IPCA-15 sobe 0,59% em maio, acima das expectativas do mercado

Resultado ficou bastante abaixo do indicador de abril (1,73%), mas acima do consenso Refinitiv (0,45%); transportes e saúde e cuidados pessoais pesam

Lucas Sampaio

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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial do Brasil, subiu 0,59% em maio — a maior alta para o mês desde 2016 (0,86%).

O IPCA-15 agora acumula alta de 4,93% no ano e de 12,20% em 12 meses, uma aceleração em relação aos 12,03% de abril e o resultado mais alto desde novembro de 2003 (12,69%).

A tava ficou bastante abaixo da registrada em abril (1,73%), que foi a maior variação mensal desde fevereiro de 2003 (2,19%) e a maior para o mês desde 1995 (1,95%), mas veio acima das expectativas do mercado (o consenso Refinitiv projetava uma alta mensal de 0,45% e anual de 12,03%).

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A persistência da alta de preços tem feito com que economistas — e até o governo — revisem para cima as suas projeções para a inflação de 2022. A expectativa do mercado já chega a 10% para o IPCA deste ano, enquanto o Ministério da Economia aumentou a sua para 7,9% na semana passada.

Isso pode fazer com que o Banco Central, que já elevou a Selic de 2% para 12,75% ao ano em pouco mais de um ano, tenha de continuar o clico de alta da taxa básica de juros. Uma política monetária mais apertada tende a moderar os gastos dos consumidores — e consequentemente frear a alta dos preços —, mas por outro lado desacelera a atividade econômica.

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Saúde e transportes pesam

Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tiveram alta em maio — a única exceção foi habitação (-3,85%), que teve forte retração e ajudou a diminuir o IPCA-15 de maio em 0,62 ponto percentual. Sem ela, o indicador teria sido mais que o dobro do registrado.

A maior alta veio de saúde e cuidados pessoais (+2,19%), que contribuiu para aumentar a prévia da inflação do mês em 0,27 ponto percentual.

A alta de preços do setor de transportes (+1,80%) desacelerou em relação a abril (+3,43%), mas o grupo foi o responsável pelo maior impacto positivo no indicador (0,40 p.p.). Alimentação e bebidas (+1,52%) também desacelerou na comparação com o mês anterior (+2,25%), mas impactou o índice em 0,32 ponto percentual.

Os demais grupos ficaram entre variações de +0,06% (educação) e +1,86% (vestuário), e seus impactos variaram de 0,00 (educação) a 0,08 (vestuário).

Remédios e passagens aéreas

A forte alta do grupo saúde e cuidados pessoais (+2,19%) foi influenciado pela alta nos preços dos produtos farmacêuticos (+5,24%), na esteira do reajuste de até 10,89% autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Além disso, houve alta de 3,03% nos preços dos itens de higiene pessoal.

No grupo de transportes (+1,80%), a maior contribuição (0,09 p.p.) veio das passagens aéreas, cujos preços subiram pelo segundo mês consecutivo (a alta havia sido de 9,43% em abril e subiu mais 18,40% em maio).

Os preços dos combustíveis também seguem em alta (+2,05%), embora em menor intensidade em relação ao mês passado (quando subiram 7,54%). A inflação da gasolina foi de 1,24% em maio e a do etanol, 7,79%. O IBGE destaca também a alta de 3,48% no seguro de veículos, que já acumula alta de 18,24% apenas em 2022.

Os itens e subitens de maior impacto no IPCA-15 de maio:

Ajuda da conta de luz

A forte queda de preços no grupo habitação (-3,85%) foi puxada pela energia elétrica (-14,09%), que ficou muito mais barata a partir de 16 de abril, com o fim da bandeira tarifária escassez hídrica e o início da bandeira verde.

A mudança foi possível devido às chuvas dos últimos meses e à recuperação do nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas, pois eles estavam em níveis críticos — o que obrigou o acionamento das usinas termelétricas, que produzem energia mais cara e aumentam o preço da conta de luz.

Enquanto na bandeira verde não há cobrança adicional na conta de luz, na escassez hídrica há um acréscimo de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos. O governo dizia que a mudança na bandeira tarifária diminuiria o preço da energia elétrica em cerca de 20%, mas o impacto acabou sendo menor devido a reajustes recentes em diversos estados.

Segundo o IBGE, as quedas dos preços na conta de luz variaram -17,62% em Curitiba a até -2,18% em Fortaleza (no Ceará houve um reajuste de 24,23% nas tarifas a partir 22 de abril, o que diminuiu o impacto positivo da bandeira verde).

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) também autorizou no mês passado reajustes tarifários de 20,97% na Bahia (o que fez a conta de luz cair “apenas” 4,82% em Salvador) e de 18,77% em Pernambuco (o que reduziu a queda para 8,20% no Recife).

Diferença entre IPCA e IPCA-15

Os dois índices calculam a inflação de famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos (de R$ 1.212 a R$ 48.480 por mês), e o IPCA-15 difere do IPCA (o índice oficial de inflação do país) apenas no período de coleta e na abrangência geográfica.

Para o cálculo do IPCA-15 de maio, os preços foram consultados entre 14 de abril a 13 de maio e comparados com aqueles vigentes entre 17 de março a 13 de abril. No IPCA, a coleta começa nos últimos dias do mês anterior e termina nos últimos dias do mês vigente (o índice de abril, por exemplo, se baseou em preços de 31 de março a 29 de abril).

Além disso, o IPCA-15 pesquisa os preços nas regiões metropolitanas de Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, além do Distrito Federal e da cidade de Goiânia. Já o IPCA inclui também dados da região metropolitana de Vitória e dos municípios de Aracaju, Campo Grande, Rio Branco e São Luís.

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Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.