Com mercado de trabalho ainda aquecido, Fed deve manter tom ‘hawkish’, dizem analistas

Após payroll divulgado hoje, cenário mais provável é que Banco Central dos EUA opte por nova alta de 0,75% nos juros em novembro

Roberto de Lira

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Ainda que os dados de criação de vagas nos Estados Unidos em setembro tenham sido menores do que em agosto – o payroll divulgado nesta sexta-feira pelo Departamento de Trabalho mostrou a abertura de 263 mil vagas em setembro, ante 315 mil no mês anterior – o mercado de trabalho continua aquecido e isso vai manter o tom mais duro (“hawkish”) nos discursos dos integrantes do comitê de política monetária.

Para os analistas, o cenário mais provável continua a ser uma decisão de nova alta de 75 pontos base nos juros americanos na reunião de novembro, e outra de 0,50% em dezembro.

O banco de investimento JP Morgan diz em relatório que o crescimento ainda sólido do emprego, em combinação com uma queda na taxa de participação, não aponta para um grande relaxamento no mercado de trabalho.

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“Continuamos a ver o atual ambiente de dados fornecendo pouco espaço para um ‘pivot ‘(mudança) do Fed para um ritmo mais baixo de aumentos de taxas no curto prazo, em particular à luz de nossas expectativas de outra leitura forte no CPI da próxima semana”, comentou o banco.

Nível pré-pandemia

Gustavo Sung, economista chefe da Suno Research, lembra que taxa de desemprego recuou novamente para o nível pré-pandemia. “Será difícil conciliar uma queda mais sustentada da inflação com um mercado de trabalho ainda bastante aquecido. A taxa de desemprego em 3,5% e os salários crescentes revelam que a demanda seguirá como um fator de pressão sobre os preços”, prevê.

Para ele, os dados vão levar o Fede a manter o atual ritmo de sua política monetária. “Isso eleva as chances de mais um aumento da taxa de juros em 75 b.p. na próxima reunião, em novembro.”

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Pata Thiago Motta, analista do BTG Pactual, o indicador foi puxado pelo setor de serviços, especialmente lazer, educação e saúde no período de verão. Isso mostra um mercado de trabalho ainda aquecido, o que corrobora o último dado do ISM, divulgado na quarta-feira (5).

“A consequência é que os membros do Fed devem manter o tom ‘hawkish’ em suas comunicações, com pouco espaço para algum tipo de afrouxamento”, comenta Motta. O fruto siso será a continuidade do fortalecimento do dólar frente a outra moedas – pelo diferencial de juros – e quedas para os ativos de risco.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, vai na mesma linha de raciocínio. “(O payroll) teria que desacelerar bem mais para rever planos do Fed. Não entendo que é suficiente para revisar os 0,75% sinalizados para novembro,  0,50% em dezembro”, afirma. Para Cruz, os dados teriam que ser muito mais fracos para corroborar o pedido do mercado para uma taxa de  juros menor.

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Victor Benndorf, da Benndorf Research, destaca que o Fed continuará com sua estratégia e comunicação atuais independentemente dos dados de curto prazo, como o payroll. “O Fed vai continuar apertando o freio e afetando a economia. Os Estados Unidos estão em pleno emprego”, destaca.

Ele explica que as empresas americanas passaram meses sem conseguir contratar e não vão começar a demitir agora porque o custo de aquisição de um empregado nos EU está muito alto.