Eleição nos EUA: Michael Bloomberg vira alvo em debate e evidencia disputa intensa no Partido Democrata

Bloomberg foi atacado porque seus adversários sabem que sua fortuna pessoal, estimada em US$ 69 bilhões, já está fazendo diferença na campanha

Sérgio Teixeira Jr.

(Foto: Reprodução/Facebook)

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A expectativa era enorme antes do primeiro debate com os seis favoritos na disputa interna do Partido Democrata, e em menos de um minuto ficou claro: a briga está oficialmente pegando fogo, e todos os olhares estão voltados para o bilionário e ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg.

No primeiro comentário da noite, o senador Bernie Sanders lançou um ataque direto contra Bloomberg por causa das práticas racistas da polícia de Nova York durante seu governo. Momentos depois, foi a vez da também senadora Elizabeth Warren: “Queria falar de quem estamos enfrentando: um bilionário que chama as mulheres de minas gordas e lésbicas com cara de cavalo. E, não, não estou falando de Donald Trump. Estou falando do prefeito Bloomberg”.

Bloomberg foi atacado impiedosamente porque seus adversários sabem que sua fortuna pessoal, estimada em US$ 69 bilhões, já está fazendo diferença na campanha. Apesar de ter entrado na disputa meses depois dos competidores e de ficar de fora das primeiras rodadas das primárias, ele já está empatado em segundo lugar na preferência dos democratas, segundo uma pesquisa recém-divulgada pelo The Wall Street Journal.

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O líder, por enquanto, é o autointitulado socialista Sanders, cuja campanha se apoia em propostas como cobertura universal de saúde para todos os americanos, educação superior gratuita nas universidades públicas e aumento de impostos para os ricos.

Bloomberg tentou pintar Sanders como um risco na eleição geral. “Não consigo pensar num jeito melhor para reeleger Trump [do que esse tipo de proposta]. Já tentaram isso [no passado], o nome é comunismo, e não deu certo.”

Apesar das tiradas ensaiadas contra a suposta ameaça vermelha de Sanders, Bloomberg se enrolou ou tergiversou quando teve de rebater as críticas pontuais sobre o racismo da polícia de Nova York e o tratamento que ele dispensou às mulheres.

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Numa mesa redonda depois do debate, o ex-candidato Andrew Yang afirmou na CNN que Bloomberg talvez devesse ter ficado de fora do debate da noite de ontem. Outros comentaristas da emissora concordaram que a performance do bilionário deixou a desejar.

Um dos flancos da candidatura do empresário é a tática do “stop and frisk” (parar e revistar), adotada pela polícia nova-iorquina durante seus anos na prefeitura. Durante anos, milhões de negros e latinos foram parados pela polícia indiscriminadamente, somente por causa da cor de sua pele.

Essas acusações de racismo contra Bloomberg não são novas, mas especialmente delicadas neste momento porque as duas próximas rodadas da disputa interna dos democratas acontecem em estados com significativos contingentes de minorias.

Em Nevada, 27% dos votantes são de origem latina, e 13% são negros. Na Carolina do Sul, 61% dos eleitores são negros, e 4%, latinos. Mesmo que Bloomberg não esteja participando da disputa nestes dois estados, qualquer candidato que queira levar a indicação do Partido Democrata tem necessariamente de contar com o voto dos negros e dos latinos.

Além disso, como lembrou Bernie Sanders nos primeiros segundos do debate, derrotar Donald Trump vai exigir que os eleitores americanos compareçam às urnas. Em outras palavras: se o candidato democrata não inspirar os eleitores da oposição a sair de casa em 3 de novembro, a vitória de Trump está basicamente assegurada (o voto não é obrigatório nos Estados Unidos).

Elizabeth Warren, que disputa com Sanders o eleitor mais à esquerda do partido, teve uma performance combativa. Segundo uma medição do The New York Times, ela foi a candidata que mais falou ontem à noite, mas talvez a boa performance tenha vindo tarde demais, especialmente porque ela está na briga pelos mesmos votos de Sanders.

Mais curiosa é a situação dos outros participantes do debate da noite de ontem – o ex-vice-presidente Joe Biden, o ex-prefeito Pete Buttigieg e a senadora Amy Klobuchar. Os três representam a ala moderada do partido e vêm sendo ofuscados pelo poderio financeiro de Bloomberg.

Buttigieg pareceu o candidato com a estratégia mais clara para lidar com essa nova polarização. “Pode ser que daqui duas semanas só restem Bernie e Bloomberg, e a maioria da população não saberá onde se encaixar”, afirmou o ex-prefeito da pequena cidade de South Bend, numa tentativa inicial de se oferecer como uma “terceira via”.

Buttigieg (pronuncia-se “búri-djédj”) também dirigiu ataques a Amy Klobuchar, sugerindo que a senadora não estaria preparada para lidar com temas de política externa. Em sua réplica, Klobuchar perguntou se o adversário estava a chamando de “burra”.

Marcar posição nos debates é muito importante. Segundo uma pesquisa realizada na semana passada, 51% dos entrevistados afirmaram que os debates foram o fator mais importante ou um dos mais importantes na escolha de seus candidatos das primárias.

A Super Terça vem aí

Sanders, favorito disparado para levar o caucus de sábado em Nevada, parece tão confiante da vitória que sua comitiva anunciou que o candidato deixaria o estado logo depois do fim do embate na TV em direção à vizinha Califórnia – onde há o maior número de delegados em jogo para a convenção de julho.

Segundo uma média das pesquisas realizadas em Nevada, Sanders contava com 30% das preferências, seguido de longe por Biden (16%), Warren (15%), Buttigieg (13%) e Klobuchar (10%).

O processo de escolha do adversário (ou adversária) de Trump entra agora na fase aguda. Depois de Nevada, no sábado 29 é a vez da Carolina do Sul, onde o até poucas semanas atrás favorito Biden terá a última chance de provar sua viabilidade. E, três dias depois, acontece a Super Terça, quando 14 estados vão às urnas, decidindo o destino de mais de um terço dos delegados.

Nas primeiras horas da madrugada de quarta-feira 4, o cenário deve ficar mais claro. Não é possível assegurar matematicamente a vitória na Super Terça, mas, tradicionalmente, depois desse dia apenas os dois favoritos continuam na disputa. E a terça será a primeira vez em que o rolo compressor de Bloomberg – estimados US$ 400 milhões de sua fortuna pessoal gastos em publicidade até aqui — será testado nas urnas. Existem chances reais de que Biden e Warren, antes considerados favoritos, abandonem suas campanhas depois da Super Terça.

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Sérgio Teixeira Jr.

Jornalista colaborador do InfoMoney, radicado em Nova York