Gafisa vira 1ª decepção dos analistas na temporada de prévias de construtoras

Queda em lançamentos e vendas aliada a múltiplos "esticados" geram cautela entre analistas

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – As prévias das operações de construtoras no quarto trimestre vinham sendo bem recebidas pelos analistas de mercado, com os números sinalizando o início de uma retomada após um longo e rigoroso inverno na pior crise econômica do país em 80 anos. Cyrela (CYRE3), Even (EVEN3), Tenda (TEND3) e MRV (MRVE3) foram algumas das companhias que divulgaram os seus números nos últimos e que agradaram o mercado. 

No entanto, a Gafisa (GFSA3), que divulgou seus dados operacionais na noite de quinta-feira (17), destoou da média e trouxe números ruins na avaliação dos analistas de mercado, sendo que a expectativa já era baixa. “Os números preliminares da Gafisa vieram abaixo das nossas fracas estimativas. A velocidade de vendas ficou perto de 7% e enxergamos a empresa brigando para encontrar um equilíbrio entre a quantidade de lançamentos e a redução de alavancagem”, escrevem os analistas do Credit Suisse em relatório enviado a clientes.

A Gafisa lançou apenas um empreendimento nos últimos três meses de 2018 com um VGV (Valor Geral de Vendas) de R$ 118,9 milhões. Estava previsto, pela própria empresa, o lançamento de mais três empreendimentos no período com VGV de aproximadamente R$ 320 milhões. No entanto, a Gafisa decidiu postergá-los para 2019.

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“Um dos projetos estava localizado em uma região sobreofertada; e os outros dois, por estarem localizados em regiões que ainda não atingiram o nível de desenvolvimento adequado, comprometeria a assertividade do lançamento”, justificou a companhia. 

As vendas brutas totalizaram R$ 153,4 milhões no quarto trimestre, uma redução de 18,5% na comparação com o trimestre anterior e de 29,3% na anual. A companhia explica que foram feitas revisões e ajustes no processo.

Para os analistas do Bradesco BBI, a reorganização da estrutura interna da Gafisa pode ter tido um impacto negativo temporário nos números operacionais.

A empresa reconhece o efeito e diz que, entre as mudanças, aumentou o percentual de entrada pago pelo cliente, algo que, “em um primeiro momento, reduziu a velocidade de vendas no trimestre, mas, no longo prazo, vai assegurar vendas mais saudáveis e menos distratos”, acredita.

As justificativas não convenceram os analistas do Credit Suisse e do Bradesco BBI, que mantiveram sua avaliação relativa a ação da empresa em underperform, ou seja, expectativa de desempenho abaixo da média do mercado.

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“A Gafisa está sendo negociada em múltiplos esticados, com 1,9 vez o preço sobre o patrimônio (ajustado pelo ágio de Alphaville e juros capitalizados) e uma média entre ganhos e fluxo de caixa livre sobre o valor da empresa de 8%, contra 14% para nossas principais escolhas do setor: Direcional e Tenda, que têm avaliação neutra”, explica o Bradesco BBI em relatório.

Esse indicador tende a piorar, já que o Credit Suisse prevê maior queima de caixa quando os lançamentos dos últimos meses começarem a ser construídos. “As perspectivas para rentabilidade e geração de caixa não parecem atrativas, especialmente olhando o valuation do papel (2 vezes o preço sobre o valor tangível da empresa)”, afirmam. 

Os múltiplos alongados também são apontados pelo Bradesco BBI como razão para a cautela com a tese de investimento em Gafisa, ainda que o desempenho operacional do quarto trimestre tenha sido impactado negativamente pela reorganização da empresa – ainda que vise uma melhora no longo prazo. 

Assim, enquanto uma potencial melhora dos fundamentos da companhia não surge no horizonte de curto prazo, os analistas acreditam ser melhor ficar de fora do papel. Vale ressaltar que a companhia começou o ano em baixa na bolsa: em janeiro, os papéis acumulam queda de 9%. Nesta sessão, os papéis caem cerca de 2%.