Sem participação de produtores, efeitos do conflito no preço do petróleo são reduzidos, diz economista

Thaís Zara, da LCA, afirma também que existe um risco de efeito colateral do conflito na aversão ao risco, que pode influenciar no câmbio

Roberto de Lira

(Ahmad Hasaballah/Getty Images)

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A economia global, especialmente a dos países emergentes, tende a sofrer mais os efeitos colaterais do que os diretos no atual estágio do conflito no Oriente Médio, iniciado com os ataques promovidos contra cidadãos israelenses por parte do Hamas na semana passada. A opinião é da economista sênior da LCA Consultores, Thaís Zara, que não crê em choque de preços de petróleo no curto prazo sem a participação direta de grandes produtores nos embates, hoje localizados na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

Para ilustrar esse raciocínio Thaís lembrou que a variação de preços observada hoje foi mais uma reação ao anúncio de queda dos estoques de petróleo nos Estados Unidos do que a notícias sobre o conflito entre Israel e as forças palestinas.

A economista lembra que os preços estiveram mais pressionados semanas atrás, quando Arábia Saudita e a Rússia, integrantes da Opep, anunciaram restrições na oferta da commodity. “Com a percepção de que provavelmente teremos juros elevados por mais tempo nas economias desenvolvidas e após dados um pouco piores da China, os preços voltaram a recuar. Depois do conflito, ficaram um pouco mais voláteis, chegaram a subir um pouco, mas não tanto”, comenta a economista.

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Para ela, é necessário saber até onde a guerra vai escalar e quais os países que ela pode abarcar. O Irã, por exemplo, é um produtor de petróleo relevante, mas que já enfrenta sanções econômicas por parte do Ocidente, o que poderia até mitigar o efeito de uma redução de sua oferta, comenta Thaís.

Entre os caminhos a partir dos quais o conflito poderia afetar a economia internacional e, eventualmente, a brasileira, citou a questão cambial. “Nesse ambiente de incerteza, pode acabar tendo uma maior aversão ao risco, levando a uma busca por ativos considerados mais seguros, como os ativos em dólar. Poderia, eventualmente, trazer consequências para nossa moeda e também algum impacto inflacionário. Mas, no curto prazo, não parece ter consequências mais fortes”, avalia a economista da LCA.

Esse tipo de risco pode ser avaliado na próxima reunião do Copom, mas os eventuais efeitos da  crise no Oriente Médio devem entrar junto com a análise dos demais riscos internacionais, como o desenrolar das decisões dos demais Bancos Centrais e o comportamento da economia chinesa, por exemplo. “Provavelmente vai entrar nessa mesma categoria. Não deve mudar muito”, prevê Thaís.

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Crises diferentes

A economista sênior da LCA Consultores fez uma comparação da atual crise geopolítica com a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, que teve efeitos muito mais severos na economia global. Ela lembra que, naquele momento, a economia estava muito mais aquecida do que agora e ainda havia o problema dos gargalos das cadeias produtivas, hoje superados.

Além disso, Rússia e a Ucrânia têm um papel muito importante em termos de produção, diferente dos atores envolvidos no conflito atual. “E hoje a gente tem uma capacidade ociosa que pode ser facilmente acessada. Se os preços começarem a escalar, pode ser que a Arábia Saudita retome a capacidade de produção maior e essa possibilidade já traz alívio”, compara.

Até mesmo alguma interrupção momentânea de fornecimento de gás para a Europa é mais manejável hoje do que foi no ano passado, destaca Thaís. “Eles encontraram outras fontes, o  estoque de gás na Europa está perto do máximo, num ponto muito bom ante os anos recentes”, afirma.

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Uma recente oscilação de preços do gás, por exemplo, ocorreu por conta de greve de produtores na Austrália, mas esse movimento nem se comparou ao do ano passado durante a crise da Ucrânia. “Pode ter alguma interrupção de fornecimento para a Europa, mas esse estoque muto alto acaba evitando movimentos mais fortes de preços.”