Banco Central e Federal Reserve adotam postura mais “hawkish” do que o esperado, mas o que isso quer dizer?

Copom eleva juros e deixa porta aberta até para acelerar aperto monetário, enquanto Fed antecipou debate sobre alta de juros

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A última quarta-feira (16) foi movimentada para os mercados, principalmente em meio às recentes decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos.

A avaliação é de que, principalmente com atenção à inflação, tanto o Comitê de Política Monetária (Copom) quanto o Federal Open Market Committee (Fomc) tiveram decisões consideradas “hawkish”, termo derivado da palavra falcão em inglês (hawk) e define os defensores de juros mais altos e de uma política de austeridade mais forte. A postura oposta é a “dovish”, neologismo que deriva da palavra pombo em inglês (dove), que reflete uma postura mais favorável a taxas de juros mais baixas e menor preocupação com a inflação.

No Brasil, o Copom do Banco Central atuou em linha com o esperado pelos investidores ao elevar a Selic em 0,75 ponto percentual para 4,25% ao ano, na terceira alta seguida. Mas, apesar de manter a menção de uma nova alta de juros na mesma magnitude na próxima reunião, de 3 e 4 de agosto, sinalizou que poderia ocorrer uma elevação ainda maior de 1 ponto percentual, mostrando preocupação com a alta da inflação no país.

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O comitê disse que “antevê a continuação do processo de normalização monetária com outro ajuste da mesma magnitude” (ou seja, 0,75 ponto), mas acrescenta que “uma deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante pode exigir uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários”. Ou seja, aceleração no ritmo de altas da Selic.

Também destacou que a recuperação da economia mundial segue robusta, mas apontou os riscos inflacionários. Já no ambiente doméstico, destacou a força da retomada em curso, que levou a revisões relevantes nas projeções de crescimento. Com relação à inflação, o Copom alertou para a persistência da pressão inflacionária, mostrando preocupação com os efeitos secundários do choque atual – ou seja, com a elevação de alguns preços se disseminando para os demais.

“Este ponto é chave no comunicado, pois, a nosso ver, é o risco desses efeitos secundários que irá determinar os próximos passos da política monetária”, destaca a equipe de análise econômica da XP.

Em meio ao quadro de elevação da inflação e de recuperação mais forte da atividade, o Copom retirou a menção de sinalização de ajuste “parcial” nas condições monetárias, e passou a dizer que o seu plano de voo agora é levar a taxa Selic para “seu patamar neutro” (que, na avaliação da XP, é de cerca de 6,5%).

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A XP destacou que a decisão da véspera é consistente com o cenário de aumento da taxa Selic para 6,50% no final deste ano, com elevações adicionais de 0,75 ponto nas duas próximas reuniões do Copom e uma desaceleração no ritmo de alta dos juros mais adiante.

Já o Credit Suisse revisou a projeção de três aumentos de 75 pontos-base para quatro consecutivos de 75 pontos-base, com a Selic chegando a 7,25% no inicio de dezembro. “Acreditamos que o BC vai ter que subir a taxa para um nível acima do patamar neutro para conseguir ancorar a inflação para o centro da meta em 2022. Não descartamos três aumentos de 100 pontos-base dado que o BC condicionou a aceleração do ritmo a uma maior deterioração na expectativa de inflação”, avaliaram os economistas Solange Srour e Lucas Vilela.

Confira a análise sobre a decisão do Copom abaixo: 

No mesmo dia, horas antes nos Estados Unidos, o Fomc, o comitê de política monetária do Federal Reserve, manteve os juros a patamares baixos, entre 0% e 0,25%. Apesar de, num primeiro momento, não ter havido nenhuma novidade na decisão, o Fed mostrou uma mudança importante também em seu comunicado divulgado após a reunião.

A surpresa ficou por conta do chamado “gráfico de pontos”, que traz as projeções dos dirigentes da autoridade monetária para a evolução dos juros americanos. A mediana das expectativas agora aponta para duas elevações na taxa de juros até o final de 2023 (o consenso de mercado esperava sinalização de uma alta). Na reunião do Fomc realizada em março, o “gráfico de pontos” não previa aumento antes de 2024.

Dentre os 18 presidentes dos bancos centrais regionais que compõem o Comitê, 13 esperam alta de juros até o final de 2023, sendo que 7 passaram a prever o início do ciclo de aperto monetário em 2022. Já na reunião de março, 7 participantes indicavam elevação de juros até o final de 2023 e 4 projetavam início do ciclo de alta em 2022.

Já a projeção do Fed para a variação do núcleo do PCE em 2021, ou o deflator de despesas de consumo pessoal, medida de inflação preferida do banco central americano, subiu de 2,2% para 3,0%. Contudo, destaca a equipe de análise da XP,  as expectativas para o indicador em 2022 e 2023 praticamente não tiveram alterações – por exemplo, a previsão para a alta do PCE em 2023 ficou estável em 2,1%, reforçando que a autoridade monetária dos EUA avalia o choque inflacionário atual como transitório. O Fomc também elevou a projeção de crescimento do PIB em 2021, de 6,5% para 7,0%.

Depois do comunicado, a XP ainda destacou que acredita que o processo de redução gradual das compras líquidas de ativos por parte do Fed (ou tapering) começará no primeiro trimestre de 2022, mas reconhece que a probabilidade de início no quarto trimestre de 2021 (mais precisamente em dezembro) aumentou significativamente no período recente.

A equipe de análise aponta que o cronograma do processo de remoção desses estímulos seja comunicado pelo Fed na conferência de banqueiros centrais a ser realizada em agosto (Simpósio de Jackson Hole). A XP espera que o início do ciclo de alta de juros nos EUA ocorra no terceiro trimestre de 2023 (antes, a projeção da equipe de análise econômica era de início no primeiro trimestre de 2024).

Em discurso, Jerome Powell, chairman do Fed, alterou “parte” da perspectiva de temporariedade dos eventos e cita a velocidade de recuperação da economia americana como fator de decisão para o início da retirada de estímulos, o que ocorreria dentro do espectro de tempo anteriormente projetado, ou seja, final de 2023, conforme destaca Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

Ou seja, depois de ontem, a expectativa é de aperto monetário, e de forma mais rápida, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.

Cabe ressaltar que, apesar da sinalização também de aperto nos EUA, a sessão é de queda para o dólar: às 15h35 (horário de Brasília), o dólar comercial caía 0,72%, a R$ 5,023 na compra e R$ 5,024 na venda, com os estrangeiros buscando o chamado carry trade, ou ganhos com o diferencial de juros entre os EUA (mais baixos) e no Brasil (mais alto, com expectativa de ir ao juro neutro até o fim do ano).

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.