Foi só um susto? Ações da Eletrobras retomam patamares de antes da MP 579

Em dois meses, ativos ELET6 acumularam ganhos de 76,71%, afastando os temores de que a estatal seria a companhia mais prejudicada pelo novo modelo do setor elétrico

Lara Rizério

Usina Hidrelétrica de Tucuruí *** Local Caption *** Comportas abertas da usina de Tucuruí

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SÃO PAULO – Após a fatídica semana do dia 16 de novembro, em que as ações preferenciais da Eletrobras (ELET6) chegaram a despencar mais de 30%, o horizonte para os ativos parece ter melhorado. Depois de terem alcançado o mesmo patamar de 2004, os ativos da companhia de energia elétrica apresentam recuperação, retomando em pouco mais de dois meses depois os valores perdidos após o discurso feito pela presidente Dilma Rousseff no feriado de 15 de novembro.

Os papéis ELET6, que valiam R$ 13,11 com base na cotação de fechamento de 14 de novembro, chegou a atingir R$ 7,30 em apenas quatro sessões. Contudo, desde lá eles passaram a esboçar recuperação, atingindo cotação de R$ 12,90 em pouco mais de dois meses, com base no fechamento de 21 de janeiro. Neste período, as ações preferenciais da companhia se valorizaram 76,71%

Os papéis da Eletrobras, que já não se destacavam como uma das melhores opções de investimento dentro do setor elétrico, se mostraram ainda mais vulneráveis em meio a uma série de anúncios e medidas tomadas pelo governo. Em setembro de 2012, com o anúncio da Medida Provisória 579 pela presidente Dilma Rousseff, que previa a redução de 20,2% do custo de energia para o consumidor final, as ações da companhia chegaram a cair cerca de 5% em apenas um dia.

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Contudo, foi em novembro, com a divulgação dos resultados do terceiro trimestre e as discussões envolvendo as concessões tarifárias, que as ações da companhia desabaram. No dia 16, a empresa revelou que teria perdas bilionárias e que, no lugar dos planos de expansão, a companhia preparava planos para cortar fortemente os custos, estudando até mesmo a adoção de um plano de demissão incentivada. Desta forma, a expectativa do mercado era de que a Eletrobras perdesse R$ 20 bilhões entre 2013 e 2017.

O diretor de RI (relações com investidores) da companhia, Armando Casado de Araújo disse esperar, em consequência do processo de renovação, que o Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) zere no ano de 2013. Em meio a esse cenário, o representante dos acionistas minoritários no Conselho de Administração da Eletrobras, José Luiz Alqueres, renunciou ao cargo. 

Para completar o cenário ruim, o Barclays cortou o preço-alvo das ações da elétrica, tanto para a ordinária quanto para a preferencial, para R$ 1,00 recomendando a venda, por avaliar que as novas regras para as concessões podem diminuir em 30% a receita líquida da Eletrobras no próximo ano, o que reduz sua capacidade de distribuir dividendos e pode levar a uma substancial oferta de ações.

Com toda essa enxurrada de notícias negativas, os papéis ordinários da companhia registraram uma queda de quase 30% apenas em dois dias, em 19 e 21 de novembro. Entretanto, o baque para os papéis preferenciais foi ainda maior: neste período, os ativos tiveram baixa de 35,5%. Na mínima daquela sessão, os papéis ordinários atingiram os R$ 6,52 – vistos antes apenas em maio de 2004, enquanto os preferenciais alcançaram R$ 7,86, mínima também desde aquele período. 

Naquela semana, as ações preferenciais classe B da elétrica se desvalorizaram 33,62%, a R$ 7,70 no acumulado dos quatro pregões, enquanto as ON perderam 28,32%, a R$ 6,63, durante igual intervalo. Na mínima da semana, os papéis PNB alcançaram a cotação de R$ 7,05 – o menor patamar relatado em oito anos. Estas desvalorizações foram as maiores para o papel desde o início do plano real. 

Recuperação, mas não sem preocupações
Entretanto, após atingirem tamanha queda, os papéis passaram a registrar fortes altas em novembro, decorrentes de uma recuperação das ações do setor elétrico. Em meio aos apelos de que as companhias do setor não teriam como sustentar em meio aos valores considerados bastante baixos de indenização, os valores foram revistos pelo governo brasileiro, o que ajudou a animar os mercados.

Apenas na sesão do dia 30 de novembro, as ações ELET6 subiram 23,56%, aos R$ 9,65, enquanto as ações ON registraram ganhos de 16,79%, recuperando boa parte das perdas apenas na sessão de 30 de novembro. Entretanto, após os valores revistos saírem novamente abaixo do esperado pelo mercado e com a definição da renovação de concessões, os papéis voltaram a despencar. 

No final do ano, os papéis chegaram a registrar ganhos, mas foi com o início de 2013 que a mudança de rumo dos ativos ficou mais clara. Apenas neste ano, os ativos ELET3 registram ganhos de 21,64% e de 23,09% para as ações ELET6; contudo, nos últimos 365 dias, os papéis ainda registram fortes baixas: de 52,30% e 45,04%, respectivamente. 

Entretanto, em 2013, nem tudo está sendo tranquilo para a companhia elétrica. Os papéis da ELET3 e ELET6 registram forte baixa no dia 8 de janeiro, em meio aos temores de que houvesse um racionamento de energia com a redução dos níveis das usinas hidrelétricas atingindo níveis preocupantes, o que mais uma vez baqueou as ações do setor. Contudo, com as preocupações dissipadas e com o governo assegurando que não haverá racionamento, as ações da Eletrobras não conhecem uma queda desde 8 de janeiro.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.