Varejo deve seguir contido, com desempenho pior para segmentos dependentes de crédito, dizem analistas

Esperança é que uma recuperação do mercado de trabalho e estímulos fiscais de curto prazo auxiliem a demanda por bens mais sensíveis à renda

Roberto de Lira

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O comportamento do varejo brasileiro deve continuar apresentando resultados distintos entre as principais categorias até o final do ano, mas os dados divulgados hoje pelo IBGE – as vendas varejistas recuaram 0,1% em agosto ante julho – apontam para uma estagnação, dizem analistas. A queda na renda da população, o crédito mais apertado e o alto endividamento da famílias explicam essa projeção.

Em sua análise Macro Watch, a XP disse ter visto sinais mistos entre os setores varejistas em agosto, com seis das dez atividades pesquisadas pelo IBGE apresentando números positivos em relação a julho.

Foi destacada no relatório, por exemplo a forte recuperação de Vestuário e Calçados (+13,0% na comparação mensal) após uma contração acumulada de quase 23% nos dois meses anteriores. No entanto, o segmento despencou 10,5% no trimestre móvel até agosto.

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Outra atividade destacada foi a Veículos, Motos e Autopeças (+4,8% em agosto ante julho) o que encerrou uma série de quatro quedas consecutivas, conforme sugerido anteriormente pelos dados da Fenabrave. Mas esse segmento ainda recuou 5,1% no trimestre ante trimestre móvel e está quase 8,5% abaixo dos níveis pré-covid.

“De acordo com nossos cálculos, as vendas reais dos bens de maior renda aumentaram 0,8% no trimestre móvel até agosto e 3,9% em relação a dezembro de 2021. Por outro lado, as vendas reais dos produtos mais sensíveis ao crédito caíram 5,7% no trimestre móvel e 4,5% em relação ao final de 2021”, destaca a XP.

Para o curto prazo, a XP espera que demanda pelos bens mais sensíveis ao crédito deva permanecer em tendência de queda. “No entanto, continuamos a pensar que uma recuperação do mercado de trabalho, juntamente com mais estímulos fiscais de curto prazo, permitirão uma leve desaceleração do setor de varejo, fornecendo algum suporte à demanda pelos bens mais sensíveis à renda”, ponderam os analistas.

“Nesse sentido, projetamos uma virtual estagnação para o varejo geral nos próximos meses, com importantes diferenças setoriais.”

Renda e endividamento

Para o Goldman Sachs, as condições de endividamento e renda da população devem gerar dificuldades crescentes para a atividade de varejo nos próximos meses, mas há fatores positivos, que devem dar alguma suporte ao setor.

“A queda dos preços dos combustíveis e das tarifas de eletricidade e telecomunicações, transferências fiscais generosas em dinheiro para famílias com alta propensão a consumir e o fortalecimento da confiança do consumidor devem oferecer algum suporte de curto prazo”, diz o banco em relatório.

Para Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter, o varejo ficou praticamente estável em agosto, mostrando pouco impacto de estímulos fiscais. “Para a política monetária, os dados correntes confirmam o acerto do fim do ciclo (da alta de juros). Resta aguardar as intenções fiscais para 2023”, comentou no Twitter.

O BTG Pactual afirma que o resultado de agosto veio em linha com a expectativa do banco. “Para o curto prazo, esperamos resultados heterogêneos no setor varejista. Enquanto os segmentos dependentes de crédito (Veículos, Eletrodomésticos e Materiais de Construção) já tem mostrado dados mais fracos em virtude da taxa Selic em patamar restritivo e da demanda saturada, os Bens beneficiados pelo aumento da renda, mas de segunda necessidade (Vestuário e Papelaria), devem continuar apresentando comportamento misto, com crescimento marginal em Vestuário”.

O banco acredita que o destaque positivo deve ficar concentrado no consumo de Bens Essenciais (Supermercados e Farmácia) diante da distribuição da parcela adicional do Auxílio Brasil e a resiliência histórica dos grupos.

Perda de fôlego

O Bradesco BBI avalia que, após um primeiro trimestre muito sólido e um segundo trimestre errático, as vendas no varejo continuaram a se deteriorar em agosto e já acumularam três meses consecutivos de queda. “Os resultados ultimamente poderiam ter sido ainda piores se não fossem as medidas de incentivo à demanda – como liberação de recursos do FGTS, redução de impostos e pagamentos de auxílio-renda”, comenta o banco.

O BBI diz em relatório que isso reforça a visão de que a economia continuou perdendo fôlego no terceiro trimestre e que os últimos três meses do anos devem ser um período desafiador.

“Com altos níveis de incerteza tanto no Brasil quanto no exterior, além de taxas de juros cada vez mais altas impactando cada vez mais, as perspectivas para as vendas no varejo não são boas, embora um mercado de trabalho ainda em melhora possa ajudar a evitar um quadro ainda mais sombrio”, prevê

Para a equipe do Itaú, os resultados de agosto corroboram a desaceleração da atividade econômica no terceiro trimestre. “Apesar de esperar um crescimento marginal em setembro, as vendas no varejo devem encerrar o terceiro trimestre em campo negativo”, estima o banco.

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