Maior conciliação ou potencial de aumentar ruídos? Como os economistas viram a indicação de Galípolo para diretoria do BC

Enquanto Goldman Sachs vê potencial de aumento de ruídos na comunicação do BC, outros economistas destacam poder de conciliação do indicado

Lara Rizério

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, durante reunião (Foto: Washington Costa/Ascom/MF)

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Depois de muita expectativa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta segunda-feira (8) que seu secretário-executivo, Gabriel Galípolo, será indicado para a diretoria de Política Monetária do Banco Central, destacando que o governo não quer “formar bancada” na cúpula da autarquia, mas busca maior coordenação e harmonia entre políticas fiscal e monetária.

Haddad afirmou ainda que Ailton de Aquino Santos, servidor de carreira do BC, será indicado para a diretoria de Fiscalização do órgão. Os nomes dos dois primeiros indicados por Lula ainda precisarão passar pela aprovação do Senado.

O ministro afirmou ainda que partiu do próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a primeira sugestão que colocava o nome de Galípolo como uma opção para ocupar vaga na diretoria da autarquia. Haddad afirmou que Galípolo tem a confiança e o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e buscou afastar interpretações de que a indicação poderia ter algum cunho partidário.

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O início dos trabalhos de Galípolo e Santos na diretoria do BC, onde passarão a votar nas decisões sobre a taxa básica de juros do Comitê de Política Monetária (Copom), dependerá do trâmite do Senado. Por isso, não é possível afirmar se os dois já participarão da próxima reunião do colegiado, nos dias 20 e 21 de junho, quando agentes do mercado ainda esperam uma manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano.

Os indicados passam por sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e, se aprovados, os nomes ainda são submetidos ao plenário da casa.

O governo Lula terá a oportunidade de indicar mais dois diretores do Copom no final de 2023.

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O Goldman Sachs destaca que o governo Lula tem sido um crítico veemente da atual política de juros e tem pressionado por taxas mais baixas para estimular o crédito e o crescimento. No sábado, Lula voltou a atacar a taxa básica de juros da economia, atualmente em 13,75%, e repetiu que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não tem compromisso com o Brasil.

Já Haddad afirmou que Galípolo estará “mais próximo [do Ministério da Fazenda] e deixará nosso ponto de vista [do MF] mais claro para o Banco Central”.

Galípolo é formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política pela PUC de São Paulo, instituição na qual também foi professor nos cursos de graduação, de 2006 a 2012. Além disso, lecionou no MBA de PPPs e Concessões da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo). É também pesquisador sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

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De 2017 a 2021, Galípolo foi presidente do banco Fator, instituição com expertise em parcerias público-privadas e programas de privatização. O economista ingressou no governo Lula como secretário-executivo do Ministério da Fazenda e é visto como muito próximo de Haddad.

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Dado o papel no atual governo, Galípolo é visto como um substituto em potencial do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, quando seu mandato terminar no final de 2024, aponta o Goldman, o que torna a indicação mais emblemática.

“Vemos espaço para um aumento potencial no ruído de comunicação no curto prazo. Não nos surpreenderíamos ao começar a ver decisões divididas do Copom e visões diametralmente opostas dentro do Copom sobre qual deveria ser a postura política adequada”, avalia Alberto Ramos, diretor do departamento de pesquisa econômica para a América Latina do Goldman Sachs.

Ainda segundo o economista, além disso, a percepção de que Galípolo eventualmente substituirá Campos Neto tem o potencial de gerar alguns atritos e mal-estar no Copom.

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Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, a indicação de Galípolo eleva a pressão por cortes da Selic.

“Galípolo vai entrar na diretoria do BC com o objetivo claro de tentar antecipar o movimento de corte de juros. Então, a preocupação é justamente com uma mudança no balanço de forças dentro do BC na direção de uma maior leniência com a inflação”, comentou Rostagno.

O economista André Perfeito, por sua vez, avalia que a escolha para as duas diretorias do BC não fará os juros caírem antes do que a atual diretoria do Banco Central imagina como adequado, mas sem dúvida abre o contraditório dentro do Copom e encaminha a discussão no sentido de trazer outros elementos para a mesa do colegiado.

Ele destaca um possível caráter conciliatório do possível diretor do BC. “Galípolo, além de ser um executivo experimentado, com experiência no mercado financeiro e com sólida formação econômica, tem uma característica importante para este momento de transição: ele é hábil politicamente o que irá ajudar a conciliar as rusgas entre BC e Planalto o que por sua vez pode ‘colocar a bola no chão’ deste debate estéril que surgiu na condução de curto prazo da Selic”, avalia.

Para o economista, salvo alguma nova evidência que a inflação corrente está cedendo mais rapidamente que o esperado ou as expectativas se ancorem mais firmemente que o previsto, tudo indica que cortes na Selic acontecerão apenas no segundo semestre de 2023.

Ele também aponta ser importante apontar que após semanas com alta nas projeções de IPCA, o Focus de hoje apresentou queda para o final de 2023. “O mercado pode até especular que essa mudança irá tornar a política monetária mais expansionista, mas há evidências de sobra que o novo diretor não age de maneira monocrática. Haverá muita negociação e parcimônia na sua gestão”, afirma.

Flavio Conde, analista da Levante, avalia que Galípolo tem bom trânsito em todo o governo. “Ele deve levar uma visão ao Copom um pouco diferente da atual, que é muito rígida e inflexível e muita centrada em levar a inflação para o centro da meta”, afirma.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.