. Embora não exista na prática, é importante conhecer esse conceito, pois ele é referência hoje quando se fala em limites máximos que a IA poderia alcançar no futuro.

Comparativo dos tipos de IA por recursos / capacidade:

SubtipoCaracterísticasExemplos
IA Estreita (ANI)Especializada em uma única tarefa, mas incapaz de extrapolar para outras áreas.ChatGPT (conversas e textos), Alexa (comandos de voz), recomendações de streamings.
IA Geral (AGI)Conseguiria aprender e executar qualquer atividade intelectual humana, migrando entre áreas diferentes. Conceito e pesquisa em desenvolvimento, ainda não existe.
IA Superinteligente (ASI)Superaria a inteligência humana em todos os aspectos.Cenário teórico mais avançado da IA, presente em discussões científicas.

Classificação por funcionalidades (modo de atuação)

Agora, falaremos sobre os quatro tipos de IA aplicados concretamente no dia a dia.

Máquinas reativas

Esse tipo de IA é o mais básico, pois não possui memória ou aprendizado e só responde ao momento presente.

Um exemplo clássico é o Deep Blue, da IBM, que se tornou o primeiro computador a vencer um campeão mundial de xadrez, quando derrotou Garry Kasparov em 1997 tomando decisões com base nas jogadas disponíveis. Outro caso é o Google DeepMind AlphaGo, que venceu em quatro partidas o grande jogador Lee Se-Dol, em 2017, usando cálculos de probabilidade.

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Exemplos mais aplicados à rotina: sistemas básicos de recomendação, que sugerem um produto a partir de uma única busca, e os populares robôs de limpeza, que mudam de direção quando tropeçam em um tapete ou móvel – mas não criam um mapa (memória) do ambiente.

Memória limitada

Essas IAs já conseguem usar experiências passadas para melhorar as decisões do presente, embora essa memória seja limitada.

É o caso dos carros autônomos, que analisam o tráfego em tempo real junto com registros recentes para prever movimentos de outros veículos. Outro exemplo é o assistente de digitação do celular, que sugere a próxima palavra considerando o que você acabou de escrever.

Nesse tipo de IA, também entram os chatbots de atendimento, que procuram melhorar as respostas a partir de interações anteriores dentro da mesma conversa, e os sistemas de classificação de crédito, que determinam a probabilidade de inadimplência a partir do histórico do cliente.

Teoria da mente (ToM)

Aqui, entramos novamente no campo experimental da IA. A ideia é desenvolver uma tecnologia capaz de entender emoções, intenções e contextos sociais, e prever comportamentos a partir disso.

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Exemplos: reformular uma explicação ao perceber que o usuário ficou confuso; ou antecipar que o motorista à frente do seu carro pode pisar no freio. Essas simulações já existem, porém em contextos muito específicos e limitados.

Autoconsciência

Por fim, a autoconsciência é o estágio mais hipotético da IA em termos de funcionalidades.

Essa tecnologia seria um avanço em relação ao ToM: em vez de focar no outro, perceberia seus próprios estados e decidiria a partir de si mesma. Em termos práticos, a IA corrigiria seus erros ao notá-los, explicaria por que deu determinada resposta e manteria certa identidade ao longo do tempo.

Comparativo dos tipos de IA por funcionalidades / atuação:

SubtipoCaracterísticasExemplos
Máquinas reativasNão aprendem com experiências, apenas reagem ao estímulo presente.
Deep Blue (xadrez), AlphaGo (Go), sistemas básicos de recomendação, robôs de limpeza.
Memória limitadaAprendem com dados recentes, mas possuem memória restrita.Carros autônomos, teclado preditivo do celular, chatbots de atendimento, sistemas de avaliação de crédito.
Teoria da mente (ToM)Conceito em desenvolvimento: IA capaz de entender emoções e intenções humanas.Protótipos de robôs e assistentes que simulam empatia em testes laboratoriais.
AutoconsciênciaEstágio hipotético em que a IA teria consciência própria e percepção de si mesma.Ainda não existe, discutida no campo teórico.

Como utilizar a inteligência artificial?

Ao contrário do que muita gente pensa, não é preciso ser especialista para conseguir aproveitar os benefícios da IA. Inclusive, algumas ferramentas gratuitas podem facilitar o dia a dia em vários aspectos da vida.

No trabalho, por exemplo, a IA pode dar uma força na elaboração de relatórios e apresentações, revisão de textos, criação de planilhas, e assim por diante. Cada vez mais, pessoas de todas as áreas têm recorrido a esses sistemas para poupar tempo em tarefas repetitivas. Dessa forma, conseguem dar mais qualidade ao trabalho, ao dedicar energia para o que realmente pede criatividade ou análise humana.

Na educação, aplicativos de idiomas como o Duolingo analisam o desempenho do aluno e ajustam as lições a cada grau de conhecimento. Se o usuário está indo mal nas respostas, ele adapta o nível dos exercícios para tornar mais eficiente o aprendizado.

Algumas ferramentas podem extrair informações-chave ou sintetizar aulas para facilitar os estudos. É o caso do Scholarcy e do TLDR This, que resumem automaticamente artigos e textos longos.

Nas finanças, aplicativos de controle de despesas – como Guiabolso ou Mobilis – conseguem sugerir formas de economizar a partir da análise das transações dos usuários. 

No dia a dia, a IA está mais integrada ainda. Para organizar agendas, lembrar de compromisso ou controlar dispositivos da casa, podemos contar com assistentes virtuais como Alexa, Siri e Google Assistant. Na hora de relaxar na frente da TV, as plataformas de streaming se encarregam de sugerir filmes e séries que combinam com o perfil do usuário, de acordo com suas buscas e histórico. E a própria câmera do celular usa IA para otimizar as fotos, corrigindo a iluminação ou a nitidez quando necessário.

Aplicativos de IA – exemplos:

ÁreaAppUso
TrabalhoChatGPT / Grammarly / Canva
Escrever, revisar textos e criar apresentações.
EducaçãoDuolingo / Scholarcy / TLDR This
Aprender idiomas e resumir artigos ou aulas.
CotidianoAlexa / Siri / Google Assistant
Organizar agenda, lembrar compromissos, controlar dispositivos da casa.
FinançasGuiabolso / Mobilis
Controle de gastos e planejamento financeiro.

Qual a melhor IA gratuíta?

Na verdade, o melhor tipo de IA, gratuita ou não, vai depender do objetivo do usuário.

Para gerar textos, por exemplo, a versão gratuíta do ChatGPT é bastante popular. Já para criação de imagens, o Canva e o Bing Image Creator são algumas das IAs que oferecem recursos sem custo.

No campo da organização pessoal, o Notion AI oferece funcionalidades de graça; o mesmo acontece com aplicativos de voz e transcrição, como Otter ou Whisper.

Mas atenção: cada ferramenta possui a sua própria política de gratuidade, que costuma variar de tempos em tempos. Algumas costumam liberar recursos básicos de forma permanente, enquanto outras oferecem períodos promocionais ou créditos gratuítos para testes. E outras ainda podem mudar o modelo de cobrança de acordo com a demanda.

Em outras palavras, o fato de você contratar hoje uma IA gratuita por 30 dias, por exemplo, não significa necessariamente que, daqui a um mês, um conhecido seu encontrará as mesmas condições disponíveis. Por isso, vale sempre conferir as regras atualizadas antes de começar a utilizar uma solução definitivamente no seu dia a dia.

Outro ponto importante é testar mais de um tipo de IA, para ver qual atende melhor às suas necessidades e, se fizer sentido, considerar os planos pagos. De forma geral, as versões sem custo costumam ser limitadas para quem deseja utilizar a ferramenta como apoio à produtividade.

Vantagens e limitações da IA

Entre as principais vantagens da tecnologia, está a otimização das rotinas, seja no trabalho ou no dia a dia doméstico. Tarefas repetitivas ou simples que levariam horas podem ser concluídas em minutos com a inteligência artificial.

Outro benefício é a personalização que o sistema oferece ao usuário. Com o passar do tempo, as respostas costumam ficar cada vez mais adaptadas ao contexto, pois o repertório da IA vai crescendo e se aperfeiçoando. E o fato de existir uma boa variedade de versões gratuitas a torna acessível a praticamente todo tipo de público.

Por outro lado, existem limitações importantes, e uma das principais se refere à qualidade dos dados que a IA recebe. É impossível para a tecnologia gerar um bom resultado com informações ruins, incompletas ou desatualizadas.

A dificuldade de compreender nuances do comportamento humano também é uma limitação. Por mais assertivas que algumas respostas possam ser, a IA é literal: sempre haverá risco de erros por não entendimento de contextos culturais, ironia ou figuras de linguagem.

E, logicamente, existem questões éticas fundamentais que envolvem a tecnologia, como o seu uso para criar notícias falsas ou sem observar direitos autorais, por exemplo. Esses pontos exigem atenção redobrada do usuário para aproveitar os benefícios sem se descuidar dos riscos.

Considerando todos esses aspectos, a IA tem tudo para ser um braço eficiente no seu dia. Mas você nunca poderá delegar total autonomia a ela, pois nada substitui o seu olhar crítico. Ao ter isso em mente, poderá aproveitar os seus benefícios da melhor forma, com responsabilidade e sem se descuidar dos riscos.