Diversificar a carteira traz benefícios? Simulação com VaR desmistifica a questão

Raphael Monaco Shiratori, gerente de risco dos fundos Sparta, compara dois portfólios e apresenta os resultados

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Quem nunca ouviu a recomendação de “nunca colocar todos os ovos em uma cesta só”? O tema diversificação de ativos é recorrente em qualquer conversa sobre investimentos e é tópico certo entre os consultores.

Embora o conselho seja válido dentro de uma série de procedimentos que buscam reduzir risco, uma dúvida muito comum pode surgir na mente do investidor: como a diversificação de portfólio protegerá efetivamente o meu capital investido no mercado?

Preocupado em responder tal questão e explorar mais as métricas que envolvem a gestão de carteira, Raphael Monaco Shiratori, FRM*, gerente de risco dos fundos Sparta, esclarece o mito “diversificação de carteira” através de cálculos envolvendo o VaR (Value at Risk), objeto de estudo no último ‘Manejo de Risco’.

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Diversificação e correlação
Para falarmos de diversificação, o investidor deve entender como a correlação entre os ativos interfere no risco da carteira. Por definição, correlação é uma medida de relação entre duas variáveis, que pode ser positiva ou negativa, e oscila entre -1 (máxima correlação negativa) e +1 (máxima correlação positiva).

No caso de uma correlação positiva, os dois ativos oscilam no mesmo sentido, enquanto quando há uma correlação negativa, as variáveis se movem em sentido contrário, e, quando o valor é zero, não há relação entre os ativos.

Apesar do sentido, não podemos dizer dentro do universo estatístico que os eventos estão interconectados, ou seja, correlação não implica em causalidade. Mesmo quando fazemos um estudo entre ativos com correlação próxima de +1 ou –1, não é possível afirmar que há uma relação entre causa e efeito, especificidade que deve ser lembrada quando o investidor iniciar a interpretação dos dados.

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Em uma carteira pouca diversificada, quando os cálculos apontam para uma correlação próxima de +1, existe um potencial de risco por não diversificação, afirma Shiratori, enquanto um portfólio com índice de correlação de aproximadamente 0 fornece ao investidor uma carteira bem diversificada em termos de risco.

“Dessa forma, caso um ativo recue muito, os outros detêm uma pequena probabilidade de cair em semelhante magnitude, sendo bastante provável que o prejuízo assimilado não seja tão grande quanto uma carteira cujos ativos estejam altamente correlacionados”, explica o gerente de risco dos fundos Sparta.

A analogia faz lembrar mais uma vez da Fronteira Eficiente elaborada pelo economista norte-americano Harry Markowitz, que deu origem à Teoria Moderna do Portfólio. “Podemos pensar que essa diversificação deve conter um limite para minimização do risco e maximização do retorno esperado”, afirma Shiratori com referência à teoria.

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Implicações no risco da carteira
Deixando um pouco a teoria de lado, o gerente de risco dos fundos Sparta relaciona o desempenho de uma carteira com alto índice de correlação e uma com baixo índice de correlação, a fim de demonstrar os benefícios da diversificação através do VaR Histórico.

Como carteira concentrada (não diversificada), Shiratori definiu três papéis: PETR4, VALE5 e GGBR4. Para uma carteira diversificada, o gerente de risco selecionou seis ações: AMBV4, NATU3, CMIG4, USIM5, BBAS3 e PETR4.

Fora utilizado um intervalo de 750 pregões, ou seja, as variações dos papéis entre 10 de maio de 2007 até 26 de maio deste ano, com um Intervalo de Confiança** de 95%. Os resultados da simulação são postados em termos anualizados.

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Resultados da simulação
Respeitando o pressuposto que o mercado ao longo do tempo tem um comportamento semelhante a uma curva normal***, Shiratori representou os retornos das duas carteiras em razão da frequência percentual dos eventos no intervalo de 750 pregões.

Através dos gráficos, pode-se perceber que a volatilidade da carteira diversificada é menor em relação à carteira concentrada, visto que os retornos fora da média são mais significativos na carteira não diversificada.

Índice Carteira Concentrada Carteira Diversificada
Volatilidade 46,0% 33,3% 
VaR Histórico* 4,34% 3,12%
Retorno Médio 21,75% 21,56%
*Pior perda esperada em módulo com Intervalo de Confiança de 95% para o período de um dia de negociação

Conclusões
Com retornos praticamente idênticos, a carteira diversificada, como era de se esperar, apresentou um Var Histórico 1,22 ponto percentual menor na comparação, como também foi constada uma queda na exposição à volatilidade.

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Deste modo, podemos concluir através desta simulação com preços históricos que é eficiente para o investidor diversificar sua carteira de ações, pois, como demonstrado, há retornos estatísticos em termos de redução de risco.

Para obter resultados satisfatórios, além da gestão de risco apresentada, Shiratori recomenda ao investidor escolher papéis com bons fundamentos, independente da estratégia utilizada.

Outro ponto interessante que deve ser relevado ao diversificar seu portfólio diz respeito à escolha dos setores. “Setores diferentes da bolsa tendem a ter uma correlação mais próxima de 0”, uma importante dica na seleção dos papéis.

Faça você mesmo
Realizados todos os cálculos, o gerente de risco dos fundos Sparta disponibiliza a amostra de como fora calculado o VaR Histórico da carteira de ativos utilizada na simulação apresentada e um exemplo de cálculo. Para fazer o download da planilha, clique aqui.

*Certificado FRM® (Financial Risk Manager) pela Global Association of Risk Professionals
** Intervalo de valores usado para estimar um parâmetro com nível especificado de confiança
*** Eventos aleatórios que desenvolvem ao longo tempo uma forma simétrica em torno da média