Bancos diminuem projeções para a economia por efeito coronavírus: qual o impacto para o PIB do Brasil?

Coronavírus enfraquece balança comercial do Brasil, mas não derrubará o crescimento da economia

Ricardo Bomfim

(Foto: Ansa)

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SÃO PAULO – Grande “cisne negro” deste início de 2020, o coronavírus bateu forte no mercado, derrubando as bolsas mundo afora quando começaram a eclodir os casos. Com mais de 24 mil pessoas contaminadas e 490 mortos, o vírus causa temores de uma pandemia que teria impactos nefastos na economia da China especificamente, e do mundo como um todo por reflexo diante do tamanho e importância do país no comércio global.

Os analistas do Morgan Stanley preveem que o impacto no crescimento global virá do desaquecimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China. As consequências mais óbvias de uma China mais fechada e com uma atividade econômica menor são a redução do volume de comércio exterior realizado com o país e uma brusca retração no turismo. Vale lembrar que 7% de todos os fluxos internacionais de turistas são de chineses para outros países ou de viajantes para a China.

Para os analistas Edward Teather e William Deng, do UBS, o PIB chinês deve se expandir 5,4% em 2020, uma revisão para baixo em relação aos 6% esperados anteriormente.

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“A demanda doméstica da China, em particular o consumo, deve ser afetada, e isso deve impactar as tendências globais no resto do mundo por meio de uma desaceleração nas importações chinesas”, destacam os analistas Chetan Ahya, Derrick Kam, Nora Wassermann, Frank Zhao, do Morgan Stanley.

A oferta também seria afetada, uma vez que a produção das empresas chinesas está parada. As grandes indústrias e companhias do país estão proibidas de retomarem atividades até o dia 10.

Em meio a esse cenário, os economistas também se debruçam sobre o impacto para a atividade brasileira, que ainda está em lenta recuperação. Diversos bancos revisaram nesta semana a projeção para a economia nacional levando em conta os efeitos da doença, já que o gigante asiático é o principal parceiro comercial do Brasil e também exerce grande influência sobre os preços das commodities.

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Com isso, o banco suíço UBS reduziu a sua estimativa para o crescimento do PIB brasileiro de 2,5% para 2,1% em 2020. O BNP Paribas, por sua vez, apesar de não revisar propriamente as estimativas para a economia, apontou que há um “viés de baixa” para não haver o crescimento de 2% como previa anteriormente. Para eles, os setores de agricultura e de agroindústria podem ser mais impactados pelo canal direto, via preços de commodities, afetando a margem do setor como um todo.

Nesta quarta, o Bank of America reduziu a projeção de 2,4% para 2,2% no ano levando em conta, além da desaceleração da China, os dados de atividade do Brasil, que apresentam “sinais mistos” (como foi o caso da produção industrial abaixo do esperado de dezembro).

A consultoria macroeconômica Pantheon Macroeconomics, por sua vez, cortou a previsão para o PIB deste ano de 2,2% para 2,1% olhando principalmente para os dados da economia nacional, apontando que o efeito do coronavírus sobre a economia brasileira ainda carece de informações. “O vírus pode prejudicar o crescimento do PIB no 1º trimestre, mas serão necessários os indicadores de fevereiro para se traçar
um cenário claro”, apontou o economista-sênior para área Internacional da Pantheon, Andres Abadia, para a Bloomberg.

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Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, afirmou que o efeito mais óbvio para a economia brasileira se dará via balança comercial do primeiro trimestre, que vai sofrer com a queda nos preços das commodities. Contudo, Campos Neto não acredita em transmissão direta para o PIB de 2020, vendo impactos mais localizados e concentrados no primeiro trimestre.

O economista ressalta que mineração deve ser o setor mais afetado, enquanto Óleo & Gás e agronegócio teriam perdas mais limitadas. “O coronavírus não irá mudar os hábitos de consumo nem a necessidade de se fornecerem alimentos na China”, avalia.

“Não incorporamos ainda em atividade nenhuma mudança. Precisa avaliar a magnitude e duração desse surto. Se ele se prolongar as possibilidades são maiores de ser necessária uma revisão nas projeções do PIB”, explica. A Tendências espera que o PIB brasileiro cresça 2,1% este ano.

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Já a equipe de análise da Western Asset elogia que a seriedade com a qual a China vem tratando o caso e a celeridade das medidas tomadas. “Embora reconheçamos a gravidade e a fluidez do atual surto, entendemos que as respostas rápidas do governo chinês para conter a situação são encorajadoras”, defendem os analistas.

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Para a Western Asset, o impacto no crescimento global do surto de coronavírus será significativo, mas de relativa curta duração. “A China possui múltiplas ferramentas de política econômica, incluindo flexibilização fiscal e cortes nos índices de reservas bancárias, para amortecer o choque agudo na atividade do setor real no primeiro semestre deste ano”, escrevem os analistas em relatório.

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Nos últimos dias, o banco central chinês fez duas grandes injeções de liquidez de US$ 175 bilhões e depois de US$ 71,2 bilhões.

Silvio Campos Neto acredita que o país pode estimular ainda mais a economia para mitigar os efeitos econômicos do coronavírus. “Outras medidas certamente virão nas próximas semanas. Deve haver suporte de liquidez aos mercados, investimentos públicos e expansão dos estímulos, concentrando esses movimentos no primeiro trimestre.”

Viagens em baixa

No caso do turismo, as grandes agências de viagens e companhias aéreas certamente serão as mais impactadas. “Em analogia com episódios passados de natureza similar, fluxos de turistas devem ser afetados e os negócios relacionados com o turismo tendem a ser os que mais vão sofrer, já que são impactados por períodos mais longos e a retração não deve ser totalmente “, aponta a equipe do Morgan Stanley.

O UBS projeta que os turistas chineses viajarão 30% a menos em 2020, sendo que no primeiro trimestre a queda seria de 60%. “A implicação disso é uma pressão negativa em turismo, comércio, produção e confiança nos demais países da Ásia.”

Neste cenário, uma das esperanças de que a economia global não seja tão impactada é o desenvolvimento de novas medidas para conter o vírus (como o desenvolvimento de uma vacina no Reino Unido), o que vem animando o mercado. Caso a contaminação seja contida, os efeitos para a economia mundial e, consequentemente, para a brasileira, serão bem menos significativos.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.