Ata do Copom: comitê vê sinais de atenuação da desaceleração da atividade

Segundo a ata, o ritmo da atividade pode sofrer impacto do aumento da renda das famílias, como reflexo da elevação do salário-mínimo, de benefícios sociais e do mercado de trabalho mais resiliente

Roberto de Lira

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A inflação ao consumidor no Brasil segue a trajetória esperada de desinflação e atividade econômica doméstica se mantém no processo de desaceleração da atividade como esperado pelo antecipado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil. No entanto, há elementos que permitiriam observar, nos próximos meses, uma atenuação da desaceleração da atividade, o que justifica ser apropriado adotar uma postura de cautela. A avaliação está na ata da reunião do Comitê realizada no dia 31 de janeiro e divulgada nesta terça-feira.

Na semana passada, o Copom decidiu manter o ritmo de corte de 50 pontos-base na taxa Selic. A taxa passou de 11,75% para 11,25% ao ano.

Segundo o documento, o ritmo da atividade pode sofrer impacto do aumento da renda das famílias, como reflexo da elevação do salário-mínimo, de benefícios sociais e do mercado de trabalho mais resiliente. Os membro do Copom citaram que alguns indicadores de alta frequência permitiriam uma leitura que corroboraria esse argumento.

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“Todos os membros do Comitê, no entanto, concordaram que o cenário-base do Comitê segue sendo de desaceleração gradual do crescimento econômico, com resiliência no consumo das famílias e menor dinamismo na formação bruta de capital fixo. Em suma, os dados de atividade divulgados desde a última reunião corroboram o cenário delineado pelo Copom e não houve alteração substancial sobre o cenário de crescimento”, pondera a ata.

Sobre o cenário externo, a avaliação é que a conjuntura internacional segue volátil, marcada por renovadas tensões geopolíticas e pelo debate sobre o início do processo de flexibilização da política monetária nas principais economias.

Mas o Comitê relembra no texto da ata que não há relação mecânica entre a condução da política monetária norte-americana e a determinação da taxa básica de juros doméstica.

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“Como usual, o Comitê focará nos mecanismos de transmissão da conjuntura externa sobre a dinâmica inflacionária interna”, diz o texto.

Ainda sobre o ambiente global, após reconhecer uma melhora no quadro inflacionário corrente, o Copom mantém a avaliação de que é apropriado adotar uma postura de cautela, principalmente em países emergentes. “Além disso, o Comitê continuará acompanhando os diversos dados da economia global e seus respectivos canais de transmissão para a economia doméstica.”

O Copom ainda reforçou o recado de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e de disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, “com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”.

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Para o Comitê, as expectativas de inflação seguem desancoradas e são um fator de preocupação. “O Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira”.

Com relação aos próximos passos, o documento diz que os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.

“Tal ritmo conjuga, de um lado, o firme compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária e, de outro, o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência.”

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No parágrafo sobre a decisão de política monetária, e lembrado que a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, “demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”.

“O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. “